Luanda - A galeria de Maio, no interior da União Nacional dos Artistas Plásticos (UNAP), em Luanda, acolhe, a mais recente exposição individual da pintora Clara Monteiro, com uma série de catorze obras que marcam a sua passagem pelo mundo das artes plásticas.


*Vladimir Prata
Fonte: O pais



http://www.opais.net/resources/images/2009pais/edicao_134/pais_134_lr_118.jpgNa verdade, a maioria das pessoas deve desconhecer este lado da artista que durante muitos anos se notabilizou no seio da música angolana.



Alías, a própria Clara Monteiro reconheceu, em entrevista ao jornal O PAÍS, que pouca gente sabe que ela vive uma intensa paixão pela arte de pincelar desde muito cedo, apesar das muitas vezes que tem aparecido em exposições colectivas realizadas um pouco por toda cidade capital.



A artista confessa, inclusive, que a sua queda pelas artes plásticas é mais antiga do que a paixão pela música, modalidade artística com que se deu a conhecer ao mundo do show buzz.



“Esta exposição, de certa forma, é para mim uma espécie de retrospectiva, já que venho a pintar há muitos anos, desde criança apesar de começar mais seriamente como membro da UNAP a partir de 1979 e muita gente não sabe disso”.



Clara Monteiro disse que não é muito dada à realização de exposições individuais, referindo: preciso de viver, e normalmente quando pinto, vendo logo os meus quadros.



Daí o facto de aparecer várias vezes em exposições colectivas, a última das quais realizada em Março, na Galeria Celamar, no âmbito do projecto “Amostra Mulher”, levado a cabo por ocasião do mês da mulher.



Esta, porém, não é a primeira exposição individual da artista, sendo que a mais recente aconteceu no Museu Municipal de Vouzela, em Viseu, Portugal, em Abril de 2003, para além doutras realizadas nos finais dos idos anos 80.



Quanto às exposições colectivas, há a realçar ainda algumas como a “Conferência das Mulheres Etíopes” (1990) e a Expo Portugal (1998). Em Luanda, deu o seu contributo na execução de pinturas nos muros dos viadutos (pontes) construídas pelo então Ministério das Obras Públicas.



Entretanto, e apesar de almejar um vasto currículo nas artes plásticas, Clara Monteiro considera-se uma pessoa tímida neste capítulo.

“Ás vezes, quando estou a pintar ou quando acabo um trabalho novo, fico a pensar: será que está bom, ou não? E depois acabo ficando com receio de expor. Mas mesmo assim vou vendendo várias obras”, disse, referindo que o facto de estar a ficar “mais kota” também tem contribuído para que tenha mais coragem de aparecer.


Obras que remontam dos anos 90




Catorze quadros de Clara Monteiro, com dimensões variadas (alguns médios, outros mais ou menos grandes), preenchem as paredes da Galeria de Maio desde ontem até ao próximo dia 16.



Recorrendo à técnicas como óleo sobre tela e acrílico, a artista apresenta nesta amostra obras que remontam dos anos 90 (a mais antiga foi pintada em 1993) e outras pintadas muito recentemente (a mais nova foi pintada há uma semana), mas que transmitem a mesma alegria de sempre.



Enaltece a música, sua segunda paixão artística, desde o mais tradicional (realçando a marimba, o kissanje) ao mais contemporâneo (com destaque para o violão, o saxofone e outros instrumentos modernos). Razão que leva o crítico de arte Simão Souindoula a afirmar que a artista “reporta, com carinho pictural, as suas declinações temáticas musicais em telas sobre óleo e acrílico”.



Doutro ângulo, pinta a mulher, ora kitandeira (hoje zungueira), ora camponesa, que no calor do seu trabalho não deixa de esboçar um sorriso no rosto.



Numa das suas obras, revela a adimiração que nutre pelo Poeta Maior, António Agostinho Neto, com extratos de um poema, “À Maria Eugénia”, escrito na cadeia da PIDE, no Porto, no longínquo ano de 1955. Alías, Clara há muito já tinha demonstrado esta mesma admiração pelo primeiro Presidente de Angola, na canção “Neto poeta”, interpretada nos anos 80.



A artista revela uma certa versatilidade na pintura, já que prefere não se prender numa única corrente. É assim que na exposição patente na UNAP aparece com o realismo, mas não poucas vezes traz também o surrealismo, com imbondeiros que tomam a forma de humanos e roubam o sorriso da mulher. O místico está, por isso, presente.



Ana Paula Santos, professora universitária, refere que quando se fala de Clara Monteiro, “forçosamente, falamos de seriedade, beleza, encantamento e algum mistério”.



“Sinónimo de simplicidade, a pintura da Clara Monteiro é um misto de cores, ritmo e cheiros figurativos da terra que a viu nascer.


Uma paixão bem cultivada




A artista considera que a paixão pela pintura vem desde que era uma miúda, referindo que é um gosto que herdou dos seus progenitores. Conta que o seu pai, arquitecto, também gostava de pintar e desenhar, assim como a sua mãe cultivava o mesmo gosto, assim como trabalhava o barro. Para além dela, o irmão mais velho também herdou a mesma paixão. Membro da UNAP desde 1979, frequentou, no mesmo ano, o curso de Instrutora de Artes Plásticas. Fez igualmente o curso médio de Artes Plásticas no INFAC, tendo concluído em 1994. Mais tarde, licenciou-se em História pela Faculdade de Letras e Ciências Sociais.



Realizou a sua primeira exposição individual em 1988, no hall da Rádio Nacional de Angola, para saudar o Dia da Mulher Africana, assinalado a 31 de Julho.



Tem várias participações em exposições colectivas, não só em Angola, como também em Portugal, França e noutras paragens. Nos últimos anos tem marcado presença regular no projecto “Amostra MUlher”, promovido pela Galeria Celamar.


Novo CD em breve



A artista referiu, por outro lado, que está a preparar um novo CD com músicas inéditas e alguns sucessos que marcaram os anos de ouro da sua carreira musical.



Clara Monteiro não quis avançar datas, mas deu a conhecer que o disco, a ser gravado em Luanda, nos estúdios Afonso Quintas, está a ser preparado para agradar a todos os seus fãs, apesar de faltarem patrocínios para que o mesmo possa sair ao público o mais breve possível.