No bairro de Rangel, os votos começaram a entrar nas urnas às 11h locais (7h em Brasília), quatro horas depois do horário marcado para o início da votação, relatou José Silva Peneda, eurodeputado português que integra a missão de observadores da União Européia (UE).

Em declarações à Lusa, o eurodeputado atribuiu o atraso à falta de preparo dos mesários e a "aspectos logísticos", como a demora na entrega do material. No entanto, Silva Peneda afirmou que "o espírito é de tolerância e grande civismo".

"É de lamentar, mas temos de perceber que a rotina de preparação de eleições não existe [em Angola]. Se houver mais eleições, com certeza vão ser melhores", afirmou o parlamentar, que não concorda com as declarações da chefe da missão européia, a italiana Luísa Morgantini, que no início da manhã classificou como "desastrosa" a situação em algumas mesas de voto de Luanda.

"Um atraso de duas, três, quatro horas é muito para os padrões europeus, mas não devemos valorizá-lo excessivamente. Não podemos comparar eleições européias com eleições em um país onde não as havia há 16 anos", disse Silva Peneda.

Formada por 118 pessoas, a missão de observadores da UE é a maior presente em Angola para as eleições desta sexta-feira. A delegação do Parlamento Europeu inclui sete deputados de quatro grupos políticos: três do Partido Popular Europeu, ao qual pertence o social-democrata Silva Peneda, dois dos Socialistas Europeus, um dos Liberais e outro do Grupo de Esquerda Unitária.

Além da UE, enviaram observadores a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o Parlamento Pan-Africano e a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC). Há ainda cerca de três mil observadores angolanos espalhados pelas 18 províncias do país.

O deputado António Filipe, do Partido Comunista Português, também se encontra em Luanda como observador a convite do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder), sendo o único português em um grupo que inclui dirigentes políticos de Moçambique, Guiné-Bissau, África do Sul, China, Namíbia e Panamá.

Em declarações à Lusa, António Filipe, que circulou por várias seções de Luanda, mostrou-se “satisfeito” com o “grande entusiasmo” dos eleitores, que começaram a comparecer às urnas muito cedo, apesar dos atrasos provocados pela "grande complexidade".

"Algumas seções abriram e outras não, o que é normal face à grande complexidade dos procedimentos eleitorais, sobretudo em Luanda”, onde está cerca de um terço dos 8,3 milhões de eleitores inscritos no país, afirmou o parlamentar luso.

"Há grandes filas de eleitores e há também de tudo: convivência, respeito e tolerância. É um momento de grande festa”, acrescentou.

Segundo fonte contatada pela Agência Lusa, na província de Cabinda - onde atua uma guerrilha separatista -, a votação também começou com atrasos significativos, mas agora decorre com normalidade.

A mesma fonte apenas apontou a presença de membros do MPLA não credenciados nas mesas de voto, que alegaram que seus documentos de identificação não foram entregues a tempo.

Nestas eleições, as primeiras desde o fim da guerra civil angolana, estão em disputa os 220 lugares do Parlamento.

Longa espera

O atraso no início da votação em Angola provocou longas filas nas seções eleitorais de Luanda, com eleitores mostrando sinais de impaciência.

"Isto é muito aborrecido, porque toda a gente já sabia que ia haver eleições", comentou a freira Leopoldina Candeia, que entrou na fila às 5h30 (1h30 em Brasília).

"Devia estar tudo preparado, mas agora toda a gente está nervosa", declarou, após esperar cinco horas e acabar desistindo de votar.

"Angolano é assim mesmo, diz que começa às sete e começa depois", desabafou Júlio Esteves, também na fila desde as 5h30 locais, acrescentando que "isso não vai desanimar as pessoas, porque esperaram muito tempo por estas eleições".

Na Cidade Alta, os cerca de mil eleitores não precisaram esperar tanto quanto a maioria dos angolanos em outros pontos da cidade. No local, o presidente angolano, José Eduardo dos Santos, votou pouco depois das 8h30 (4h30 em Brasília).

A chegada do também líder do MPLA estava prevista para as 7h, o que causou impaciência, mas logo que José Eduardo dos Santos saiu, fazendo o "V" da vitória com os dedos, o processo começou de imediato.

"Há uma grande diferença em relação às eleições de 1992", declarou Francisco Manuel, 54 anos, o primeiro eleitor em uma das três filas de cerca de cem metros cada. "Isto se deve ao fato de o país estar em paz", afirmou o angolano, que considerou "uma grande honra" votar no mesmo local que o presidente.

Já Isaías Samakuva, líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita, maior partido da oposição), votou em Maianga às 10h locais (6h em Brasília). Quando o político passou à frente das centenas pessoas que esperavam na fila, um jovem deixou escapar: "Também gostaria de poder chegar, votar e ir almoçar". O rapaz teve que esperar por sua vez.

Além da presença das longas filas nos locais de votação, há muita gente circulando a pé pelas ruas de Luanda, mas o trânsito é menos intenso do que o habitual.

Fonte: Lusa