Luanda  - Ouvido o que têm a dizer da sua justiça os nossos ilustres políticos – e não só, diga-se em abono da verdade – pode-se chegar já a algumas conclusões interessantes. A primeira, quiçá controversa, é que se um possível adiamento das eleições tem um avô – toda a classe política angolana que não se consegue entender – o pai do seu boicote finalmente apareceu: a oposição parlamentar. A oposição não-parlamentar ainda vai pensando se é-lhes vantajoso ou não assumir o papel de tio de um nado que não se sabe ainda se será vivo ou morto…


Fonte: SA


Vem essa alegoria – da nossa autoria, confessamos – para dizer por outras palavras que claramente a classe política angolana não só não se entende como não dá mostras de querer fazê-lo. Fazer o que o nosso colega Gustavo Costa chamou uma solução politica para uma borrada judicial. Criado o impasse, só resta mesmo saber se o MPLA vai conseguir realizar eleições mais ou menos credíveis e continuar para a frente ou a UNITA e a oposição vão conseguir com o seu boicote forçar o adiamento das eleições e, com isso exigir participação num governo de gestão e prerrogativas hoje impensáveis na organização e controlo da máquina eleitoral. Analisemos então os prováveis (possíveis) cenários:

 

A UNITA – bem que gostaria que esse cenário – o do boicote e posterior adiamento – tivesse lugar. Na verdade parece ter uma estratégia bem delineada nesse sentido. Seria a principal beneficiária de um cenário desses, pois nunca se conformou com o papel menor que exerce por via dos resultados eleitorais de 2008.

 

Porém, tem à perna o factor Chivukuvuku. Uma hipotética não participação da «UNITA de Samakuva» nas eleições entregaria de bandeja o seu eleitorado tradicional àquele, que assim correria o risco de ver-se catapultado a líder da oposição – um bónus que nas mãos de um político do calibre de «Chivas» traria muitas dores de cabeça ao bom do «Ême». Bónus que este aceitaria agradecido pois seria um passo importante no seu anunciado percurso rumo à Cidade Alta. Assim sendo, mais tarde ou mais cedo a UNITA terá que vergar-se e ir ao jogo, até porque as «manifestações de Bento-Bento» mostraram que o povo ainda desconfia e muito do seu pendor para arrastar as pessoas para guerras onde saem todos a perder. Pelo que, uma UNITA a liderar o povo contra «os ninjas, os seus cães e os seus Kaenches» é uma probabilidade muito remota. Pelo menos enquanto as gerações líderes desta sociedade forem aquelas mais marcadas pela guerra que só terminou há 10 anos…


O PRS – Pode estar a encorajar a UNITA a ir por esse caminho para enfraquecer a sua capacidade de preparar-se para o pleito e, de repente saltar do barco e entrar em força nas eleições. É que, para além de manter-se de pedra e cal nas suas zonas tradicionais, o Leste do país, ao contrário da UNITA cujas zonas de influência foram severamente «estragadas» pelo MPLA, o PRS, dizíamos vai piscando o olho aos eleitores de outras zonas do país. Especialmente o Norte, cujos bakongo, cansados das lutas intestinas na FNLA e distantes de um PDP-ANA fraco por falta de meios financeiros, estão mais que afim de juntar-se a uma força que respira estabilidade e passa uma mensagem de defesa acérrima «dos povos rurais». Por esta via, este partido estaria mais perto do seu sonho, de ser a segunda maior força partidária e teria um bom trampolim para «atacar» a Cidade Alta.


Por isso mesmo, certamente o PRS não vai alinhar na «conversa» do boicote até ao fim. Quando aperceber-se que o MPLA cedeu até onde pôde e não está disponível em largar mais – fontes do SA dizem que este discurso ganha cada vez mais corpo nas hostes do maioritário – vai assumir a sua verdadeira agenda e avançar com armas e canhões à conquista do maior número de assentos parlamentares que puder. Ainda que para isso tenha que «trair» a UNITA de quem aliás é apenas um aliado circunstancial e não estratégico, para parafrasear João Melo…


A FNLA – essa, vai mesmo às eleições… mas com Lucas Ngonda. A Ngola Kabangu «e sus muchachos» só lhes restará emigrar para um outro partido, criar um novo ou arrumar as chuteiras. Pela aceitação que tem nas zonas tradicionais do «seu» partido – é considerado um verdadeiro traidor – o mais provável é que nem sequer obtenha os fatídicos 0,5% e vá à vida. Isso se não se aliar ao MPLA, para garantir a sua sobrevivência política, manobra essa que vai-se dizendo à boca pequena, já está em curso. Portanto, a FNLA não vai boicotar as eleições de 2012.


