Luanda - Integra do Discurso do Presidente da UNITA  Isaías Samakuva aos Membros do Comité Permanente   reunidos em Luanda


Caros Membros do Comité Permanente do nosso Partido,
Prezados Companheiros,


Nesta primeira metade do ano que ainda decorre aconteceram vários factos que certamente influenciarão de uma forma bastante marcante a história do Continente Africano.



O nosso país, também, registou uma alteração significativa na maneira como os dois Blocos do poder avaliam a situação política.  Pela primeira vez o Senhor Presidente da República de Angola veio a público manifestar como encara a natureza do poder que detém e como encara os angolanos, a pobreza, a democracia e os resultados da sua governação. Pela primeira vez, também, nós vimos os angolanos a manifestarem-se. Mesmo perante a repressão, a violência do regime, os angolanos saíram à rua e praticamente disseram que estão a perder o medo, estão a perder a paciência. O agravamento da pobreza extrema, o incremento das violações dos direitos civis e políticos dos cidadãos, pelo Partido - Estado, a má governação e o movimento revolucionário no norte de África, constituíram as principais determinantes desta alteração.



Surgiu também pela primeira vez a greve de fome a que se seguiu ao primeiro inquérito parlamentar desta legislatura. Curiosamente, um direito do cidadão foi transformado em crime e os deputados que deviam defender o povo, deviam defender os direitos constitucionais aceitaram incriminar um colega que pela primeira vez quis, de facto, exercer um direito de cidadania, mas também cumprir com aquilo que devia ser a obrigação dos deputados.


Ora, nós verificamos também uma certa evolução na forma como o regime se comporta.
Nós podemos dizer que a tendência de regressar ao regime monolítico é patente, a violação dos direitos humanos é constante e apesar das denúncias que se fazem o regime continua na sua linha e como disse, aumentando a tendência de regressar ao sistema de partido único.


Em vez, portanto de reforçar as conquistas, de fortalecer as conquistas que o povo já conseguiu, durante estes últimos anos, nós vemos que o próprio Executivo viola a Constituição que ele próprio formulou e aprovou.  Diante deste quadro, eu acho que temos de parar um pouco e fazer uma reflexão profunda.



Nós verificamos que se os detentores do poder, aparentemente, parecem ir ao encontro do povo na prática eles estão mais distantes, cada vez mais distantes do povo. Vão ao povo, escutam as lamentações, a falta de água, a falta de energia, a falta de hospitais, a falta de escolas, a falta de condições, a falta de tudo. Mas eles saíem deste contacto e comportam-se da mesma forma.  Creio que o Partido (UNITA), face a essas situações todas, precisa, não só de adequar a sua estratégia de luta politico-eleitoral à nova realidade, mas, especialmente, garantir a sua eficácia.



Creio que perante este quadro todo que é grave, configura uma alteração grave, o Partido (UNITA) precisa de decidir sobre a adopção de uma nova estratégia, e, isto, creio se faria melhor numa reunião Magna do Partido. Esta reunião Magna do Partido, nos termos dos Estatutos é o Congresso.


Na última reunião da Comissão Politica levei esse assunto à Comissão Politica do nosso Partido, o órgão que do ponto de vista estatutário deve se pronunciar sobre esta matéria.


Escutei com toda atenção as posições que a maioria dos membros da Comissão Politica apresentaram, em representação das áreas onde se encontram. Creio que esta reunião que é do Comité Permanente não pode contrariar, do ponto de vista estatutário, aquilo que a Comissão Politica decidiu, mas acho que este órgão deve, pelo menos, recomendar que a próxima reunião da Comissão Politica volte a debater este assunto.


A nossa reunião de hoje vai procurar inovar os nossos métodos de trabalho no que diz respeito à condução deste tipo de reuniões, vamos fazer tudo para que esta reunião dure apenas um dia.


Vamos ouvir o Relatório do Secretariado Executivo do Comité Permanente e avaliar o grau de implementação das recomendações da última reunião deste órgão.


Ao nos debruçarmos sobre o Relatório, solicito que tenham presente o que acabei de dizer.


Gostaria que esta minha sugestão fosse tida em conta e acabemos por recomendar a Comissão Política uma decisão adequada sobre a realização do Congresso antes do fim deste ano.


Declaro, assim, aberta a Reunião ordinária do Comité Permanente da Comissão Política.