Entretanto, José Eduardo dos Santos está numa verdadeira cruzada de inaugurações nas províncias. Dizem que quando o milagre é demais o santo desconfia. Há coisas que não fazem parte do estilo dele: viajar às províncias, principalmente passar a noite lá, participar de uma jornada científica, não precisa apresentar trabalho mas ser um debatedor, moderador, convocar a imprensa nacional para uma conferência de imprensa ou então possuir um programa de rádio para prestar contas à sociedade, fazer um artigo de opinião, etc.

Curioso é que as viagens ao Huambo, onde não passava desde 1992, Benguela, Lunda Sul, Bengo etc. ocorram a poucos dias das eleições. Se não temos nenhuma lei que proíba essa prática, no mínimo não é uma postura ética digna de um chefe de Estado. É verdade que o presidente do MPLA gosta de cortar fitas de inaugurações, mas veremos quantas obras serão inauguradas em setembro, outubro, novembro, dezembro...

Mas francamente MPLA... Os articulistas do sistema vivem repetindo a mesma música: “O MPLA é o único partido que sabe governar”. Pura alienação.

Primeiro, porque só o MPLA administrou o país. A lógica diz que só se comparam dois ou mais governos. Segundo, há experiências que são boas e outras que são ruins. Terceiro, o argumento segundo o qual é necessário experiência para governar, essa tese já afundou junto com o Titanic. A primeira experiência ruim consiste no fato do MPLA administrar há 33 anos mantendo os mesmos comunas nos mesmos lugares, muitos deles sem formação técnica desejável (nunca administraram nada antes) e, quando coloca sangue novo, é feito por linhagens, ou seja, pessoas que são familiares, por exemplo, do Comandante Dangere, Jika, ou outros e não necessariamente escolhidos por competência!...

Hoje, como se sabe, as coisas não são estáticas. O administrador precisa estar em constante atualização. Ou seja, a experiência de saber digitar máquina de datilografia não é tão necessária assim. Por outro lado, no Brasil, utilizava-se esse mesmo argumento para impedir a ascensão à Presidência de Lula, aquele que, quando fez uma digressão pela África, ao chegar à Namíbia, depois de passar por Luanda, afirmou que Windhoek era tão limpa que nem parecia África. Mas hoje, os números mostram que o metalúrgico Lula é o melhor presidente de todos os tempos. Luis Inácio Lula da Silva mudou, com coragem, a rota do desenvolvimento, para melhor. E como o MPLA explica isso?

Mas francamente MPLA... O MPLA diz ser o povo. Afirma que sempre ficou do lado do povo e fala a mesma língua do povo. Mas na hora da verdade, esconde o insípido Kundy Paihama e foi buscar o reforço na UNITA?... Já que está difícil conseguir uma medalha nas olimpíadas da China, saíram desfilando o Valentim como sendo o “peso pesado”.

Curioso é que quando o indivíduo está do outro lado, do lado oposto, é ruim, é pessoa atrasada e, do lado deles, “é ouro”. Pensando bem, é bom que Valentim vá ajudar a afundar essa canoa de uma vez por todas. Para além de ser explorado, sugado politicamente, brevemente será descartado, como fizeram com Moco e outros que andam aí na vala da amargura. Aliás, o processo de rejeição começou. Kuata Kanawa, deselegantemente, já afirmou que foi Valentim que se ofereceu. Ninguém o convidou. Valentim poderia dar um banho na sua carreira política se, por exemplo, aderisse ao FpD ou outro partido. Seria um bom recomeço. Recauchutaria sua carreira. Poderia dar volta por cima. Lá, seria bem recebido, se afastaria da UNITA e ficaria de frente contra o MPLA. O problema é que o FpD e outros partidos não possuem "poder".

Mas francamente MPLA... O Semanário angolense dedicou, praticamente, a edição 279 só para falar dos feitos de Jorge Valentim. Só faltaram hosanas à essa entrada triunfal pelas ruas da Canata, no Lobito, montado sobre uma mula com uma perna quebrada. Deve ter sentido uma sensação tão diferente! O que se ouviu foi o canto do bode. Eu aprendi, nesta vida, que não há almoço de graça. Alguém paga o pato.

Mas francamente MPLA... Só foi o Carlos Contreira presidente do partido Republicano angolano (PREA) afirmar que abandonaria o apoio que daria ao MPLA, que passou a ser o Judas, recaindo sobre ele a acusação de pretender vender-se por 1 milhão de dólares?

Mas francamente MPLA... Que puxa-saquismo é este, que levou o Ministério da Justiça a encaminhar ao Presidente um modelo do Bilhete de identidade (B.I), documento oficial, mais seguro, contra falsificação (até aí tudo bem), só que agora com uma grande novidade: B.I com a efígie de José Eduardo dos Santos e de Neto na marca de água, como aquela na moeda? É a isso que chamam experiência administrativa? Essa é demais...

Mas francamente MPLA... O MPLA possuía menos de 100 quadros com ensino superior, em 1975, e hoje possui 110 mil entre quadros superiores e médios. Onde andam esses quadros que não conseguem tirar o país do atraso em que se encontra?

Mas francamente MPLA... O MPLA não apresentou proposta para acabar com a corrupção...

Mas francamente MPLA... Afirmar que o MPLA é o caminho seguro, só a ele merece todo o poder, só a ele pertence traçar os destinos da nação, só através dele Angola está avançando e que Angola vai parar se outro partido vencer as eleições, que só o MPLA tem compromisso com o povo e com o futuro, que votar em outros partidos é perder tudo que se conseguiu pelo suor... fala sério! É chamar aos outros de burros?

Mesmo aquele que usa óculos escuros na escuridão da noite consegue ver e perceber que isso é conversa fiada. O caminho da mesmice é o caminho do “des”: desespero, desemprego, desalento, desgovernação, descaso, desentendimento, despreparo, desumanidade, etc.. Esse Jamais. Essa elite oligárquica dominante está preocupada com seus interesses. O desafio da nossa geração, para que possamos construir uma sociedade justa e coesa, é estabelecermos equilíbrio entre as forças políticas.

Fonte: http://cangue.blogspot.com