Luanda - Coque Mukuta e Cláudio Fortuna são dois jornalistas jovens. Fazem parte do topo do “iceberg” cultural da juventude angolana e decidiram escrever o que viram, ouviram e leram sobre o que se passou em 2011 no que diz respeito à “revolta da juventude”. A nossa juventude, ou seja, o nosso futuro!
 

*António Setas
Fonte: Club-k.net


O Centro De São Paulo, Shoping Laidy alberga na próxima quarta-feira o acto de apresentação da Obra: “Os Meandros das Manifestações em Angola – I Volume”

 
Daquilo que eles conseguiram tirar desses acontecimentos, o mais extraordinário de todos apenas foi reportado em filigrana, implicitamente, e talvez seja melhor assim, nem que seja para evitar que eles viessem a ser vítimas de perseguições tão estúpidas como inoperantes por parte de uma Polícia Secreta teatral, brutal, e pouco mais do que isso.

 
Gostaria de realçar, neste ponto preciso, que estas asserções em nada pecam pelo insulto vulgar, pelo contrário, poderão muito bem ser inseridas num rol laudativo a todas as polícias secretas do mundo, na medida em que personagens tão teatrais e célebres, como James Bond, João Bunda e outros Sherlock Holmes (brutalidades postas à parte), povoaram com grande aceitação o nosso imaginário.


Mas a nossa Polícia Secreta, angolana, especial, vai de si, tem algumas características que a diferenciam desses personagens célebres da história da espionagem, e, sobretudo, das autoridades instituídas que as tutelavam, nomeadamente no que concerne a excessiva entrega em actos de violência nessas missões que requeriam, segundo os filmes e os romances que as ilustram, uma certa circunspecção e tolerância, na medida em que os manifestantes, no caso angolano, eram jovens estudantes desarmados e perfeitamente inofensivos.

 
Quero dizer com isto que os nossos agentes secretos encarregados de reprimir, de minimizar, de intimidar ou outra coisa qualquer que afugentasse a nossa juventude já farta de ouvir as mentiras de falaciosos arautos, apareceram no terreno com tanta impetuosidade que o papel que lhes fora outorgado rapidamente se transformou em refrega, imaginada, preparada e executada em primeira mão por eles próprios, nas suas vestes de agentes mandatados pela Inteligentzia angolana em defesa de simples valores materiais e temporais, isto para não dizer financeiros.
 

Apareceram no terreno caricatamente mascarados à paisana e praticamente todos os participantes e organizadores das manifestações se deram conta de quem eles eram e de onde vinham, quer dizer, que tresandavam demais a agentes da polícia e vinham do SINSE.
 

Armados, manipulando garrafas cheias de líquidos irritantes e outras porcarias, avançando sem medo ao encontro dos jovens desarmados, não tiveram dificuldade alguma em submetê-los a uma avalanche de micro ataques individuais que se transformaram em pouco tempo em algazarras generalizadas, anunciadoras de graves distúrbios, que, sem perca de tempo, foram atribuídos não aos seus executantes, mas às suas vítimas.

 
Do que resultou, em cada uma das manifestações que foram organizadas durante o ano transacto, uma série de encarceramentos anárquicos apenas perpetrados para justificar a defesa da ordem civil em nome não da Nação, mas de uma parte da Nação.
 

Eis o que Cláudio Fortuna e Coque Mukuta relatam neste livro e, como já sublinhei, abstendo-se de apontar o dedo ao fundamental da história que eles narram, quiçá propositadamente, por razões de segurança pessoal.
 

É que o fundamental deste rol de protestos de rua aqui relatados reside na fantástica capacidade do poder instituído de se manter numa posição estática, parecem caçadores à espera do momento em que atacarão a sua caça, o que leva a pensar que os responsáveis da governação do nosso país não sabem, não ouvem, não vêem nem se dão conta de forma alguma do distanciamento que os separa dos verdadeiros problemas do povo, esses mesmo, camaradas, os de Manguxe, que tão necessário seria resolver. Não, para eles, nada disso conta e o protesto e a denúncia de toda a espécie de exacções e atropelos cometidos por eles, é considerado rebelião e ataque à soberania do Estado. E quando eles se dão ao luxo de propor soluções, essas mais não são que propostas para os manifestantes aderirem às suas ideias retrógradas. Chegou o tempo da mudança, ai isso é que chegou, e quem tem que mudar de atitude não são os jovens “revolucionários”, mas eles próprios.