Lisboa - Quanto mais contemplo televisão, vejo os sketches do youtube sobre os acontecimentos nacionais, leio os portais de internet e alguns jornais independentes, mais me convenço de que somos um povo sequioso pelos valores da liberdade, da democracia e aficionados da crítica pura, dura e simples. Somos de facto um povo, na sua génese, pacífico, tolerante e dialogante. Porém, sem darmos por nós, continuamos presos aos extremismos dilacerantes. Os tempos mudam, é verdade, mas não mudam os valores.


Fonte: Club-k.net

Angola não pára e segue triunfalmente a sua marcha

 

Cada vez que assisto a um programa de televisão nacional, observo grandes mudanças nos discursos dos quadros nacionais - inclusive a indumentária mudou - mas revejo o mesmo olhar seco, de medo e incerteza, nos pacatos cidadãos chamados a opinar sobre alguma matéria de um qualquer tema nas notas de reportagem. Centenas de vídeos e imagens são postadas todos os dias no youtube e descobre-se uma Angola de contrastes. Uma nova Angola que emerge da terra vermelha, entre os escombros de um passado colonial e uma outra, não tão nova, mas maior – os musseques desordenados que engoliram os campos d´areia na comissão do cazenga ou o campo dos dinises no cariango, por exemplo, para não falar de um todo Luanda. Há naturalmente uma metamorfose, uma ruptura com o passado, um desafio ao presente e uma aposta no futuro. Mas todo esse crescimento se traduz apenas em duas palavras: revolução do betão.

 


O povo, os cidadãos, os governados, o Zé-povinho, o terceiro Estado, esses, continuam débeis porque lhes falta tudo. Mas faltam, essencialmente, referências morais e éticas dos seus governantes eclesiásticos e laicos. A relação material e espiritual num estado liberal e desregulado como Angola, fragiliza os menos capazes onde os mais aptos se sobrepõem a todos os restantes. A ética cai e a moral se desvanece. Como diz o velho e popular adágio, “Em casa onde falta o pão todos ralham e nenhum tem razão”. Esta imagem aqui reproduzida, responde às dezenas de vídeos, por mim, visionadas ao longo dos últimos anos.

 
E, ao ler os diferentes artigos e comentários nos portais de internet, tais como Angonotícias, Angola Clube K, para não citar todos, alguns blogues de pensadores angolanos, fico com a impressão que a ausência de valores e ansiedade de tudo nos transformam num povo agreste, intolerante, indiferente, sequioso de ajuste de contas com o passado, presente e futuro. Esta geração está à rasca e semi-perdida. O Governo tem a sua quota-parte da responsabilidade, mas temos todos a responsabilidade maior. Somos um povo maduro, jovem é certo, apenas temos de perceber que a nossa virtude estará em sermos humildes, solidários, generosos e compreensivos uns com os outros. Temos de aprender a dialogar. Democracia é isso.


Em nada nos fará crescer como uma Nação, sair à rua e acusar por acusar, apontar o dedo a este ou aquele por um direito coarctado que nos assiste, ofender um responsável por um acto de irresponsabilidade ou condenar um culpado sem assegurar a sua defesa e direito à vida, todas estas causas apenas nos tornarão mais odiosos entre irmãos, menores na virtude de grandeza e frustrados na esperança. A força do mal é poderosa e as suas consequências calamitosas no leito de um povo. As mudanças impõem-se com inteligência e sapiência. A emoção é a amante do coração mas a razão é a diva do saber. Saímos de uma guerra atroz. E quem mais perdeu um familiar, um amigo foram os pobres. Esses mesmos pobres que hoje se deixam enganar pela moda da palavra DEMOCRACIA, muitos nem sequer sabem o que ela representa epistemologicamente, quem sabe, os mais espertos, dirão vem da derivação da palavra grego – DEMOS+KRATO, o poder do povo, mas continuam sem saber o que Platão pensava a respeito e porquê.


Os “profetas” políticos do burgo, velhos e novos, verborreiam que lutam por um regime político democrático. Muitos nem em sonhos são democratas. São isso sim, uns déspotas sequiosos do poder a qualquer custo nem que para isso tenham de levar novamente Angola ao Caos. Já sei (os comentadores e articulistas de costume) dir-me-ão que fui comprada pelo regime. Aliás, como em cada artigo que escrevo é habitual ler as barbaridades de uns, não de todos obviamente. Vejamos as últimas notícias divulgadas pela Voz da América (Um órgão insuspeito):

1. Os militantes da UNITA no Namibe estão descontentes com a direcção em Luanda por transferirem o anterior secretário provincial sem que os restantes membros do staff e militantes tomassem conhecimento. O novo secretário provincial sai de Cacuaco e cai de pára-quedas no Namibe sem auscultação das bases locais. É esta a democracia que queremos?


2. A UNITA recebe 12 milhões de dólares em forma de indemnização do património espoliado pelo Governo antes do Congresso e ninguém é informado. É essa a imagem de transparência que queremos de Angola?


3. A UNITA vende a sede do secretariado nacional em Luanda, não há quem saiba por quanto e como foi investido esse dinheiro. É essa a probidade que queremos?


4. A UNITA perde em cada Congresso que realiza uns quantos militantes de primeira linha de referência intelectual e promove outros tantos de primeira linha não intelectuais. É com quadros mal qualificados que vamos mudar Angola?


5. Com estes “bons” exemplos e factuais, eu pergunto, como podemos guindar o nosso País para a senda do crescimento com desenvolvimento?


A mudança já se iniciou, Angola não pára e segue triunfalmente a sua marcha unida com os povos que apostaram na paz, no desenvolvimento, na qualidade de vida do seu povo com justiça social num Estado interventivo e não apenas regulador. Há-de encontrar o timoneiro certo para esta empreitada, alguém que já tenha provado ser duro, flexível, humano, corajoso, incorrupto, sério e responsável; que tenha Angola e os angolanos no epicentro do seu âmago sem complexos rácicos, regionalistas ou tribais. Mãos a obra!