Lisboa - A Nigéria e Angola - maiores produtores Africanos de petróleo - não são bons exemplos de estabilidade política e nenhum pais está imune à crise. A época pós dos Santos em Angola será o fim da era de dominação da elite militar com origem na guerrilha anti colonial que geraram o exército angolano? 


Fonte: pinksblogfreenews.blogspot.com


Mesmo que não se verifique um retorno à guerra civil a pobreza com o nível de abrangência que tem e que tende a agravar-se vai certamente degradar a situação política aprofundando conflitos sócio-políticos já instalados. Portanto é possível e previsível que, nalgum momento da próxima década, Angola mergulhe numa profunda crise institucional.

 

Regista-se essa tendência que, certamente, como efeito directo e inevitável deteriorará a imagem de Angola promovida pelas autoridades,  gerando a aparência "dum país em vias de desenvolvimento". Aparencia que vem sendo oficialmente ostentada e “sustentada por estatísticas  demonstrativas  de crescimento económico” mas que estão em total e flagrante contradição com a estagnação do país em matéria de desenvolvimento humano.

 


O petróleo angolano é extraído em Cabinda por multinacionais dos EUA e da França. Se algum dia as autoridades angolanas quiserem impor novas regras - que nalguma forma e medida importante não sejam favoráveis a essas multinacionais - será elevado o risco dessas multinacionais apoiarem o desenvolvimento e ou mesmo a criação de forças de resistência, visando obrigar as autoridades angolanas a entregar o território Cabindense a essas forças de resistência que reivindicam a independência de Cabinda desde os primórdios da luta contra o colonialismo português.

 

O regime de dos Santos a prazo vai certamente arrepender-se de se ter recusado a um acordo político com os políticos independentistas  cabindenses. A ocupação militar do Enclave de Cabinda, rica e sede das multinacionais que aí operam, pode vir a revelar-se como sendo uma má opção quando novas elites e menos favoráveis ao estado angolano chegarem ao poder no Congo Brazavile e na República Democrática do Congo.

 

Bastara para a RDC encontrar parceiros interessados na exploração de petróleo em suas áreas marítimas do Atlântico - as multinacionais da China, Índia, Brasil ou a Rússia têm grande apetite para a exploração de petróleo e ameaçam reconfigurar a geopolítica da África Central e do Golfo da Guiné.

 

A resistência cabindense já teve o reconhecimento do direito à independência de Cabinda atestado pela Organização de Unidade Africana (OUA) percursora da actual União Africana. É uma resistência político-militar que, mesmo que actualmente seja caracterizada por uma fraca capacidade de combate guerrilheiro, tem tido a capacidade de manutenção da exigência de autonomia e ou da independência de Cabinda.

 

 
Até que ponto e até quando os países vizinhos de Angola aturarão a postura aventureira e militarista do regime angolano que como há muito que é evidente visa adquirir e assegurar mais poder para se consolidar como a potência dominante na região integrada pelos estados do Congo Brazaville, República Democrática do Congo e Angola?

 

Uma região que, note-se, tem interligações territoriais mais vastas e complexas com os estados de S. Tomé, Gabão e Guiné-Equatorial, países também envolvidos nos interesses que o petróleo da região gera.

 

A dinâmica angolana nessa região resulta da sua estratégia económica, política e militar visando a conquista duma posição dominante. Ao mesmo tempo, também, revela o receio que as autoridades angolanas têm dum desenvolvimento geopolítico que gere a insegurança dos seus interesses na região  que, certamente,  teria efeitos na situação interna do regime de dos Santos. Em combinação com esse receio - especialmente após os desenvolvimentos no Norte de África - regista-se o medo crescente que o regime de dos Santos tem do desenvolvimento duma instabilidade institucional resultante dum movimento de exigência cívica e política pelo respeito por direitos e duma distribuição mais justa dos rendimentos do país.

 

Essa combinação de factores que tendem para a gestação e o eclodir de conflitos, indicia que estamos face a uma situação complexa em que o sentido actual da orientação estratégica  das autoridades angolanas dificilmente será mudado para uma orientação pelo desenvolvimento duma diplomacia económica, política e militar de paz. Muito provavelmente -  da mesma forma como o regime de dos santos gere o conflito interno após a guerra civil - também na região as autoridades angolanas optarão por uma "paz" garantida pela dominação  de todos os outros na região, mesmo se e quando essa dominação tiver a aparência de “alianças”.

 

Ora, essa será uma dominação regional abrangente que, além da dos outros estados vizinhos, como aquela a que nós em Angola estamos submetidos, implicará a dominação também dos povos da região. A prazo esse desafio acabará sempre sendo perdido por Angola porque, certamente, gerará resistências locais e uma resistência internacional combinada a que não poderá resistir nem mesmo com o hipotético suporte de potenciais planetárias. Suporte esse que como tudo indica, no actual contexto, já não é o sentido da politica internacional das principais potencias mundiais.

 

Tenha-se em consideração que vivemos um momento do mundo em que já foram emitidos os sinais bastantes de que os tradicionais aliados determinantes da sustentação de regimes do tipo que vigora em Angola tendem cada vês mais a apoiar os povos sempre que estes se levantam exigindo direitos e bem estar e, em consequência, são reprimidos violentamente pelos governantes.