Já se diz  por aí que uma tal de Fátima Roque será ministra do governo Angolano, ou que tem tudo para fazer parte do executivo Angolano. Se é verdade ou não, fofocas  ou não, já estamos aqui para antecipar nossa visão. Afinal, em fofocas todo  mundo quer escutar e dar o seu palpite. Todo mundo é filho de deus e quer se dar o direito de  pecar. Pecar bisbilhotando a vida dos outros. Eu não vim simplesmente bisbilhotar; eu vim, como um farpado, como um rasgado, um mendigo,  como um filho bastardo manifestar minha indignação; antes  mesmo de que essa nomeação se torne uma realidade.

 Como é tão fácil chegar a ministro nesse país para certas  pessoas. É tão fácil que basta por um boné do MPLA  que você um dia chega lá, mesmo que durante toda a sua vida tenhas se posicionado como ator intelectual de crimes horripilantes. É tão fácil que  basta ter tripla nacionalidade, viver vinte anos fora do país, nunca ter provado o prato típico  de  que a maioria da população Angolana  alimenta-se, mas mesmo assim você chega a ministro  de uma República chamada de República de Angola. Que bom mesmo que trocaram o  nome, porque de popular essa República já não tem nada. O que restou  mesmo  são  saudades e frustrações. Que pena! Só espero que um dia não transformem a República num imenso prostíbulo. Num paraíso onde as prostitutas de todo mundo possam ir se deleitar e cumprir com os seus programas. 

 A Acadêmica Fátima Roque que foi conselheira  de Jonas Savimbi  para assuntos econômicos e financeiros   deve ser aproveitada e reaproveitada com  todas as pompas possíveis. Ela é autora de vários livros segundo a imprensa. Nada mal dar um cargo  que esteja a sua altura  como acadêmica e profissional na área de economia. A propósito de suas publicações, ela será mais uma dessas discípulas  de Milton Friedman e Friedric Hayek? Que tal se a nossa professorinha  recordar em boa  hora aos seus colegas, governantes angolanos,  que aquilo que pregavam Friedman e  Hayek está comprovadamente tudo errado, e que é preciso ter cuidado com as ilusões do progresso da  sociedade Capitalista.

Sim, as teorias de Hayek e Friedman são tão inumanas, antiquadas, que qualquer mentecapto com cérebro de pintinho e com nível de escolaridade básico  poderá se dar por conta que a mesma nunca funcionou e jamais funcionará. É a típica estupidez burguesa, e como toda estupidez, durante décadas precisou de argumentos fortes e elegantes para ser defendida, mas que no fundo não tinha nada a ver  com a realidade. Quem sabe a professora consegue explicar aos  nossos governantes de  que a teoria  do livre mercado era mais um produto  de extravagância, que caracterizam aqueles riquinhos ou riquinhas que dão festas de aniversários para cachorros, enquanto nas favelas  ou musseques das cidades desse planeta  vemos  e contamos em cifras de milhões crianças a morrem de fome. Explicar a essa gente que as teorias de Friedman e Hayek  constituem o produto de um espírito caótico  e imundo de enxergar a vida. É  a maneira mais egoísta e oportunista de se lidar com vida.

Agora, vou falar sobre o reaproveitamento. Parece que o pessoal lá em cima especializou-se  ou no mínimo tem don para o aproveitamento de recursos humanos. Afinal não são poucos os que têm sido agraciados devido a uma possível regeneração.

Para  falar sobre reaproveitamento  vou precisar  cair no que é risível  e infelizmente humilhar-me. Vivi 8 anos na Ilha da Juventude, nada me envergonha disso, ao contrário estou muito orgulhoso de ter passado os anos de minha adolescência naquele  lugar. Pelo que tenho entendido nesse lugar ao longo do tempo passaram mais de 10 mil angolanos; possivelmente em toda  a Ilha de Cuba entre 15 a 20 mil angolanos. Todos com o grande objetivo de estudarem e se formarem. É verdade que quem passou pela Ilha da Juventude, em particular, não estava, durante esse tempo no meio do fogo, em uma guerra. Mas era tão objetivo e visível ver o sofrimento da comunidade Angolana na Ilha da Juventude com relação aos problemas do país  e em particular a guerra. Muitos de nós perdemos os familiares enquanto estávamos  estudando; por motivos de guerra, ou até pelos efeitos que a mesma provocava. Eu pessoalmente só um deles que sofri com esse tipo de baixas, começando pela  minha mãe, irmãos, tios, primos e por aí vai. Perdi todos eles enquanto me dedicava aos estudos e todos eles  foram engolidos pela guerra direta ou indiretamente.

