Joanesburgo -  É comum os analistas e estudiosos da Políltica Internacional tentarem predizer o futuro do sistema Internacional. No seu clássico, The End of History and The last Man (O Fim da História e o Último Homem), Francis Fukuyama, especialista americano de Relações Internacionais e Economia Política Internacional, avançou a tese de que o período que se seguia apôs a queda do murro de Berlim e o subsequente colapso do Bloco Soviético, os sistemas políticos liberais (Democracias) e as economias de Mercado (Capitalismo) seriam as linguagens políticas e económicas predominantes na vida política Internacional. A universalização dos valores democráticos ocidentais seriam, no entanto, a última forma de governação humana. Era o fim da Guerra das ideias.


Fonte: Club-k.net


O eventos internacionais que se seguiram na América Latina, partes da Ásia e sobretudo a onda de democratização que tiveram lugar em diversos  países da África na década de 90; avanços no multipartidarismo, eleições, criação de Partidos Políticos, a transição na África do Sul, parecem, de facto, terem confirmado o vaticínio de Francis Fukuyuma na qual o sistema internacional  da era pôs Guerra Fria seria, na verdade, um sistema de paz relativa, de expansão das economias de mercado e de grandes  avanços democráticos em todo o mundo.



Em 1993, Samuel Huntington, académico conservador, professor de Ciência Política e Relações Internacionais da Harvard University, autor do The Clash of Civilizations and the Remaking of World Order( O Choque das Civilizações e a Recomposição da Ordem Global), avançou a ideia de que o fim da Guerra Fria  seria um período não de paz relativa e expansão de regimes democráticos como tentou fazer crer  a obra de Fukuyuma, mas sim de grandes conflictos internacionais entre nações de diferentes origens culturais. Os admiradores desta teoria apontaram  para os ataques de  11 de Setembro e a Guerra global contra o terrorismo como uma declaração aberta da Admistração Bush e da América contra o mundo Islâmico e, obviamente, como sinais de suporte das ideias de Huntington. Seguiram-se o bombardeamento do Afganistão pelas forças americanas e suas tropas aliadas da OTAN e depois a invasão e ocupação do Iraque e, num ângulo não menos distante, as torturas e abusos da CIA na prisão de Guantánamo Bay, de prisoneiros de origem maioritariamente árabe e muçulmana.



Em 2008, Fareed Zakaria, analista liberal de Relações Internacionais e Política Externa Americana, também formado em Harvard, analisou o actual sistema internacional na sua obra The Post American World and The Rise of the Rest ( O Mundo Pôs-América e a Ascensão do Resto). O autor analisa o crescimento de várias economias emergentes como o Quénia, Brazil, África do Sul, Rússia, Índia e sobretudo a China e o significado e as implicações que estas dinâmicas representam para o poderio e a  influência americana no mundo. Para Fareed Zakaria, a característica principal do sistema internacional no período que se seguiu ao 11 de Setembro seria precisamente esta tendência : o crescimento de novos centros de poder económico em diferentes partes do globo, fora dos Estados Unidos e da Europa, em zonas remotas e periféricas  deste sistema, então dominado  pelos países do ocidente. A ascensão dos países do leste asiático e sobretudo da China e de outras fronteiras económicas representam uma nova era na Política Internacional. Não o do declínio da América mas sim da “Ascensão do Resto”. Este mundo, resultado da expansão e globalização  de ideias sobre democracia, competição, economias de mercado, Direitos Humanos, tecnologias de informação e de produção, consumo massivo de bens e serviços, mercados financeiros e de liberalização de sistemas políticos em várias partes do mundo, representam uma relativa establidade no mundo e enormes  avanços  dos  grandes valores ocidentais porque América lutou durante muito tempo, primeiro na Segunda Guerra Mundial e depois na era da Guerra Fria (descolonização, liberdades civis, economias de mercado,etc).



O que isto representa para a Política Externa de Angola?