A Nova Democracia – Essa vai e provavelmente apoiará JES como cabeça de lista…
O Bloco Democrático – constitui-se na variável que pesará muito na credibilidade internacional das eleições. Liderado por políticos de craveira intelectual, técnica e política reconhecida dentro e fora de portas; fiel aos ditames da família política que escolheu, este partido apesar de não ter assento parlamentar, ser o «kassule» e ser-lhe atribuído um pendor «elitista», caso participe ou não será um factor de grande influência na forma como a comunidade internacional encarará as eleições, devido à aura de coerência que transmite. A sua postura quanto à sua participação até agora tem sido inequívoca: enquanto denuncia o que considera serem as irregularidades do processo, prepara-se cuidadosamente para as eleições. É, aliás, o único da oposição que diz alto e bom som que a muitos outros seus colegas da oposição (e do maioritário também) faria «um jeitinho» um arranjo que levasse ao adiamento das eleições, hipótese que rejeita à partida. Por formas que, caso haja condições mínimas para uma participação airosa no processo a posição «bédiana» tanto quanto a transmite agora é de avançar. Tiveram, no entanto, o cuidado de deixar margem para recuo caso reconheçam falta de clima político e outros para assim o fazer.


Os outros partidos da oposição não parlamentar, uns vão, outros não. Com excepção do PALMA que parece ter adoptado Abel Chivukuvuku, pouca diferença farão…


Juntando todos estes factores, é pouco crível que a oposição consiga fazer avançar a estratégia do boicote, pois desconfiam eles também uns dos outros e, no fundo, ninguém quer ficar de fora do Parlamento. Nem que seja pelos dinheiros que isso traz para os cofres do partido e pelos nichos de acomodação que proporciona a uns quantos militantes. E tudo indica que, o MPLA já se apercebeu disso e fechou as torneiras das concessões. A última esperança, centrada numa hipotética pressão internacional liderada pelas Nações Unidas, espatifou-se estrondosamente pela forma olímpica como Ban Ki-Moon os ignorou durante a sua recente visita a Angola.


Um possível «Plano B» poderia ser obstaculizar o processo de tal forma que não fosse possível organizar eleições de qualidade por razões meramente logísticas. Um país do tamanho de Angola e com as vias de comunicação como estão – melhoraram, é verdade, mas ainda não o suficiente para garantir um acesso fácil a todos os seus recantos – seria literalmente impossível organizar um processo tão complexo em menos de seis meses. A aprovação da legislação, a criação das Comissões Eleitorais Provinciais e Municipais, a capacitação dos brigadistas, a instalação das assembleias eleitorais, o transporte dos materiais, etc necessita pelo menos deste tempo para tudo estar a postos no Dia D. ora, esse arrastar de pés levaria a que, a partir de uma determinada altura (Abril-Maio de 2012) ou as entidades organizadoras teriam que atirar a toalha ao tapete, ou teriam que recorrer «a elementos estranhos ao processo» como foi em 2008, ou avançariam com umas eleições mal organizadas e cheias de falhas. Ora, qualquer dos três cenários daria azo para depois contestar os resultados. A essa estratégia, o MPLA parece ter respondido com o avançar do processo, com a oposição ou sem ela. Talvez porque apercebeu-se já que mais tarde ou mais cedo, ela virá cabisbaixa e quando isso acontecer, terá que dançar o batuque mampeloso que este partido tocar…


Em conclusão, com mais ou com menos barulho, tudo indica que as eleições serão mesmo em Setembro de 2012, com todos os partidos com assento parlamentar a participar. Mas com a maneira como estes estão a jogar as suas cartas, despreparados como estão e distraídos ainda por cima com questões de pormenor – o tal caso da preocupação com a árvore em vez da floresta – as eleições serão mesmo «só de pimpa» porque assim o MPLA tem todas as condições de ganhar. Depois dirão que é de fraude…