Ondjiva - O povo da tribo Ambo, localizado no sul de Angola e norte da Namíbia, celebrou  segunda-feira o 95º aniversário da morte, por suicídio, do rei Mandume-ya-Ndemufayo, destacado líder da resistência contra a ocupação colonial portuguesa na região Sul de Angola, que preferiu a morte para não ser dominado.


*Fabiana Hitalukua
Fonte: Angop

Rei Mandume morreu há 95 anos

Hoje, passados 95 anos, o rei é venerado por preferir suicidar-se a ser capturado e, consequentemente, colonizado pelos portugueses, após o enfraquecimento do seu Estado, em 1917, pelas forças ocupacionistas.
 

Pertencente ao reino mais poderoso da tribo Ambós, o rei Mandume –ya-Ndemufayo, comandou os destinos do povo Kwanhama num dos períodos mais difíceis da história da região sul, de 1911 a 1917.
 

Desde então, o seu nome e feito ficaram marcados na tradição dos Ambós, que o apelidaram de "O cavaleiro incomparável".
 

A sua determinação dificultou o projecto de implantação da administração colonial, impondo duras derrotas às tentativas de ocupação do seu território, o que levou os europeus a aliarem-se contra o seu reino.

 
Durante o reinado de Mandume, as guerrilhas entre os povos africanos acabaram e passaram a ser apenas contra os portugueses que, a todo custo, tentavam ocupar a parte sul de Angola.

 
Antes da ocupação colonial, os Ambós estavam divididos pelos reinos, Kwanhama (o mais importante), Kuamatuis (pequeno e grande), os dois estados do Evale, Dombala e Kafima. Estes estados viviam unidos e não havia guerras entre si, salvo alguns conflitos por causa das guerrilhas no sul de Angola.

 
Além de Portugal, a Alemanha também queria dominar aquela parte de Angola, rica em recursos minerais e gado.
 

Depois da realização da conferência de Berlim, em 1885, os dois contendores firmaram um acordo sobre a fronteira sul de Angola, assente na delimitação actual.
 


Apesar do acordo, os alemães ainda alimentavam esperanças de vir a apoderar-se do sul de Angola, situação que fez com que Portugal ocupasse efectivamente o território. De 1886 a 1915 os colonizadores não tiveram a possibilidade de conquistar o Ambó, devido à resistência no reino vizinho do Humbe.
 

Por seu turno, os alemães faziam comércio e vendiam armas ao reino, esperando por uma oportunidade para o ocuparem.
 

Com o início da primeira guerra mundial, em 1914, Portugal apressa-se em ocupar o reino dos Ambós com o fito de evitar que outras colónias europeias o fizessem.
 

No ano seguinte, 1915, os portugueses ocupam o reino do Humbe, lançando de seguida um ataque surpresa a Ondjiva, capital do reino Kwanhama, do qual Mandume, na altura Soba, foi forçado a fugir.
 

Esta situação, aliada ao flagelo da fome que assolava a região, agravou o sofrimento do povo Kwanhama.

 
Em resposta, Mandume começa a reunir as tribos de todo o Ambós e fala-lhes da necessidade da luta contra os colonos.
 

A par destas actividades e tirando partido da rivalidade entre os alemães e os portugueses, Mandume dialoga com os primeiros, de quem recebe armas e outros apoios, visando a luta e, se possível, a expulsão dos portugueses da região, planos que agradaram então aos germânicos, também com interesses no Sul.
 


A partir daquela altura, 1915-1916, sob comando do rei Mandume, os africanos infligem então uma série de derrotas aos portugueses, que foram obrigados a abandonar grande parte dos territórios ocupados.
 


Contudo, os portugueses organizaram-se e solicitaram reforços que não tardaram a chegar. Ao mesmo tempo fomentaram a corrupção entre os africanos e estimularam lutas entre si para enfraquecimento do reino.
 

 

Passados alguns meses, os portugueses, já com mais armas e homens, além de contarem com a colaboração de alguns chefes africanos, lançaram uma ofensiva contra a região Sul.
 


Nesta ofensiva, os Ambós foram derrotados na batalha do Môngua, 66 quilómetros a norte da cidade de Ondjiva, na mesma altura em que outro exército nativo, OKwamatui, foi igualmente aniquilado.


 
Foi então que Mandume, apercebendo-se que a tribo havia de ser dominada pelos portugueses devido à traição de alguns dos seus próximos, suicidou-se, em 1917.
 


Para enaltecer a figura do rei, o executivo angolano construiu, em 2000, na localidade do Oihole, o complexo turístico em memorial ao rei, cujo acto inaugural foi em 2002 presidido pelo Chefe de Estado angolano, José Eduardo dos santos ladeado pelo antigo Presidente da Namíbia Sam Nujoma.
 

E no seu túmulo lêem-se as suas célebres palavras: "Se os ingleses me procuram, eu estou aqui, e eles podem vir e montar-me um ardil, não farei o primeiro disparo, mas eu não sou um cabrito nas mulolas, sou um homem (...) e lutarei até gastar a minha última bala".
 


Entretanto em Agosto de 2010 foi apresentado a maquete da estátua do rei, que mostra um jovem rei montado num cavalo branco, empunhando na mão direita uma arma, simbolizando a guerrilha contra o colono português e ao lado do cavalo o seu cão de guarda.
 

Os trabalhos encontram-se na fase final, no que toca o desenho da estátua, aguardando somente o parecer do Ministério da Cultura para tornar real a iniciativa, cujas obras vão durar seis meses.
 
A estátua será erguida na praça de Ondjiva, antiga ombala do rei Mandume.

 
Para saudar a data, o governo da província do Cunene agendou (domingo) um serão subordinado ao tema ”Reinado de Oukwanhama, possibilidades da reactivação”, que decorreu no memorial turístico do Oihole, local onde foi sepultado.