Luanda - Numa altura em que não se define a situação governativa da província de Luanda, com o aproximar das chuvas, o problema de saneamento e limpeza de Luanda vai aumentando, com acumulação de lixo por tudo quanto é canto, sem que a ELISAL dê sinais de querer melhorar, enquanto os trabalhadores daquela empresa dizem-se discriminados e acusam o seu director, Antas Miguel, de estar mais preocupado com «engenharias» que visam lucro fácil, efectuando uma cerrada caça às bruxas, desde o seu retorno ao comando daquela empresa
 

*ALBINO SAMPAIO
Fonte: AS
 
 
Segundo os trabalhadores, cujos nomes não são revelados por razões óbvias, a empresa está agora dividida em duas, cabendo à ELISAL apenas a limpeza e recolha de lixo e o saneamento de Luanda passou para um novo projecto que se denomina Unidade Técnica. Contudo, o director das duas é o mesmo, ou seja, Antas Miguel.

 

Como é do conhecimento público, Este senhor fora exonerado pelo então governador provincial de Luanda, Job Capapinha, e voltou a ser nomeado para as mesmas funções, com responsabilidades acrescidas, pelo já exonerado governador, José Maria dos Santos.

 

Logo que assumiu a direcção da empresa, começou por despedir alguns elementos que, conforme disseram os trabalhadores, haviam festejado a sua exoneração. De igual modo, qualquer falha cometida por um trabalhador dá direito a despedimento imediato.

 

Os trabalhadores queixam-se do pouco interesse que o director presta à ELISAL, dedicando maior atenção à Unidade Técnica que, de acordo com eles, tem mais dinheiro e serve os interesses pouco claros do director.

 

Eles afirmam que os trabalhadores afectos à Unidade Técnica, que coabitam no mesmo espaço que a ELISAL, têm um tratamento diferenciado, com salários acima do normal, carros de luxo da última geração, condições de trabalho excelentes, incluindo as refeições servidas no refeitório.


«Para nós, servem-nos ao pequeno-almoço, café e pão com margarina, quando há, em canecas pouco higienizadas e somos obrigados a comer rapidamente para dar lugar aos trabalhadores da Unidade Técnica que têm direito a toalhas lavadas, chávenas e copos de luxo e lhes é servido leite, café, pão, queijo, fiambre, presunto, tostas e fruta. Ao almoço, nós comemos, geralmente, arroz com feijão e, às vezes, com sardinha ou frango frito. Ao passo que os outros comem de tudo: arroz de marisco, cozidos, feijoadas, batatas fritas com bife e boas sopas, acompanhado de todo o tipo de refrigerantes, sumos e cerveja, servidos por uma empresa da esposa do director», explicaram os queixosos.

 

Fizeram também questão de informar que os trabalhadores que mais sofrem são os da limpeza das ruas. «Antigamente tinham um autocarro que os apoiava na recolha e distribuição, mas esse autocarro avariou e agora são transportados em camiões basculantes, com um máximo de lotação, que até parecem bois que vão para o matadouro. Além disso, a maior parte deles, homens e mulheres, estão seriamente doentes e há muitos casos de tuberculose, porque trabalham em más condições, sem as devidas protecções, não há consultas médicas nem tratamento e assim isso reflecte-se no trabalho nas ruas».

 

Disseram ainda que há muito desleixo dentro da empresa e as instalações das oficinas, no espaço interior da mesma, exalam um cheiro nauseabundo, num autêntico atentado à saúde dos trabalhadores, não se entendendo tal situação, já que se trata de um empresa de limpeza e saneamento.

 

Na mesma senda, informaram que, no dia do aniversário da ELISAL, 29 de Junho, foi organizada uma festa em que esteve presente o então governador provincial de Luanda, José Maria Ferraz dos Santos. No decorrer da festa, os trabalhadores apresentaram uma peça de teatro em forma de sátira, retractando a discriminação dos trabalhadores pelos superiores hierárquicos. Para os trabalhadores, «a peça foi exibida no local errado e na hora errada, na presença do número um da província e a mensagem não foi muito bem recebida pelo director-geral, engenheiro Antas Miguel, que depois da saída do governador, e antes até da festa acabar, começou por despedir todos os elementos que participaram na peça de teatro e, como a culpa nunca morre madrasta, foi também vitima de exoneração, o Dr. Vicente, que era na altura o director administrativo e financeiro, a quem foi, por arrasto, aplicado um processo disciplinar».

 

Antas Miguel terá tomado aquilo como uma afronta contra si, sobretudo por causa da presença do governador, tendo por isso tomado as medidas retalhadoras que achou conveniente, sem prévio aviso nem justa causa, como tem sido seu hábito, ou seja, como se a empresa fosse sua lavra pessoal.


O director da ELISAL, intensificou também a «caça às bruxas» e encetou uma campanha para saber quem são os trabalhadores que estão a passar informações para os órgãos de Comunicação Social, assim como alguns amigos seus, que o ajudam na «engenharia» de delapidar a empresa, têm visitado alguns desses órgãos, sobretudo jornais, para negociar a não publicação de matérias referentes à ELISAL e ao seu director. Dentro da empresa, Antas Miguel foi apelidado pelos trabalhadores por «Kota Determino» ou «Kota Exonera», tal é o clima que se vive ali. Os trabalhadores apelam quem de direito, sobretudo ao Governo de Luanda, para que se tomem medidas imediatas, no sentido de se acabar com a desestabilização e a discriminação naquela empresa importante para a governação de Luanda.


No sentido do contraditório e para uma informação isenta, tentou-se ouvir o director-geral da ELISAL, porém sem sucesso, porque o mesmo está indisponível. De igual forma, o responsável jurídico, evitou pronunciar-se alegando estar a resolver assuntos em tribunal.