Durante quase três décadas, as iniciativas diplomáticas e os engajamentos externos de Angola estavam ligados aos esforços que visavam pôr fim ao conflicto em Angola; na normalização e establização da economia nacional, na restauração da Paz e da autoridade do Estado; visto que as forças rebeldes da UNITA de Jonas Savimbi controlavam cerca de 70% do território nacional; na prevenção do colapso do Estado como aconteceu na Somália. Ora, estavámos no auge da Guerra Fria e as decisões governamentais no domínio da Política Externa operavam sob a lógica desta batalha ideológica.



No contexto das Relações Exteriores em África, os esforços governamentais nas relações internacionais centravam-se na contenção da expansão do regime do Apartheid da África do Sul e suas respectivas tentativas de ocupação militar de Angola, na desocupação militar e Independência incondicional da Namíbia, o que culminou com o Tratado de Windhoek, na criação da SADC em 1992 e na transição democrática na África do Sul.



Com o fim da Guerra Fria, a transição da economia socialista à economia de mercado, a implementação do sistema multipartidário em Angola com as eleições de 1992, o fim do Apartheid e a Independência  da Namíbia, e sobretudo com o fim da Guerra Civil em 2002, e o acelerar da globalização, Angola terá de estudar e perceber as constantes mudanças presentes na Política Internacional. No domínio da segurança e defesa nacionais, os grandes desafios prendem-se, em minha opinião, na persistência da Guerra no enclave de Cabinda que a actual administração teima em ignorar e na eventual polarização deste conflicto e o possível alastramento internacional. Aliás, o conflicto já está atrair atenções internacionais, sobretudo depois do incidente com a Selecção do Togo na Taça das Nações em Janeiro de 2010, e numa dimensão menos perigosa,   o conflicto na República Democrática do Congo e as suas potenciais manifestações em Angola e suas implicações para estabilidade política e económica, como aconteceu com muitos dos rebeldes envolvidos no genocídio do Ruanda e que hoje encontram-se envolvidos numa série de crimes e actividades de destablização da RDC.



O Presidente do Centre for Conflict Resolution na África do Sul, Adekeye Adebajo, escreve em seu The Curse of Berlin: Africa After The Cold War, publicado em 2010, que o governo de Luanda tem sabido diversificar a sua dependência externa com os Estados Unidos, China, França e outros países ocidentais a operarem em Angola, ao não permitir que as suas empresas controlam totalmente o seu mercado de petróleo, dando a Luanda uma certa influência entre as empresas americanas e chinesas a operarem em Angola. O autor acrescenta que Angola esta destinada a ser uma potência em África. É o Segundo maior produtor de petróleo em África, o maior parceiro económico da China no continente e talvez, o único país africano com uma balança comercial disproporcionalmente favorável com o gigante asiático.



Em Março de 2006, durante curto tempo, Angola era o maior exportador de petróleo a China. No mesmo período, 45% das exportações do petróleo nacional foram destinadas a China, o equivalente a 15% do total das importações chinesas em todo mundo e o total  das exportações  Angolanas à China num total de 10.9 bilhões de dólares.



Entretanto, é importante perceber que a Política Externa é apenas uma dimensão da Política Interna. As reformas em curso em Angola; economia, transportes e sobretudo a estabilidade do processo político devem acompanhar as grandes mudanças correntes na vida Política Internacional. As revoluções populares no Magrebe: primeiro na Tunísia e depois para o Egipto, Marrocos, Líbia e que mais tarde alastrou-se para o Médio Oriente, são acima de tudo indicações de fenómenos bem elaborados por Francis Fukuyama e sobretudo na obra de Fareed Zakaria. As grandes revoluções estariam precisamente dentro destas grandes dimensões: a expansão de ideias de democracia, liberdade, economia (o caso de Cabinda), tecnologias de informação (a revolução no médio e o papel do facebook), etc.



Espero,pois,  que os analistas  e os estrategas da Política Externa,  Diplomacia e Relações Internacionais de Angola estejam a acompanhar estas dinâmicas da Política Internacional com atenção e  muito interesse.


ARISTIDES CABECHE (Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.), Analista de Relações Internacionais