O MPLA governa Angola desde 1975 e criou raízes até as partes mais profundas de Angola e dos angolanos. A nossa historia, a historia de Angola gira em torno do MPLA. Os nossos valores, a nossa angolanidade é toda concebida pelo MPLA, inclusive o nosso conceito de nação. A UNITA de Isaías Samakuva parece que não tiveram estes factores em conta, pareciam muitas vezes alienados á realidade angolana, talvez porque muitos dos seus líderes da actual direção viveram as últimas décadas no estrangeiro, ou talvez em grande medida pelo facto da maioria deles ter vivido muito tempo na mata.
Isaías Samakuva devia ter estudado sobre as razões que levavam a maioria do povo angolano a refugiar-se do lado do MPLA do que preferir ficar nas zonas controladas pela UNITA no tempo da guerra. Devia ter levado em conta o facto do povo do Huambo, da Jamba e do Kuito e outras localidades do país ter recebido sempre a FAPLA (e depois a FAA) como libertadores ao invés de invasores hostis.
A causa disso explica muito bem o porquê que os símbolos da UNITA (Sigla e Bandeira) não são bem vindos em muitas partes de Angola. E a UNITA de Samakuva devia ter feito o que a UNITA liderada por Manuvakola fez: demarcar-se de Savimbi. É um erro muito grande, e até uma heresia para muitos angolanos, tentar pintar a imagem do Savimbi como herói, defensor da pátria ou até de mártir. Sei que para o Orlando Castro (OC), Savimbi também é um herói. Mas não é este o entendimento que a maioria do povo angolano tem, e a UNITA de Samakuva falhou em analisar como o povo angolano encara estes factores. Seria incoerente da parte deste povo que passou décadas a fugir da UNITA, e a temer a UNITA, colocá-los agora no poder.
Oposição copia teses eleitorais e Internet
Da mesma maneira que no passado os angolanos fugiam massivamente das áreas controladas pela UNITA (dominadas pela política do terror) e se refugiavam em áreas controladas pelo MPLA (que nem por isso era um mar de rosas), é da mesma maneira que agora o povo votou em massa na continuidade.
Porque talvez o O.C não saiba, mas a bandeira da UNITA, camisolas ou cartazes com a cara de Savimbi, e inclusive o próprio nome UNITA são considerados ofensivos para muita gente ainda. Para o O.C ter uma idéia melhor: da mesma maneira que um polaco ou JUDEU abomina o nome HITLER e a suástica, da mesma maneira os angolanos, a maioria, abomina os símbolos da UNITA.
Abel Chivukuvuku, que vive em Luanda há mais tempo, debaixo das “asas” do MPLA, de certeza que já se apercebeu disso a bastante. Inteligente como é, apresentou a sua candidatura e um programa que poderia salvar a UNITA. Era um programa que modernizaria a UNITA, lhe afastaria do nome “MUANGAI” e “SAVIMBI”, e introduziria uma nova consciência no seio dos militantes da UNITA, e uma nova dinâmica na política do país.
Poderia não ter ganho o MPLA, mas certamente que teria melhores resultados do que estes que agora a UNITA apresenta. Chivukuvuku com a sua oratória eloqüente arrastaria de certeza muita gente, conquistaria muitos pólos de domínio do MPLA. Da mesma maneira que o Windows 95 foi substituído pelo Windows 98, 2000 e XP, etc..., da mesma maneira a UNITA precisava fazer um “UPGRADE” nas suas políticas e na sua maneira de encarar os angolanos. Não o fez e deu-se mal.
Muitos angolanos também se abstiveram. Outros votaram em branco. Sabe porquê? Porque não se revêem no MPLA e nem vêem a UNITA (nem outros partidos) como alternativa. Limparam as mãos do processo. Confesso que me suprêndo pelos resultados da FPD. Merecia ser a terceira alternativa do país.
O facto do MPLA ter ganho, como já disse João Mello, não significa que o MPLA seja o melhor partido do Mundo. Mas, pelos vistos, ainda é o que mais segurança oferece para muitos em Angola.
Num país em que a oposição copia teses eleitorais e até programas de governação na Internet (ainda por cima de países europeus, como se a nossa realidade e a realidade européia fossem as mesmas), e num país em que partidos há, que apelam ao voto étnico, partidos que pregam o regionalismo e apadrinham a independência do território de Cabinda (parcela legítima do território angolano), então em que partido seria mais seguro votar?
Os partidos políticos da oposição devem trabalhar mais e melhor. Devem organizar-se. Unír-se. Devem criar programas de governo que se adapte á realidade do país. Devem conhecer melhor Angola e os angolanos. O argumento de que “em 33 anos não fizeram NADA (?)” não é o mais correcto, nem sensato, uma vez que a própria UNITA deixou de explicar o que fez durante os mesmos 33 anos. O MPLA concentrou-se no que fez durante os seis anos de Paz. Deixou (discretamente) o passado de lado. A UNITA remoeu no passado atirando todas as culpas só ao MPLA. Soa a injustiça, soa á má fé.
Eu pessoalmente, apesar de nunca ter duvidado que o MPLA ganhava, nunca imaginei que ganharia com mais de 55 %! O que sempre temia era uma maioria absoluta. Não será bom para o país. Maioria absoluta pode levar a ditadura (Parlamentar). Espero que o MPLA trabalhe para democratizar cada vez mais o país, e governe para todos os angolanos.
* Osvaldo S. Rodrigues
Fonte: O BLOGE DO OSVALDO