Luanda - Na altura da partilha do Continente Africano, os territórios sob o domínio Britânico eram marcados em tinta Vermelha ou em Rosa. O Cecil John Rhodes (1853-1902) foi um Britânico bem destacado, homem de grandes negócios, magnata da exploração de minas e político astuto e ambicioso da África do Sul, onde imigrou e cresceu.
Fonte: baolinangua.blogspot.com
Rhodes foi o Fundador da Companhia de Diamantes, De Beers. Hoje é detentora da comercialização de 40% de Diamantes do Mundo. Numa certa altura, a De Beerschegou mesmo a comercializar 90% de Diamantes bruto que circulava no Mercado Internacional. Politicamente, Rhodes era um defensor ardente do Imperialismo Colonial da Grã-Bretanha. O Fundador do Estado da Rhodesia, que hoje representa a República da Zâmbia e do Zimbabwe.
Rhodes esteve no centro da política da conquista e da ocupação da África Central e Austral em benefício do Império Britânico. Directa ou indirectamente viabilizou a imposição de Tratadosaos Soberanos locais desta Região, através de Concessões, dentre as quais:A Concessão Rudd de 1888 com Rei Lobengula de Matabeleland; Concessão Lochner de 1890 com Rei Lewanika de Barotseland; Concessão de Cazembe de 1890 na Lagoa Mweru; Concessão do Protectorado de Bechuanaland em 1885 com Rei Khama III; Concessão de África Central Britânica (Nyasaland/Malawi) em 1891; Concessão do Estado Livre (1985-1908) do Congo (Katanga), queterminou porser ganha pelo Rei Leopoldo II da Bélgica, através do assassinato do Rei do Bayeke, Mwenda M´Siri Ngelengwa Shitambi, pelo Omer Bonson, em 1891.
No meio de tudo isso, o grande Sonho deste magnata Inglês, compartilhado por uma certa Elite do Império Britânico, era de desenhar uma “linha vermelha” no Mapa,“do Cabo ao Cairo”. A Elite em referencia, Britânica, acreditava que a melhor forma de unificar as Colónias; garantir a governação; facilitar a movimentação rápida das tropas aos pontos quentes, ou conduzir a Guerra; ajudar o povoamento europeu; impulsionar o Comércio, seria de construir uma “Linha Férrea transcontinental de Cairo ao Cabo”.
Neste contexto, nos fins de 1890s, a França tinha igualmente uma estratégia rival que visava estabelecer uma ligação entre as suas Colónias, do Oeste ao Leste do Continente Africano. Por outro lado, Portugal apresentou o “Mapa de Rosa” que continha as reivindicações da sua Soberania em África.
Contudo, a Expansão do Imperio Britânico desejada pelo Rhodes tinha como força de inspiração a Crença de que, a “Raça anglo-saxónica” era destinada à Grandeza. No seu testamento, expressando a sua vontade profunda, afirmava: “ Sou de convicção de que, somos a primeira raça no mundo e que quanto mais espaço do mundo habitamos, melhor será para a Humanidade. Na presença de Deus, creioque, o que ele havia de me desejar fazer seria pintar quanto mais possível o Mapa da África o Vermelho Britânico”.
Foi efectivamente na base dos pressupostos acima referidos que se traduzia o engajamento inabalável do Cecil John Rhodes na construção de uma Linha Férrea que partisse do Porto do Lobito até a Região mineira do Katanga, no Estado Livre do Congo, sob a jurisdição pessoal do Rei Leopoldo II.
A Visão global, deste colossal Projecto, era de transformar o melhor Porto da Costa Ocidental da África, Lobito, no ponto de entrada ao imenso território da África Central que compreendia o Congo Belga, Rhodesia, Mozambique, Colónias do Tanganika, Quénia, Uganda e a União Sul-Africana, que possuía, na altura, a grande Economia do Continente ao Sul de Saara.
Embora, este Sonho do Rhodes, da construção de uma Ferrovia transcontinental, do Cairo ao Cabo, não tornara uma realidade tangível; todavia, em 1899, com engajamento do mesmo, o Governo Português iniciou a construção do Caminho de Ferro de Benguela (CFB) para dar acesso ao interior e às imensas Riquezas Minerais do Congo Belga e da Rhodesia do Norte (Zâmbia).
Após a morte de Cecil John Rhodes, em 1902, Robert Williams, o amigo dele, tomou conta da construção do CFB e completou a ligação à Teixeira de Sousa (Luau), em 1929, com a extensão de 1.345.928km. A Ferrovia vem mostrar a sua rentabilidade às Potências Coloniais, sobretudo à Portugal que tinha a urgência de ocupar e consolidar o seu domínio sobre o interior de Angola, na base do princípio de “efectividade” estipulado no Tratado da Conferencia de Berlim, em 1885. O Conceito do “Principio de Efectividade” consistia implicitamente na lógica de que, a Soberaniade juredeve traduzir-se na Soberania de facto, em termos do controlo efectivo do território sob sua jurisdição.Pois, Portugal ainda não tinha o controlo efectivo sobre os territórios que constavam no “Mapa de Rosa” dos quais faziam parte das suas reivindicações de Soberania. Já que, nesta altura, havia pretensões expansionistas por parte de outras Potências Coloniais.
