Lubango - Nas últimas semanas se assistiu no país eventos - actos, discursos, práticas, inovações e processos sócio políticos interessantes que fazem falta a Angola. Ainda por cima, com informação via internet a circular em tempo real em todos os lugares onde há acesso a ela, dando-lhe uma dimensão de exposição e mediatização.


Fonte: Club-k.net

Em que ficamos!

Aliás, a humanidade e as sociedades estão mergulhadas num ciclo de mudança, que todos os dias se amplia, se desenvolve e abrange a dimensão política, sociológica e cultural. A mudança, porém, faz parte de um conjunto de fenómenos interligados, caracterizada pela crise - inovação - mudança - que se traduzem numa mutação de sistemas de valores, de estruturas de poder, de opções políticas, económicas e de comportamentos a nível das pessoas, de grupos, de organizações, de instituições e dos países.

 

No caso do nosso País, dados empíricos objectivamente verificáveis mostram cidadãos que reclamam direitos e mudanças, protestam contra as injustiças e exclusão, defendem causas, manifestando-se publicamente - na rua, na internet e nos meios de comunicação social. As autoridades da ordem pública e segurança, esforçam-se em “controlar” a situação mas com dificuldade de usar métodos adequados para lidar com as manifestações. Alguns manifestantes foram acusados de agressores, julgados e condenados injustamente em tribunal. Outros manifestaram-se em frente ao tribunal no dia do julgamento e foram presos, levados a julgamento e posteriormente inocentados. Foram feitas contra-manifestações do MPLA onde predominou o slogan contra os arruaceiros, os ameaçadores da paz que devem ser controlados milimetricamente. Alguns falaram da conjura contra o chefe – a conspiração. Houve também outras manifestações noutras províncias e emergiu uma onde de solidariedade para os presos por motivação política.


Alguns comentaristas e analistas políticos tentam reforçar a propaganda contra as manifestações nos meios de comunicação social, como se fosse uma heresia. O Governo de Luanda, de forma ilegal e indevida, indicou locais para as pessoas se manifestarem, e logo a seguir volta para traz e anulou a decisão.

 

Depois veio o julgamento pelo tribunal do um jornalista condenado a prisão e pagamento de cem mil dólares no prazo de cinco dias. Na sequência disso, surgiu uma onda de solidariedade para com o jornalista que inclui contribuição em dinheiro pelos cidadãos.
Logo a seguir, o espaço público e mediático foi ocupado pela expectativa do discurso do Chefe de Estado ao Parlamento. Entre outras, neste discurso foram feitas referências explícitas sobre as manifestações e a juventude, reconhecendo-se que há um défice de diálogo entre o governante e governado, entre o cidadão e o servidor público, entre o detentor de obrigações públicas – Estado e o cidadão ou cidadã angolana que são portadores de deveres e direitos. Este conteúdo do discurso difere e se distingue da linha anterior que condenava os arruaceiros, os confucionistas etc. Em que ficamos? Como será na prática daqui em diante?


Os discursos de líderes políticos têm força de política pública pela sua característica orientadora. Nesta perspectiva, aqueles que na sociedade civil defendem e fazem advocacia social, seja de forma pública ou privada, seja sob pressão ou diálogo, a meu ver, poderiam aproveitar este discurso para puxar, levantar, agendar, planificar assuntos relevantes à sociedade a todos os níveis e sectores. Promover o diálogo através da participação do cidadão na vida pública e política, evoluindo nos diferentes níveis da participação: a participação no nível da informação – em que o cidadão recebe a informação de decisões que já foram tomadas; a participação no nível da consulta facultativa – em que os líderes solicitam opiniões, críticas, ideias para depois tomarem as decisões; a participação no nível da co - gestão – em que o processo é compartilhado mediante um grupo, que também pode tomar decisões; e, finalmente, a participação no nível da autogestão – que é o grau mais alto da participação em que as pessoas determinam elas próprias os seus objectivos, escolhem os meios e controlam a sua execução. Neste nível, todos os cidadãos membros tomam decisões.


Combinar diferentes abordagens metodológicas entre diálogo, advocacia social, pressão pública, comunicação, recurso a justiça e outras, são uma forma dos cidadãos e a sociedade fazer valer os seus direitos e interesses. Um estado forte se constrói com uma sociedade civil forte.