O relatório das Nações Unidas sobre liberdade cultural publicado em 2004, defende o respeito pela diversidade e a construção de sociedades mais inclusivas, adoptando políticas que reconheçam, explicitamente as diferenças culturais.

Uma onda de determinismo cultural começa a subjugar e é gerida por certa classe de angolanos letrados e com influência sobre os meios de difusão massiva. Ainda que sazonalmente tem-se assistido repetidamente a uma imposição de hábitos e costumes adquiridos.

A globalização pode ameaçar a identidade e unidade nacional. A solução não é refugiarmo-nos no conservadorismo e ou no nacionalismo. Impõe-se a concepção de programas multiculturais que promovam a diversidade e o pluralismo de ideias. Este aspecto pode facilmente ser implementado através das escolas, permitindo que a nova geração tenha acesso às raízes antropológicas dos povos de Angola.

As acepções colhidas sobre o tema em análise, não devem ser utópicas. A identidade cultural dos povos deve ser reconhecida e aceite por todos membros da sociedade, e as pessoas devem ser livres na manifestação dos sentimentos intrínsecos em relação aos seus hábitos, costumes, ou seja, ao seu modo de ser sem serem discriminadas ou estigmatizadas no contexto das suas vidas quer a nível profissional, escolar ou social.


A título de exemplo

: enquanto o cidadão da zona urbana sub-jogar o ambundu, ovimbundu, o bakongo, kwanhama por não ter costumes e hábitos urbanos, entenda-se modo de vestir, falar, comer, andar, não podemos falar em unidade nacional e cultural. Neste caso, é preferível educar os cidadãos sobre a pluralidade étnica, facto que permitiria a visualização do angolano no conjunto das suas diferenças culturais, respeitando a unicidade, em outras palavras, aquilo que é comum ao angolano seja ele de Cabinda, Uíge ou Moxico, pois se impõem os traços que caracterizam cada um independentemente da sua zona de origem.

A valoração das etnias é função de todos os membros da colectividade. Cada um de nós, enquanto cidadãos têm a obrigação de transmitir e defender os hábitos e costumes dos povos de Angola. Claro que seguindo o preceito antropológico que nenhuma cultura é melhor que a outra. Assim pode-se falar da liberdade cultural, ou seja, da capacidade que cada cidadão têm de viver e ser o que escolheu.

Em relação a isto, é imperioso perceber-se que a cultura não é um conjunto cristalizado de valores e costumes. O conceito de cultura é muito amplo. Recria-se constantemente à medida que os cidadãos redefinem o seu modo de viver em função da realidade quotidiana e troca de ideais.

Os exemplos do resultado da tentativa de exterminar grupos culturais ou de afastar da esfera social estão a mão de semear. Pensamos que pelas razões morais acima evocadas é preferível aceitar os grupos culturais do que fingir que eles não existem, como tem sido apanágio entre os angolanos.

As nações não têm de escolher entre unidade nacional e diversidade cultural, tal como aponta o relatório das nações unidas sobre liberdade cultural. As duas coisas podem coexistir. Na Bélgica, os cidadãos quando interrogados sobre o tema em análise, responderam na sua maioria que se sentiam tanto belgas como flamengos ou valões e em Espanha os cidadãos disseram que se sentiam tanto espanhóis como catalões ou bascos.

E, no entanto os paises anteriormente citados trabalham arduamente para harmonizar a diversidade cultural existente com intuito de preservar a unidade nacional, alimentado o respeito pelas diferenças e a confiança nas instituições de Estado.

Permitam-me os leitores acrescentar que são necessários para os angolanos programas de sensibilização e educação cívica que divulguem as diferenças multiculturais para sanar as injustiças enraizadas ao longo destes anos e socialmente arraigadas.
 
*Editor de Cultura do Folha8
Fonte: F8