Luanda - Seja como for, MV vai ser cuidadosamente instalado e funcionará no Palácio Presidencial, em portas meias com a do gabinete de José Eduardo dos Santos, precisamente onde funcionou antes o seu primo, Aguinaldo Jaime, na qualidade de primeiro-ministro adjunto. Entretanto, o que vemos é que Fernando da Piedade funciona distante do Palácio, ali, como se fosse a “Faixa de Gaza”, e tem de pedir audiência para entrar no palácio. Manuel Vicente terá acesso directo.


Fonte: Folha8


Dos Santos mostra assim que o homem que mais capital soltou aos empreendimentos da família presidencial é da sua inteira confiança

 

Manuel Vicente tem competência profissional, enquanto gestor de petróleos, ou melhor, de uma empresa pública que tem por tarefa recepcionar os bónus e os lucros das vendas de petróleo.


Mas ainda não se lhe conhece uma veia que tenha trilhado isoladamente para multiplicar riqueza, o que é vai de si, não só raro, mas altamente abonatório.


MV tem também, fruto do dinheiro que gere, reputação internacional e créditos em algumas paragens, como senhor do petróleo angolano.


A nível interno goza até hoje da confiança de JES por razões supra mencionadas e por ser o fiel do cofre azul, com base nas receitas públicas do petróleo de todos os autóctones angolanos, mas apenas para favorecer uns poucos do MPLA e a família presidencial, fundamentalmente os filhos.


Tudo isso, parece-nos, não indica que ele tenha pedalada para os grandes palcos políticos, em que a maliciosa e, por vezes, agreste confrontação exigida nos jogos partidários o beneficie. Resta-lhe nesse novo jogo intelectual, o trunfo do capital o facto de ele estar imbuído da tese de que quem tem capital pode facilmente ter o controlo político. Arriscado!


Ou talvez não! E ousemos ir mais longe, conhecendo como conhecemos os usos e costumes da Casa, ou melhor, das Casas, Militar, Civil e Palácio Presidencial: quase por certo que não.

De facto se considerarmos como já assinalamos que esta parece ser uma manobra maquiavélica, Manuel Vicente está pura e simplesmente a ser usado para promover perpetuidade do consulado de José Eduardo dos Santos. O risco é só dele. Ser posto de lado depois de ter servido.
 
 
O futuro de Angola à beira dum precipício
 
 
Num acórdão do Tribunal Supremo, cunhado pelo advogado Raul Araújo, este alega que, constitucionalmente, José Eduardo dos Santos apesar de estar há 33 anos no poder, ainda não cumpriu nenhum mandato como Presidente da República, por nunca ter tomado posse de acordo com o que verte a Constituição, logo, só quando o fizer começará o seu primeiro mandato. Isto escrito a sim, a frio, assemelha-se bastante a uma piada de mau gosto, mas não é piada nenhuma, não obstante ser de mau gosto.


Assim sendo, o impotente povo angolano (por enquanto, e até quando?...), se não reagir, terá de suportar o que já começa a ser insuportável, a prepotência de JES, que ficará no seu poleiro de 2012 a 2017 e de 2017 a 2022 e, como existe um interpolado, estamos a vê-lo a colocar um laranja, como Putin fez na Rússia, e poder regressar, nas calmas, 5 anos mais tarde….


Nesta jogada, teremos JES no poder até 2027 é muito possível que neste agarramento frenético ao poder absoluto, o nosso guia mortal ultrapasse Mugabe em termos de longevidade no exercício de direcção de um país.
 
 
Nomeação ou mais uma queima de laranja
 
 
Podemos admitir, evidentemente, que possam as coisas não se passarem deste modo, mas o plano da permanência do actual presidente por tempo indeterminado no poder é inegável, pois só assim sendo, se compreende que JES tenha nomeado Manuel Vicente para ministro de Estado, quando faltam, cerca de 6 meses para o pleito eleitoral.


Não estamos a ver nenhum outro caso de figura em que tal decisão seja coerente. Trata-se de uma jogada maquiavélica, pois, convenhamos, ninguém que vá a jogo democrático de forma limpa, considerando a justo título que um pleito eleitoral é sempre imprevisível, faz cogitações seguras para depois desse período.


JES deu esse passo.


Concluindo: tudo isto significa estar feita a muambada e que o povo vai ter que engolir, mesmo que não goste, e o objectivo inconfesso é criar condições para os demais partidos serem apenas bombos de festa, pois antes da realização das eleições, com a privatização total do Estado, o MPLA já as ganhou.

 

O deputado Raul Danda considera, que “desde 1975 que andamos neste tirar aqui e por ali, como se fosse um jogo de xadrez e as coisas nunca mudam. Infelizmente, no país, temos um ente central, o Presidente José Eduardo dos Santos, que é quem dita as regras do jogo", daí que "Manuel Vicente tem sido veiculado como alguém que poderá ser a segunda pessoa na hierarquia do país, como vice-presidente. Agora vai para ministro da Coordenação Económica, fica ali, depois vamos ver o que ocorre, mas o núcleo duro do MPLA não quer Manuel Vicente, porque não tem história política", disse, acrescentando; "Estamos habituados a ver que as ideias de JES têm que vingar sempre. Tanto que ele quando ‘cisma’ com alguma coisa, essa coisa tem que acontecer. E não estamos a ver ninguém com peito, como se diz na gíria, para poder travar isso", concluiu.


Já Fernando Pacheco, engenheiro agrónomo e fundador da ADRA, lamentou "uma prática que tem vindo a acontecer" e que considerou prejudicar o desenvolvimento sustentado da economia angolana: "Estamos permanentemente a mudar instituições e as instituições não se consolidam, há pouco mais de um ano foi extinto um cargo que agora volta a aparecer sem nenhuma explicação pública. E também à nomeação de Manuel Vicente, meses depois de ser reconduzido no cargo que mantinha na Sonangol”. Para este engenheiro, “a política económica está sempre muito dependente do Presidente, pelo que a mudança poderá ser de estilo ou de métodos de trabalho, mas no essencial não mudará".