O efeito sobre os problemas de Angola que caiam sobre nós como uma bomba psicológica  era tão impressionante, que no encaminhamento muitos de nós ( colegas meus) com quem convivia, alistavam-se voluntariamente para seguirem seus estudos  em áreas militares. Enquanto em Angola falar de voluntarismo nessa época para se ir ao exército era quase uma utopia. O que na verdade existia eram as chamadas rusgas. Fica fácil entender aqui o que significa encaminhamento, é aquele sistema de seleção que se fazia  anteriormente depois que você terminava o pré-universitário ou médio  para continuar a seguir os estudos para um curso de nível superior ou médio. Na verdade muito dos cursos militares eram cursos de níveis médios e rápidos, cursos técnicos  em áreas militares feitos na antiga União Soviética. Na época, a guerra era com os Sul-Africanos, a Kwacharada  vivia infernizando a vida das populações civis na retaguarda. Por essa atitude de voluntarismo e outras que não caberia espaço aqui para mencionar, muitas vezes ouvimos declarações reconhecedora do governo Angolano, dos seus representantes  máximos de que a  comunidade Angolana na Ilha da Juventude  era a melhor comunidade de estudantes com que Angola contava.

Um detalhe nisso  é que durante o tempo que permaneci em Cuba, mesmo já fora da Ilha da Juventude,   ainda nos chegavam as notícias  daqueles colegas que se foram, estando os mesmo na URSS, ou mesmo já em Angola no campo de batalha  ou no exército. É claro que entre essas notícias não faltavam nunca, ou quase sempre, eram notícias tristes de alguém, um ex-colegas, que já tinha perecido na guerra, estando em  Angola.

Resumindo na Ilha da Juventude como em toda a Ilha de Cuba ao longo de 15 ou 16 anos saíram, e até hoje ( na ilha maior) têm saído, pessoas bem formadas, em todas as áreas. Tanto para fazerem à guerra, no passado, como até para  manterem a paz. Entre eles bons economistas  que conhecem bem do mercado livre e das suas podridão, e  com detalhes além, conhecem também os seus limites.

Se nos posicionarmos no presente fica a  impressão que não existe nada de anormal  nisso. O que  pode sim existir é uma certa ironia, talvez uma certa tristeza. Uma certa tristeza de sabermos que o sacrifício de uns pode ser trocado, hoje, pela crueldade do passado. Essa crueldade que precisamente no passado tentou destruir aquele sacrifício de todas as formas possíveis; essa crueldade que no passado tentou até destruir o nosso voluntarismo de adolescentes em fase de definição.  A ironia está em que muitos de nós somos trocados pelo lixo do passado que nem chegou a ser reciclado. Minha pergunta,  altamente pretensiosa, porque reconheço que perante a esse fato não há nada que me permite ser modesto   -não tenho tempo para isso-  a pergunta é: O que fazia Fátima Roque na época em que existia uma comunidade de estudantes Angolano em Cuba? Resposta com a maior das certezas: Possivelmente, apoiando a grande causa de Jonas Malheiro Sidônio Savimbi, sim, aquele mesmo, que com o levantar de um dedo ou uma mão, acenava ou dava o comando para que crianças fossem jogadas na fogueira. Dir-se-ia,  também, que era a época da grande traição, em que Savimbi fazia um pacto com a África do Sul Racista.

Como defensora do livre mercado, da propriedade privada dos meios de produção e do Capitalismo a professora Fátima Roque deveria ser mais elegante, evitando ocupar um cargo público, criado e que existe para os pobres. Deveria ser mais elegante e imaginativa se pudesse mandar seu currículo a uma dessas empresas, que  abundam tanto em Luanda, e que se especializaram em dar emprego e fazer o tipo de seleção discriminatória, dando preferência como sempre aos descendentes de origem caucasianas. Deveria mesmo fazer a fila dos desempregados coisa característica do mundo capitalista onde os mercados funcionam livremente. Afinal, para ela não seria difícil cumprir a bicha! Mais liberdade do que isso só rodando a bolsa num dos bairros boêmio de Lisboa ou então como kinguila num dos cantos das ruas da cidade de Luanda. Capitalismo é assim! E é o que provavelmente a senhora sabe defender.

Esse governo, tão combatido no passado pelo anticomunismo, ainda que não pareça, ainda que tenha se trans-vestido ao longo dos tempos, é uma conquista dos pobres. É uma conquista dos 500 anos de luta contra o colonialismo português. É o produto de uma rebelião, a rebelião dos pobres, dos farpados, dos descendentes de escravos, daqueles que Paulo Dias de Novais ou o Diogo Cão não conseguiu empurrar em suas caravelas. É um produto desta grande e interminável rebelião: “a grande rebelião de camponeses e operários”.


Nelo de Carvalho
Fonte:
WWW.a-patria.net