Tema apresentado na conferencia  realizada pela JURA aos  2 de Julho de 2011

Juventude e cidadania

Introdução

Desde já quero agradecer  a direcção da JURA na pessoa do seu   Secretario Geral da  JURA pelo convite que entendo como um desafio para falarmos dos nossos direitos, dos nossos destinos  e das nossas origens como elementos que procuram por uma cidadania que seja respeitada por todos.

 

Quando convidaram me  para Ca estar, lembrei me que foi precisamente a num mês de Julho como este, em que estamos  reunidos em conferencia, morreria num ataque a um carro de linha, junto ao apeadeiro de Kavimbi, em 1970, um jovem como nos,  o Major, David Jonatão Chingunji vulgo "SAMWIMBILA" (soldado na foto ao lado), a quem rendo homenagem. Tinha a fama de ser  um dos mais celebres comandantes da  primeira guerra de libertação e  a data da sua morte ficou conhecida como uma homenagem a causa da JURA, que hoje também  nos junta para dar seqüência ao debate sobre os nossos direitos de  cidadania a que o comandante SAMWIMBILA se inspirou para pegar em armas. No  nosso caso por, os tempos serem outros,  a nossa arma será a nossa voz, a nossa sabedoria mas sobretudo a nossa vontade de seremos patriotas.

 

O conceito de cidadania tem origem na Grécia clássica, e era  então usado  para designar os direitos relativos ao cidadão, ou seja, o indivíduo que vivia na cidade e ali participava activamente dos negócios e das decisões políticas. Cidadania,  pressupunha, todas as implicações decorrentes de uma vida em sociedade.

 

Definição

 

No dizer de Dalmo Dallari,  “A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo do  seu povo.”, isto é  “Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social”

 

No   caso africano,  o conceito de  cidadania esta fortemente ligado a noção dos direitos de liberdade que despertou  a consciência dos   nossos povos para  as  lutas de reivindicação rumo  a independência das antigas colônias.

 

Em África partidos políticos como o  ANC, da África do Sul  e a União dos africanos do Kenya,  tornaram-se nas primeiras estruturas que suportaram o sentimento de cidadania dos nossos povos. O mesmo aconteceu com os movimentos religiosos.  As igrejas na era colônia eram o espaço onde os nativos tinham liberdade e oportunidade  de expor as  questões relacionadas aos seus direitos de cidadania.  Na África do Sul, Winne Mandela quando visitava o esposo na cadeia, este  perguntavam-lhe como estava a Igreja e o que diziam os pastores. A Igreja na linguagem codificada por eles usada, era  o ANC, os pastores eram os seus lideres nas aldeias.


Factores que contribuíram para o  despertar  do sentimento de cidadania

 

Um estudo  avançado indica  que o sentimento de  cidadania funde-se com o nacionalismo africano. Este  sentimento   foi impulsionado  por vários factores ao qual destacamos alguns como,  a segunda guerra mundial,   as  idéias da America no século 18 e a  revolução francesa, a  fundação das Nações Unidas,  educação,  e etc.

 

1-  Segunda guerra mundial –  A pergunta que se faz é:  como foi que a Segunda guerra mundial influenciou os sentimentos de cidadania dos povos africanos? Durante  a segunda  guerra mundial, potencias colônias como França e Inglaterra enviaram para Europa nativos africanos para participarem no conflito. (A França chegou a enviar cerca de 80 mil  africanos  enquanto que a Inglaterra perto de 280 mil.) 

 

Muito destes soldados nunca viajaram antes. Durante a estadia na Europa, passaram a alimentar-se bem, a vestir -se devidamente, e a escutar os  tópicos das principais noticias nas rádios e jornais. Rapidamente ganharam interesse pelos assuntos internacionais e quando  regressaram  a terra natal  passaram a fazer comparação  das condições de vida em África. Estes soldados africanos começaram a   reivindicar os seus direitos de cidadania  conforme aprenderam na Europa.

 

2 - Ideais da America no século 18 e a  revolução francesa – As ideais e conhecimento sobre os eventos políticos na America no século 18 e a revolução francesa passaram a ser publicadas em livros que foram divulgados mundialmente.  Estes livros traziam informações sobre a expulsão dos Ingleses na America tal como a publicação da primeira  declaração dos direitos humanos francesa de 1789 que destaca os direitos da pessoa como cidadão. Estes ideais influenciaram  e inspiraram  aos africanos sobre  os seus direitos de cidadania.

