Luanda - Na entrevista que concedeu ao Jornal EME, Aniceto Hamukwaya elogiou “o camarada Presidente José Eduardo dos Santos que apoiou o projecto do Comité renovador da UNITA, que desempenhou um papel decisivo para salvar a democracia em Angola, evitando a proclamação do estado de emergência ou de sitio.”
Fonte: Jornal EME
Na minha família existe democracia
Jornal EME – Qual é o principal motivo que lhe levou a abandonar a UNITA?
Aniceto Hamukwaya - Essa tomada de decisão foi feita conscientemente. Depois de 13 de reflexão, cheguei a conclusão que existe apenas um partido que trabalha para os problemas do povo. este partido chama-se MPLA. o que eu vi na UNITA, é que existe uma política de carreirismo e de politiquices, porque não se vê uma política nacional.
A direcção da UNITA era personalizada, as decisões eram tomadas por uma só pessoa sem consultar ninguém. Mesmo assim fizemos tudo para que a UNITA viesse a razão. Este partido não respeitava as instituições democráticas. Ora veja só: porque que a UNITA não reconheceu os resultados eleitorais de 1992? Este partido não conseguiu provar a comunidade internacional, as fraudes ou irregularidades por ela constatadas. Mas mesmo assim, temos o beneficio da duvida e permanecemos na UNITA.
Quando em 1998 já tínhamos o protocolo de Lusaka, mesmo assim, voltou a guerra. Foi a partir daí que eu tomei consciência do que estava a passar. Essa minha posição de sair da UNITA começou a partir daí. Agora decidi por cobro a essa situação confusa. A falta de clareza na sua política e nos objectivos imediatos, pouco a pouco começaram a fazer perder credibilidade junto da comunidade internacional.
Na sua opinião o que é que esta na base das sucessivas deserções no seio da UNITA, tal como aconteceu há bem pouco tempo, com a senhora Alda Sachiambo, também a antiga chefe da bancada parlamentar da UNITA?
Eu não posso responder em lugar dos outros no seio da UNITA. Cada um é livre de tomar a sua posição ou demarcar-se. Eu tomei a minha decisão e espero que cada um quando chegar a altura de fazer o mesmo, vai abandonar a organização por ter seguido o caminho errado. Essa situação remonta os tempos de Jonas Savimbi. Quando alguns quadros tiveram que abandonar o partido UNITA por seguir uma política muito radical ao ponto de desafiar a comunidade internacional, fizeram o mesmo. O nosso principal aliado que era os EUA, decidiu virar-nos as costas por não ter colaborado na resolução da crise pos eleitoral. Quantas vezes, na altura, as Nações Unidas aplicaram as sanções contra a UNITA por não ter aplicado as pertinentes resoluções por Conselho de Segurança? Por esta razão criamos o Comitê Renovador no seio da UNITA, para salvar a organização perante uma situação embaraçosa em que se encontrava.
A ala belecista da UNITA chegou a cercar a capital do país, Luanda, com o objectivo de tomar o poder, mas em nenhuma ocasião, o Presidente da Republica declarou o estado de emergência ou de sitio. Procurou sempre a encontrar uma solução negociada para o fim da crise e manteve de pé as instituições democráticas.
Mesmo assim este projecto do Comitê Renovador parece que não cumpriu com o seu objectivo?
Quando a UNITA Renovada foi criada, muito dos nossos camaradas combateram nos e pensavam que éramos traidores. Afinal, esta posição foi tomada para provar que havia uma parte dessa organização defendida a idéia militarista que nós combatíamos. Desencadeou-se uma campanha contra nós por parte dos radicais, quando no fundo, se a gente não defendesse aquela posição, a UNITA iria perder os seus lugares no Parlamento e por conseqüência daí ser afastada. Felizmente tivemos o apoio do camarada Presidente, José Eduardo dos Santos que aprovou o projecto do (Comitê Renovador), bem como a iniciativa de continuar a defender a democracia. Porque de resto, muitos não acreditavam que pudéssemos nos rebelar contra a UNITA de Jonas Savimbi que controlava na altura, 60 por cento do território nacional. Não sei se ainda se lembra que o país viveu uma inflação galopante sem precedentes. O nivel de vida tinha subido e Savimbi e seus seguidores, acreditavam que a qualquer momento iriam tomar o poder pela força das armas.
Será que a posição que o camarada assumiu, poderá também ser seguida pela sua esposa, a antiga ministra da Saúde no GURN.?
Essa questão política é muita seria. Na minha família existe uma certa democracia e liberdade de pensamento. A posição que eu e o meu filho tomamos foi independente. Agora se a minha esposa poderá um dia tomar decisão idêntica a nossa, será também por livre consciência. Nunca vivemos um regime ditatorial no meu lar.
Como avalia a pesada derrota eleitoral que a UNITA sofreu nas últimas legislativas?
Era esperada, porque o actual líder da UNITA, Isaías Samakuva é um fiel seguidor da política belicista de Savimbi. Com o actual líder esse partido não vai em lado nenhum.
Eu não posso compreender como é que um partido que tinha obtido 70 lugares nas eleições de 1992, e agora apenas conseguiu 16 assentos no último escrutínio ? Quando isso aconteceu, eu fui a primeira pessoa na UNITA que pediu ao presidente do partido, Isaías Samakuva, a demitir-se do cargo, porque em democracia, a derrota foi pesada.