Na Conferencia de Berlim a partilha dos territórios procedeu da seguinte maneira: A França foi atribuída 666.000km2 do território que representa actualmente o Congo Brazzaville e a República da África Central. O Rei Leopold II da Bélgica (grande vencedor nesta Conferencia) ficou com 2.344.000km2 que compreende a República Democrática do Congo, com cerca de 30 milhões de habitantes, na altura. Portugal recebeu 909.000km2, ao Sul do Estado Livre do Congo, que faz parte de Angola de hoje. Até 1876, Angola era constituída apenas por quatro Distritos: Zaire, Luanda, Benguela e Moçâmedes, abrangendo uma área de cerca de 100.000km2 na planície litoral. Por estimativa, este território tinha cerca de Meio Milhão de Negros Bantos e Três Mil Brancos, da origem Europeia.
Em 1931, o Porto do Lobito recebeu, via CFB, o primeiro Carregamento de Cobre proveniente do Katanga. A partir daquela data, o CFB vinha gradualmente transformar-se num Veiculo principal do Poder Colonial em vários domínios, nomeadamente: Na ocupação e consolidação da presença colonial no interior do território; na imposição da Civilização Europeia através da Evangelização Missionária; no impulsionamento do Comércio interno e externo com Congo Belga e com a Rhodesia do Norte; no fomento rural; na recolha dos trabalhadores forçados e contratados; na confiscação de terras úteis; no povoamento europeu; na criação de Colonatos brancos; na supressão gradual da Cultura banto, como condição sine qua non da dominação efectiva dos Povos indígenas.
Em suma, o objectivo primário do CFB tinha a ver com a extracção e a pilhagem dasmatérias-primas e dos recursos minerais desta Região para o enriquecimento das Potências Coloniais de Portugal, da Grã-Bretanha e da Bélgica que fizeram parte do Projecto, com Capital inicial de 13.500.000 Réis.
A questão fulcral que se coloca nesta fase da reabilitação do CFB resume-se no seguinte: Qual é a Visão estratégica do CFB? Será a mesma Filosofia que inspirou as Potências Coloniais? Ou, terá uma perspectiva mais ampla em termos do desenvolvimento equilibrado e sustentável que potencie a integração e o progressodos Povos locais que habitam a Região? O nosso receio consiste na experiencia amarga que temos nas Lundas, em Cabinda e no Zaire onde as riquezas geridas localmente (diamantes e petróleo) não trazem mais-valiasdesejadas aos Povos locais. Pelo contrário, constituem factores de pobreza extrema, de subdesenvolvimento, de exclusão socioeconómica, de repressão e de instabilidades politicas,sociais e culturais.
Parece que, o Petróleo e os Diamantes se transformaram em nichos privilegiados de corrupção e de enriquecimentos ilícitos que agravam os níveis dasassimetrias sociais e regionais, inspiradas pela Doutrina de, “Somos um Povo Especial”. Umsinónimo que neleestá embutido o misterioso delírio do endeusamento do Poder.
O Pronunciamento recente do Presidente Engª. José Eduardo dos Santos na Cidade do Huambo, na altura da inauguração da reabilitação do CFB até aquela Cidade, deixou inquietações profundas na população local. Ajudou transparecer, de forma explícita, o espírito forte de revanchismo e de totalitarismo. Reafirmou, num tom acentuado, a Doutrinahegemónica e de intolerância política que tem sido o cavalo-de-batalha do MPLA naquela Região. Despiu, assim, de forma flagrante, a peça teatral da Comissão da Assembleia Nacional, chefiada por GEN. Higino Carneiro, que andou por aí a ludibriar e distrair a Opinião Pública Nacional e Internacional.
O conteúdo profundo da mensagem do Presidente dos Santos ao Povo do Planalto Central foi de carácter intimidatório e etnocêntrico. Todo mundo, de boa-fé, esperava que o Chefe de Estado, como Pai da Nação, tivesse uma postura de tolerância, de conchego, de reconciliação, de unidade, de apaziguamento da Alma e do Espírito, da Fé e da Concórdia entre todos Cidadãos Angolanos, indiscriminadamente das suas Congregações Religiosas, FiliaçõesPartidárias ou Origens Geopolíticas. Infelizmente, o Presidente da República optou-se por frustrar as expectativas populares e ascender as chamas do ódio no Planalto Central cujasreflexões e repercussõesserão mais sentidas no decurso da campanha eleitoral que se aproxima. Quando se trata da reconciliação humana tem que ser íntima, sincera e honesta, sem rancor nenhum. Caso contrário, é uma farsa, uma armadilha que se emboca no desaire, com consequências desastrosas.
