Luanda -  Mesmo um observador menos atento conclui facilmente que a intenção aqui foi apenas de tentar branquear uma das partes e para não variar, persistir na lógica do linchamento político da outra. Ficamos assim diante de um não acontecimento do tipo da montanha pariu um rato!
 

Fonte: UNITA


A rapidez e a consequente ligeireza com que se procurou abordar um problema que é para todos os efeitos eminentemente politica mas também de grande alcance e profundidade sociológica, um problema tão complexo, foi sobrevoado como um gato passa sobre brasas.


Procurei ler o documento em todas as dimensões e durante bastante tempo mas não consegui entender a lógica do inquiridor.

 

Não conseguiu perceber nem apreender a profundidade e a complexidade do fenómeno que pretendeu inquirir porque ficou pelas manifestações externas e não identificou as suas causas reais; Não esclareceu as dúvidas nem a satisfaz as expectativas que a opinião pública alimentou com a criação desta CPI. Mesmo um observador menos atento conclui facilmente que a intenção aqui foi apenas de tentar branquear uma das partes e para não variar, persistir na lógica do linchamento político da outra. Ficamos assim diante de um não acontecimento do tipo da montanha pariu um rato!

 

Para os que por razões óbvias não saibam, talvez, seja importante hoje e aqui lembrar que este nosso barco vem de longe, desde Alvor, e aproveito tirar o meu chapéu àqueles que estão nesta sala, independentemente da cor política que ostentam, que ainda continuam calmos e serenos a bordo dessa nossa embarcação, apesar de muitas vezes navegarmos num mar encapelado. Umas vezes no rumo certo, outras vezes a deriva, mas sempre para voltarmos a acertar o rumo e continuar.

 

Considero por isso que essas distintas personalidades acumularam o suficiente traquejo para juntos poderem conduzir o nosso velho barco a um porto seguro sem mais sobressaltos.

 

Alguém disse muito recentemente que o tempo das negociações ficou para traz. Em democracia essa pretensão não tem outro nome senão o de monstruosidade, porque de facto a negociação é permanente na forma, variando apenas no conteúdo, de acordo com as circunstâncias. Por outras palavras, e para acalmar alguns, eu quero com isso apenas dizer que em política o diálogo tem de ser permanente.

 

Este exercício que levou tempo e custou o dinheiro do contribuinte teria atingido os seus objectivos se, e só, se tivesse identificado claramente as causas do conflito para que esta casa pudesse dar uma contribuição adequada na procura de soluções a esse tipo de contradições no seio da comunidade. Mais do que pretender fazer um juízo de valores devíamos todos e em conjunto trabalhar para encontramos mecanismos institucionais que possam prevenir o surgimento de conflitos tendentes ao antagonismo.


Eliminar a carga política e ideológica dos órgãos da administração pública, seria um passo corajoso para a criação de um clima de confiança nas pessoas e nas instituições que nos governam.


Gostaria de terminar com um provérbio cá da nossa terra que diz: uhembi wo kepia, kimbo uku landula. Os provérbios não se traduzem mas explicam-se: eu quis apenas dizer que não vale a pena iludirmos o sol com a peneira, devemos sim, aprender não só a coabitar mas também a conviver com as nossas diferenças, pois, ninguém representa todo o povo sozinho, mas todos representamos seguramente muito.