Luanda -  Nos últimos meses, a nossa «realpolitik»  mwangolé ganhou mais uma senhora  protagonista. Jurista formada na Universidade de Coimbra (uma das mais antigas do Mundo, portanto) com pós-graduações em Direito da Comunicação e Mestrado em Direitos Humanos. Nascida num dos países do leste onde os pais prestavam serviço, viveu a maior parte da sua jovem vida no exterior.


Fonte: Semanario Angolense



Docente universitária na Universidade Metodista de Angola, assume-se como «uma cidadã muito preocupada com os problemas sociais do país». Fluente, extremamente articulada, surpreendeu, entretanto, pelo racionalismo exacerbado no que à doutrina do Direito diz respeito, e no posicionamento crítico sistemático em relação ao regime, sendo que, para sustentar essa crítica, não se coíbe de distorcer teses e conceitos do Direito e de outros ramos do saber, como a Ciência Política e da Comunicação e outras, que arranja engenhosamente para enquadrar as suas teses e que apresenta com um argumento de qualidade invejável. Mihaela Webba, da sua graça.


Ao mesmo tempo que a sociedade acompanhava com interesse o surgimento de uma jovem e prometedora inteligência que certamente em muito contribuirá para o desenvolvimento do País,  surpresa primeiro e reticências  depois foram os sentimentos que gradualmente estão a tomar conta de grande parte dela, quando, ao se aperceber que, resultado talvez do seu pouco conhecimento das idiossincrasias da nossa história recente, ela subordinava absolutamente  todos os factores nacionais a princípios que, segundo a sua cartilha, são considerados universais.


Para ela, o Presidente Eduardo dos Santos deve sair do Poder, porque está tempo a mais, não  importa se o país está preparado para uma saída abrupta ou não.


Para ela ainda, a cautela com que o MPLA está a tratar a questão da sucessão do PR, em nome da estabilidade do país – e da manutenção do seu regime, como não podia deixar de ser – é um atentado a um dos princípios do republicanismo.


Republicanismo que nem é a única forma de organização de Estado e, convenhamos, não faz verdadeiramente parte da concepção africana do Estado, doa essa verdade a quem doer. Dá a entender a nossa jurista que o que o partido no poder devia fazer era pôr JES na rua, não importa se esse partido se transformasse depois num saco de gatos e o país ficasse à deriva. Bom, aí teria a  UNITA como alternativa…



E é precisamente aí que surgem algumas respostas interessantes às manipulações conceptuais da Dra. Webba. Na ressaca de uma polémica entrevista ao «Café da Manhã» da LAC, veio a saber-se que, afinal, a nossa docente universitária é também assessora jurídica de Isaías Samakuva, que é presidente da UNITA. Fontes dizem mesmo que, com Cláudio Silva, Adalberto da Costa Júnior e Makuta Nkondo, faz parte do núcleo duro que giza a estratégia política de Samakuva e, por extensão, da própria UNITA.


Postas as coisas assim, já se compreende a postura da maior parte dos analistas da praça, incluindo o veterano Justino Pinto de Andrade, pouco responsável em relação à estabilidade do seu partido, numa altura tão crucial como esta. Também se explica a postura da UNITA, ultimamente a regressar a um radicalismo que toca o fundamentalismo, manifestando uma leveza que raia o desprezo em relação às conquistas – suficientes ou insuficientes, não deixam de sê-lo – que vão sendo alcançadas com a estabilidade nacional que só a paz proporciona.



Concordando todos que o desenvolvimento tem que ser para além das obras de betão e saldar-se mais no desenvolvimento humano, é a própria Dra. Webba que diz ao microfone de José Rodrigues que em 2002 apenas conhecia duas províncias e agora conhece – eu diria «visitou» - mais catorze, ficando apenas duas por conhecer – ou visitar. E isso sempre de carro, como fez questão de frisar perante um atónito e pouco à vontade Zé Rodrigues, o que é obra, pois esse veterano não se engasga à toa!


É que na cartilha – na sebenta, como diz uma conhecida historiadora cá da praça – da Dra. Webba, os princípios doutrinários do Direito – algumas vezes sob a capa dos Direitos Humanos – sobrepõem- se a todos os outros no que à governação diz respeito. Por outras palavras: o que interessa a Samakuva é que ele tenha o respaldo dos estatutos da UNITA. O resto que se dane. Dali que não é difícil imaginar a jurista, do alto do seu absolutismo doutrinário, aconselhar o seu assessorado: «Se Chivukuvuku, Gato e outros foram indisciplinados, e os estatutos são claros - rua com eles!».


Só que as coisas aqui em África não funcionam assim. Algumas pessoas carregam consigo a marca e a mística das organizações que serviram, quando a servem bem, o que indubitavelmente Chivukuvuku e Gato fizeram ao longo das últimas décadas.


Humilhá-los ou vilipendiá-los é fazê-lo com esta mística que eles encarnam. Expulsá-los, pior ainda, é amputar a UNITA de grande parte desta mística, numa altura que precisa desesperadamente dela para enfrentar o todo-poderoso MPLA, que esfregará as mãos de contente, por essa altura.



Afinal, o que a sociedade se lembra é de um Abel Chivukuvuku em 1992 baleado numa cama do hospital entrevistado pela media e ainda assim mantendo uma atitude digna, ou ainda o seu carro crivado de balas à saída de casa pela sua verticalidade e coerência. De Samakuva a mesma sociedade lembra-se escapando-se pelo aeroporto 4 de Fevereiro em 1998, dizendo que ia a consultas e voltaria, mas para apenas fazê-lo em 2002, quando Gato já tinha segurado o touro pelos cornos. A interpretação dessas coisas faz-se com muito mais que os postulados do Direito.


É preciso História, Sociologia, Antropologia, Filosofia, Sabedoria, Idade, Humildade... Experiência de Vida, e mais. E mais!  Caso para dizer: se o presidente da UNITA for pelo «trungungu» jurídico da sua assessora, então a UNITA está mesmo… «paiada»! ■