Na verdade, o CFB não ficou paralisado a partirda Guerra Civil. A UNITA iniciara as suas Operações ao longodo CFB a partir de 1966, na abertura da Frente Leste, contra o Poder Colonial Português. Por este motivo a UNITA foi banida na Zâmbia e o Presidente Fundador, Dr. Jonas Malheiro Savimbi, foi detido em Lusaka, em 1967, pelas Autoridades Zambianas e expulso para o Cairo, no Egipto. Na altura me encontrava em Lusakaquando o Presidente do MPLA, Dr. António Agostinho Neto, intercedeu junto do Presidente Kenneth David Kaunda a fim de expulsar Dr. Savimbi da Zâmbia. Nesta altura, Dr. António de Oliveira Salazar pressionava a Zâmbia e o Zaire para expulsar os três Movimentos de Libertação de Angola(FNLA/MPLA/UNITA) e entregar o Dr. Savimbi (já detido) às Autoridades Portuguesas.
Esta foi a exigência de Portugal como condição sine qua non para garantir o Escoamento do Cobre do Katanga e do Copper Belt por via do CFB, ao Porto do Lobito. Em face desta situação de crise, Presidente Gamal AbdelNasser, do Egipto, interveio directamente junto do Presidente da Zâmbia a fim desoltar e encaminhar Dr. Jonas Savimbi ao Cairo, em vez de entregá-lo ao Regime fascista do Salazar. Isso sucedeu quando Dr. Savimbi acabou de regressar do interior, das áreas da Vila Luso (Luena), onde a UNITA levava acabo as Operações militares ao longo da Ferrovia.
Apesar disso, mais tarde, em Julho de 1968, Dr. Jonas Malheiro Savimbi, na companhia do Miguel N´Zau Puna, deixou Cairo e passou clandestinamente pela Tanzânia e Zâmbia ao interior de Angola, à Frente Leste, na Região do Lunguébungo, a Sul do CFB. A partir daí, a UNITA intensificou o seu combate contra o Colonialismo Português.Não havia hipóteses de contornar o CFB tendo em conta a suaimportância estratégica no xadrez militar, em termos da movimentação das tropas e da logísticaa partir do litoral para o interior do País. Além disso, como se constatou em cima, foi uma Fonte de Receitas importantíssima, sobretudo para Portugal.
Por outro lado, a UNITA estava “bem ciente”do prejuízo que havia de causar às Economias do Enclave dos Países vizinhos do Zaire e da Zâmbia que dependiam, de grosso modo, da Exportação do Cobre. Acima disso, até década 60, o CFB empregava cerca de 14 000 trabalhadores Angolanos, dos quais, em conjunto com respectivas famílias, representava em volta de 44 000 pessoas, dependentes da Ferrovia. Contudo, a Escolha entre a Liberdade e Bens, é óbvia e é indiscutível. Pois, a Liberdade tem o Preço à Pagar. Foi assim que o CFB ficou inoperante.
Issopermitiu a criação de Bases de Apoio na Região do Lunguébungo; progredir para as Lundas, Bié, Kuando Kubango e Huambo; mobilizar e organizar as populações locais contra o Colonialismo; infiltrar os Centros Urbanos ao longo da linha férrea; recrutar Quadros e Jovens revolucionários parase ingressarem nas fileiras da Luta Política e Armada; promover agricultura, escolas primárias, postos de saúde e cooperativas agrárias. Convém realçar o facto de que,a inoperância do CFB tivera atingido fortemente as Receitas de Portugal, da Bélgica, da Grã-Bretanha e do Estado Racista da África do Sul. Logo, o combate que a UNITA tivera encetado contra o CFB foi um grandecontributo à Independência de Angola.
Portanto, as Criticas feitas pelo Presidente do MPLA contra a UNITA, relacionadas com o CFB, não teriam razão de ser, sobretudo nesta fase crucial da reconciliação nacional. Pois, o Gigante, CFB, como vemos, já estava adormecido muito antes do 25 de Abril de 1974. No entanto, o que existiraforam algumas extensões curtas,desconectas entre si,que funcionavam a meia gás, sem qualquer expressão económica de realce,em termos de Rendimentos para o Cofre do Estado Angolano.
Enfim, o grande Desafio da África continua a ser a realização efectivado Sonho de estabeleceras infra-estruturas modernas de Redes Ferroviárias, Rodoviárias e Aéreas entre todos Países Africanos, do Cabo ao Cairo, que viabilizasse e impulsionasse o Processo Harmonioso de Integração Equilibrada e Sustentável, a fim de tornar a União Africana numa realidade concreta e não apenasde jure. Que Gerasse Riquezasenorme parao Bem-estar dos nossos Povos do Continente e quebrasse definitivamente as assimetrias e o estado actual de má governação, de atraso, da dependência da tecnologia e do know-howalheio, de miséria, de pobreza extrema, da fome, de desvios, de enriquecimentos ilícitos, de corrupção galopante e da longevidade do Poder divinizadoem que a África está mergulhada.
Este estado de coisas tem sido a Fonte principal das Revoluções que arrastam actualmente o Continente Africano e o Mundo Árabe, nas quais a Juventude e a Classe Média têm estado na Vanguarda de Mudanças Politicas.