Lobito - Minhas queridas filhas.

Obrigado por se inquietarem sobre a má sorte que me será reservada por eu ter aderido à causa do William Tonet, depois da vergonha que foi a sentença do juiz que o condenou a 1 ano de prisão suspensa e 100 mil dólares de multa por ele ter denunciado gente que tinha descaradamente roubado o Estado. E com provas na mão!

Fonte: Club-k.net

William Tonet  transformou-se em herói do povo

Fiquem descansadas, no que me diz respeito, as coisas vão assim, assim, abatido que estou pelo assédio de uma persistente gripe à qual se juntam outras maleitas quase normais na minha avançada idade, reumatismo, cansaço e vista grossa em olho fino. Cá vou andando. (…)  Bom, mas tudo isso daqui a uns dez anos se apagará de vez, a morte não perdoa, e, entretanto, pouca importância tem em comparação com o que se tem estado a passar em Luanda.


O William Tonet está a transformar-se em herói do povo por causa dessa injustiça e a maka é que, não há volta a dar-lhe, a sua vida corre agora grande perigo, o homem pode ser mesmo assassinado. Quanto ao acontecido, há muito para contar.


Dizer que a sentença do juiz não foi seguida de execução, quer dizer, que ele não pagou nem um cêntimo e não foi, por isso, levado para a prisão, e que a petição organizada pela “sociedade civil”, pelo Zé Gama do Club-K e pela Associação Mãos Livres do David Mendes e outras pessoas, a maioria delas dos mais baixos extractos sociais, a que se juntaram associações privadas diversas, todas elas espontâneas, que no total conseguiram em menos de 6 dias reunir entre 70 e 120 mil dólares (os montantes variam segundo as fontes), tudo isso, dizia eu, pode dar pelo menos duas ideias: uma falsa, este regime não é assim tão mau como isso, outra, mais verdadeira, este regime está a chegar ao fim, não tem credibilidade pois nada fez para a merecer.


É terrível o que se está a passar… quase se poderia dizer que eles agora já nem podem matar, como é de tradição no país, desde os tempos da luta pela libertação (o espectro da Líbia de Kadhafi ameaça…).

 

Dizer ainda, e doutro modo, que o juiz meteu os pés pelas mãos de forma tão exuberante que a sua sentença passou a ser, por sua obra exclusiva, não só inaplicável, mas também impulsionadora de excepcional eficácia da extraordinária manifestação de apoio ao William, completam a descrição, sem pormenores (ainda mais saborosos) daquilo que se passou no terreno Para completar esta orgia de acontecimentos, na passada terça-feira, dia 18.10.11, o presidente da República, o JES foi obrigado a pronunciar um discurso na Assembleia Nacional (“obrigado” é o termo exacto, pois ele nunca tinha posto os pés na Assembleia - excepto uma vez e pela mesma razão o ano passado -, um discurso que ele se comprometeu a fazer todos os anos SOBRE O ESTADO DA NAÇÃO. Coisa grande, pomposa, para mostrar como é fofo viver em Angola debaixo da asa protectora de tão sapientes dirigentes!

 

Foi pior que um desastre, uma prova da tremenda fragilidade mental de JES, isto para não lhe faltar ao respeito. A páginas tantas, para contrariar aqueles que o acusam de estar no poder há mais de 30 anos sem nunca ter sido eleito pelo povo, o presidente mostrou-se indignado e renegou  tão injuriosa acusação, argumentando que em 2008, nas eleições legislativas de Setembro desse ano, ele era cabeça de lista do seu partido, o MPLA, que obteve então 82% dos votos e, como a constituição diz, textualmente, que «É eleito Presidente da República o primeiro nome da lista do partido vencedor das eleições», como era o seu caso, ele tinha, portanto, sido eleito dessa vez… Balelas, minhas queridas, balelas...


Catástrofe, sim, porque, mesmo sendo verdade que em 2008 ele era o primeiro nomeado da lista do MPLA, grande vencedor das eleições do modo que toda a gente já sabe, a Constituição a que ele se refere para defender a sua legitimidade, só foi aprovada em 2010!


Digam lá o que pensam, minhas filhas, não acham que é pouca sorte para o JES ter conselheiros que o levam a dizer coisas de tão baixo calibre intelectual? O que vale é que agora, com esta anunciada viagem ao passado da Constituição de 2010, o povo de Angola alimenta a esperança de, num futuro próximo, retornar ao planeta Terra o Capitão Clarke da série TV, Star Treck. Esperemos pois, talvez ele chegue antes de serem concretizadas as promessas feitas por JES, no seu discurso sobre o Estado da Nação.


Beijos grandes pra vocês, minhas queridas.