 

3 - A criação das nações Unidas -  Novamente pergunto como é que o surgimento da ONU influenciou para os nossos direitos de cidadania.  Quando as Nações  Unidas foram criadas  por inspiração das  idéias do Presidente norte americano Roselvelt e do primeiro ministro britânico  Wilson Churchill, esta organização multilateral aprovou em 1948 a declaração Universal dos direitos humanos cujo artigo 74 reprovava o colonialismo e defendia o direitos da auto governação  dos povos africanos.  Rapidamente os nacionalistas africanos passaram a apoiar-se  na ONU como um veiculo  defensor dos direitos que eles defendiam. Foi assim que  a 15 de   Marco de 1961, o nacionalista Holden Roberto  enveredou para um revolta militar para despertar a uma reunião da ONU que aconteceria naquela véspera. O seu objectivo era despertar ao mundo a cerca da necessidade de o povo de Angola passar a ter os seus próprios direitos de  cidadania  que eram  na altura rejeitados pelo ditador Oliveira Salazar.

 

4 -Educação -  A educação  dos povos africanos foi   também um dos principais  factores que facilitou  a reivindicação dos  direitos de cidadania dos jovens africanos. O despertar desta consciência começou   no seio de jovens estudantes que foram enviados para freqüentar Universidades européias de entre 1930 a 1940.  (Para se ter uma idéia, só em 1952, havia mais de 5000 estudantes africanos das colônias).  Durante esta época estes estudantes foram formando associações na diáspora e em 1945, organizaram em Manchester na Inglaterra, um congresso africano sob o lema “África para africanos” e o “Independência e autonomia para os negros africanos” . Um destes jovens estudantes, eram  Jomo  Keniatha e Julius Niyeyera. Ao  regressarem  para os seu países assumiram a  liderança da luta pela cidadania e mais tarde tornaram  se independentes.

 

3) A cidadania no  caso angolano  

 

Os direitos de cidadania no caso angolano foram produtos das lutas desencadeadas pelos três principais movimentos de libertação nacional, nomeadamente o MPLA, UNITA e a FNLA.  Após a proclamação da independência  os direitos de cidadania dos angolanos foram introduzidos na Lei constitucional da Republica Popular de Angola que trazia alguns princípios democráticos relativo aos respeito da pessoa e a dignidade humana (ver: artigo 17 a 30).

 

O estado de   cidadania da política contemporânea angolana conheceu três fazes com a introdução de novos elementos da sua lei constitucional. A primeira em 1975, a segundo  em 1991 com a revisão da lei constitucional  por força da abertura do multipartidarismo e por ultima a recente constituição também conhecida por atípicas.  A primeira constituição angolana trazia  alguns elementos fundamentais porem sem mecanismos que efectivassem o cumprimento da lei e dos próprios direitos do cidadão.


Hoje, de acordo com o estudo de dois juristas  (Esteves Hilário e Mihaela Webba), há quanto a esse aspecto,  “uma clara evolução e avanço, pois actualmente o cidadão tem a seu dispor órgãos como o provedor de justiça, a Secretaria de Estado dos direitos Humanos, a nona comissão da Assembléia Nacional – e o Ministério Publico como garante da legalidade do estado”

 

Verifica-se porém  que muito  em embora a constituição  angolana estabeleça os direitos fundamentais das pessoas em termos de cidadania, alguns direitos ainda não são cumpridos ou chegam a ser mesmo desrespeitados, violados  por agentes do próprio Estado através da agressão policial, e inclusive por parte de políticos que intimidam a população. Por isso apela-se que com esta conferencia juvenil se faça um apelo generalizado.


De acordo com  Jonas Savimbi, na VI conferencia da JURA no município do Bailundo, «Se a Pátria que nós almejamos una, estável, progressiva e progressista é para todos nós, essa Pátria é mais para vocês»

Muito Obrigado


Bibliografia
Webba, Mihaela e Hilario Esteves, A constituição da Republica de Angola, direitos fundamentais, a sua promoção e protecção
Evolution of African politics –  Unversity of South  departaments of political science
http://www.advogado.adv.br/estudantesdireito/fadipa/marcossilviodesantana/cidadania.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cidadania