Luanda - Passaram-se já 19 anos desde que muitos de nós...milhares de angolanos e angolanas foram pela primeira vez às urnas, decidir por via do voto quem nos iria governar.Foi a 29 e 30 de Setembro que Angola realizou pela primeira vez eleições, que foram validadas pelas Nações Unidas e consideradas livre e justas pela comunidade internacional.


Fonte:  O País

O  “tiro” de largada (este com aspas) para a corrida da paz rumo à democracia, tinha sido dado.


Cabia e cabe à nós, angolanos, esforçar-se por permanecer na “pista” e lutar para alcançar a meta, corta-la e provar que somos, de facto, capazes!

 

As condições para a realização do pleito eleitoral de 29 e 30 de Setembro de 1992, começaram a ser preparadas quase uma década antes, quando em 1984 o Governo do MPLA empreende tímidos contactos diplomáticos que levam a que em  Dezembro de 1988, em Nova York, à mesma mesa se sentam representantes de Angola, Cuba e África do Sul, sob observação dos EUA e da ex URSS e é rubricado o denominado Acordo de Nova York.


Este acordo, permitiu a implementação da mediática resolução 435/78 do Conselho de Segurança da ONU e a consequente retirada oficial das tropos do exercito regular Sul Africano, que ocupavam ilegalmente parcelas da então República Popular de Angola.


O marco seguinte foi chegar a 31 de Maio, e em Bicesse, Estoril, República Portuguesa,  e o Governo angolano rubricar com a UNITA, então movimento armado, os Acordos de Bicesse.

 

Terá sido, a seguir à independência em 11 de Novembro de 1975, o parto angolano mais festejado...o renascer para uns e o nascer para outros, de uma esperança que a todos animava e que à todos devia engajar.

 

Dezasseis meses depois, lá íamos nós votar pela primeira vez...orgulhosos, radiantes, cobertos de esperança e com certeza de que o futuro melhor seria para todos.


Definiram-se fases 1ª – O registo dos eleitores no período de 20 de Maio a 10 de Agosto de 1992;

 

2ª – A campanha eleitoral, de 29 de Agosto a 28 de Setembro;

 

3ª - Votação, nos dias 29 e 30 de Setembro;

 

4ª - Contagem dos votos, investigação das reclamações e anúncio dos resultados finais a 17 de Outubro pelo CNE.


Entretanto, vários incidentes se vão registando...acusações de deslealdade de parte à parte, cresce o clima de tensão, os discursos começam a ser mais musculados, começa a vir à nú um emaranhado cenário que a ninguém orgulha e que devia a todos envergonhar.


Ainda assim, VOTAMOS...levantamos mais cedo que o normal, aguentamos “bichas”, e VOTAMOS...Cada um colocou o X no quadrado que a sí melhor servia...Sem pressão, sem coação...em consciência. A única exigência que fizemos, e a faremos sempre é que se RESPEITE a nossa vontade, a vontade de quem VOTA, pois quem não vota, pode até ter as suas vontades (deve mesmo tê-las)  mas a que deve imperar é a de quem VOTA. Quem não o fizer, quem não votar, que vá dar “bitatos “ nos jogos de playstation...


Não respeitada essa vontade soberana, vimo-nos “denovamente” envolvidos numa guerra pavorosa guerra, arrisco mesmo em afirmar que terá sido o período mais negro da história de Angola...registos há de que terão perecido mais angolanos e angolanas entre 1992 e 2002 do que nos períodos de “outras” guerras.

 

Foi nesta altura que Angola conheceu “pessoalmente” a real destruição do pouco que tinha, no que a infra-estruturas diz respeito.

 

Estas lições, que se aprendeu com “professores maus”, que faziam da dor e do sofrimento o método predilecto de “ensinamento” só não as aprende quem delas não tenha sido “aluno”. Pode parecer contraditório...querer que alguém que não assista as aulas aprenda alguma lição. Neste caso não é! Os manuais de tais lições estão escritos na história, estão disponíveis em todos os idiomas do mundo e não trazem restrição alguma de idade ou grau académico.


Todos os podemos consultar...todos os devemos LER e todos deveríamos APRENDER.


O caminho da PAZ nesta corrida para cortar a meta da DEMOCRACIA é longo, tortuoso, mas se todos nos dermos as mãos, o percorreremos e certamente que o conseguiremos fazer.

 

Tem de ter valido à pena o sacrifício, a dor, o sofrimento e o luto de milhares de angolanos e quanto a mim, a única forma de respeitarmos isso, é sermos capazes de preservar a PAZ e lutarmos para que a DEMOCRACIA se instale, cómoda e confortavelmente entre nós.

 

Não queimemos etapas, evitemos as “mabyas” pois quem conduz bem, quem é ordeiro e cumpridor, pode demorar, mas chega ao destino.

 

Para o ano que vem, há mais...e lá iremos nós, crentes, confiantes e seguros VOTAR...com o X o mesmo que vai dizer quem será que nós há de Governar.


Podemos até não concordar com o resultado, mas temos o dever ético de o aceitar e respeitar, uma vez validado por quem tenha essa competência.


Bem haja Angola e todos os angolanos.