Não há informações consideradas exactas acerca da natureza da cooperação prestada pela China ao SIE, mas supõe-se que seja meramente técnica e/ou tecnológica. A China está a construir no Calumbo, arredores de Luanda, um grande centro de comunicações para as FAA, o BATOP (AM 008); o SIE tem a valência de centro de comunicações – da PR.

Embora agora de forma mais especiosa, o regime do MPLA ainda está organizado e funciona com base em modelos e critérios de secretismo decalcados dos antigos sistemas comunistas que teve por aliados; em razão de tal realidade é dada atenção especial ao domínio da segurança (informações/acções especiais).

Particularidades:

- Há formalmente 3 serviços de informações, um dos quais é o SIE; os outros são o Sinfo-Serviço de Informações (ex-DISA/ex-Minse), considerado um serviço interno, com um quadro muito numeroso e implantado em todo o território; a IM-Inteligência Militar (AM 143), que se ocupa das áreas militar e de defesa.

- Proliferam em todos os sectores, p ex, nos vários ramos das FAA (incluindo unidades ilitares), MRE e até nas grandes empresas, núcleos ou grupos de pessoas que se dedicam issimuladamente à recolha e verificação de informações.

- Todos os serviços e núcleos funcionam em sobreposição, por vezes em tensão, como forma de firmar/aguçar a lealdade de todos.

2 . O SIE foi criado à época da conclusão do acordo de Bicesse, inicialmente com a designação SSE-Serviço de Segurança Externa. Mas já existia do antecedente, conhecido por Cosse. Fernando Miala, compulsivamente afastado em Fev.2006, entretanto julgado e preso (AM 255), foi o seu principal dinamizador, em todas as fases.

Na esteira do afastamento de F Miala foi nomeado um novo DG, Oliveira Sango e um DGAdj, Gilberto Veríssimo. O Sango é considerado um DG "decorativo", cuja nomeação serviu fins políticos e de representação; o DG efectivo é G Veríssimo, que reporta ao Gen José Maria, (AM 235), assessor presidencial, com gabinete no palácio.

O SIE é, na prática, um serviço privativo da Presidência e do PR; desempenha tarefas e missões ajustadas à componente secreta da acção presidencial. Nos seus primórdios começou por ser um centro de comunicações da PR; José Eduardo dos Santos (JES) ganhou importância política como chefe do centro, em vida de Agostinho Neto.

Na ocasião JES, que é perito em comunicações, tinha a patente militar de major e, por essa razão, ainda hoje é tratado entre o mais antigo pessoal do SIE como "o major". F Miala também era um expert em comunicações; idem em relação a G Veríssimo e a antigos quadros do serviço, como o Brig Leopoldino "Dino".

De acordo com versões consideradas plausíveis, a actividade do SIE está concentrada menos no campo do intelligence propriamente dito, e mais no campo das chamadas "acções especiais", encobertas, de natureza diversa. É por essa razão conhecido internamente como um "serviço especial".

3 . O SIE tem instalações próprias no Futungo. O edifício destinado aos "operativos" (20/30), está situado no interior do perímetro da antiga PR. Os serviços de apoio, administração, recursos humanos, etc, estão albergados noutro edifício, também na área do Futungo, mas fora da cerca. Ambos os edifícios foram construídos de raíz.

A DG também está situada no edifício dos "operativos". Uma das figuras mais emblemáticas do SIE, é o Brig Xavier Esteves "Xavita", conhecido internamente como "o estratega", por ser ele que alvitra muitas das missões especiais (covert actions) do SIE – nunca postas em marcha sem o aval da DG e, por vezes, do próprio JES.

4 . A definição de serviço externo conferida ao SIE advém em particular da rede própria que mantém no estrangeiro, em geral baseada nas embaixadas (a segunda figura das mesmas é geralmente do SIE, mas em representações como as de Lisboa, Washington, Pretória, ou Kinshasa, há mais do que um elemento do SIE). Com o afastamento de F Miala, responsável pela montagem da rede externa e respectivo provimento, ocorreram algumas mudanças – em especial atingindo pessoas muito conotadas com próprio (verificou-se, porém, que alguns destes o renegaram logo a seguir à sua queda em desgraça).

Os "operativos" colocados nas embaixadas têm missões correntes como efectuar bosquejos de imprensa ou assistir a conferências temáticas, a par de outras mais exigentes como recolha de informação "fechada", controlo/contacto com figuras das oposições (FLEC e UNITA) e outras, mais sensíveis.

5 . A fase mais intensa da actividade do SIE, em larga escala preenchida com "missões especiais", coincidiu com a última campanha militar contra a UNITA, lançada em Dez.1998. O objectivo da decapitação da direcção da UNITA, em razão do qual a campanha foi planeada, implicou maciças acções de aliciamento levadas a cabo pelo SIE.

A tarefa do SIE consistia em tentar aliciar quadros da UNITA no estrangeiro, em especial quadros e dirigentes com "estatuto político à altura" e, numa fase posterior, familiares próximos ou remotos de Jonas Savimbi (concretizado o aliciamento de um filho, Araújo Sakaía e falhado outro, de Eloi).

Nas vésperas da morte de J Savimbi um grupo do SIE (então ainda SSE), chefiado por X Esteves "Xavita", do qual faziam parte vários desertores da UNITA, entre os quais o Gen Jacinto Bândua, tentou, em vão, aliciar em Lomé uma irmã do antigo líder da UNITA, Judite Savimbi, bem como vários quadros em Lisboa e Bruxelas.

Entre os renegados da UNITA do grupo de X Esteves "Xavita" contavam-se indivíduos que entretanto ingressaram nos quadros do SIE e se encontram actualmente ao seu serviço, colocados no estrangeiro (Silas, em Lagos; Maria Ekulika, em Harare e outra, nome impreciso, em Malabo).

Após o termo da guerra civil o SIE evidenciou-se numa outra tarefa, que foi a de amparar quadros da UNITA, muitos dos quais oriundos do círculo mais próximo de J Savimbi, bem como familiares do antigo líder.

Fonte: Africa Monitor