Sabe-se também, de fonte próxima do partido no poder, que a VODACOM e a CELTEL, além de outras operadoras de telefonia móvel, gostariam de se instalar em Angola a fim de fazer concorrência directa à UNITEL e à MOVICEL. Mas isso já são outros quinhentos e é de crer que não haverá outra empresa para além das duas supracitadas, a não ser que as pretendentes aceitem sociedade com a “família real” ou um dos seus ramais, que, é claro, não entrarão com dinheiro, só darão autorização com alguma contrapartida em retorno. A não ser que algo de surpreendente se passe.
Neste cenário financeiro super-organizado, controlado de A até Z, com “Happy Ends” sistematicamente preanunciados nos casulos familiares da “Jet Society” angolana, numa espécie de Comédia Della Arte ao contrário, de facto uma verdadeira tragédia para a esmagadora maioria do povo de Angola, certo é que as eleições foram metodicamente programadas, com maestria, e o resultado está aí, à vista dos boquiabertos angolanos e aos olhos da África e do mundo.
Sem grande risco de errar pode-se dizer que a campanha eleitoral do MPLA começou com a divulgação de paióis de armas para fazer crer que o Galo Negro tinha na manga um plano subversivo, inaugurando assim uma estratégia de precampanha em que a UNITA era apontada como principal responsável e destruidora das infra-estruturas do País. Essa maneira de agir permitiu manter em banho-maria o medo que a guerra inspira e reavivar ódios recalcados, ao mesmo tempo que eram minimizados junto da opinião pública nacional e internacional os actos de intolerância praticados, de forma metódica e coordenada, superiormente inspirados, sobretudo no interior.
O Folha 8 tem em sua posse provas cabais desse modus operandi.
Depois deste primeiro passo, a dar o mote da campanha do partido no poder, foram enviados para a frente eleitoral todos os trunfos capazes seduzir o zé-povinho, quer dizer, os mais desfavorecidos e menos escolarizados dos autóctones, precisamente os mais humildes e os que mais sofreram com a guerra e que mais facilmente podiam ser manipulados. Para tal, o MPLA não teve dificuldade alguma em comprar influências, jogar com a tradição africana de modo a levar sobas, régulos e subrégulos, chefes de aldeia e chefes de família, de grandes linhagens, a aderir pelo menos verbalmente ao partido, mediante promessas de auspiciosas contrapartidas monetárias ou ofertas de bens materiais. Isto sem esquecer que, já muito antes de a campanha eleitoral ter começado, o partido no poder tinha desenvolvido acções que a dada altura já nem sequer secretas eram, de desintegração de partidos eventualmente capazes de trazer alguns contratempos à sua hegemonia (na realidade essas acções foram descobertas e divulgadas pelo Folha8), estamos aqui a referir-nos à sistemática diabolização, sabotagem e cometimento de actos de violência e dilapidação de bens contra a UNITA, o mesmo contra o PADEPA, tentativas de desintegração da FNLA, jogo de influências a complicar a vida do PRS, nada foi deixado ao aleatório, tudo foi cuidadosamente controlado com ajuda dos órgão de comunicação social do Estado e do SINFO.
Portanto, ao fazer, como fizemos aqui atrás, uma muito breve retrospectiva sobre os antecedentes da campanha eleitoral, apercebemo-nos de que, enquanto o MPLA agia nas calmas, por um lado apelando à tolerância, e por outro, tudo fazendo para colocar os seus opositores sob pressão, atirando contra eles «os lambe-botas, para atearem as intrigas, roupas sujas, explorando as diferenças de opinião como clivagens internas, empurrando-os uns contra outros e para, naturalmente, explorarem os seus dividendos», os seus adversários políticos, ultrapassados pelos acontecimentos, pouco mais faziam do que se debaterem com problemas de toda a ordem, a começar pelos financeiros até aos que lhes eram criados por esses lambe-botas e outros franco-atiradores manipulados por elementos exteriores às sua fileiras, e mesmo internos.
Outrossim, não se pode negar que o MPLA fez uma campanha como Partido-Estado, com meios financeiros do Estado, com instrumentos, viaturas, casas, material do Estado.
Por outra, foram evitados todos e quaisquer debates de ideias, e a oposição fartou-se de bater em ferro frio na esperança de moldar as suas armas de combate (verbal), para apenas conseguir desgastar o seu próprio martelo de ferreiro inoperante.
Enfim, a coroar o tudo, os angolanos puderam aperceber-se do que é realmente a opulência, no alarde de riquezas que não se podiam contar tantas eram, de bens de toda a ordem, a aparecer por toda a parte, obras programadas desde há dois, três, quatro anos e mais, a serem materializadas em forma de maratonas de sucessivas inaugurações, precisamente antes das eleições.
Era também o tempo da distribuição de terras, carrinhas, tractores, ambulâncias, dinheiros, casas, construção de pontes, escolas, hospitais, estradas, edifícios, ofertas generosas por toda parte, sobretudo nas áreas de influência da UNITA. Na sua grande maioria, para quem se mostrasse aberto às aberturas do MPLA.
A luta continua (dentro do MPLA)
O MPLA mostrou-se, mesmo assim, pouco seguro de si mesmo. A sua estratégia política eleitoral, a provocar divisões assustadoras que diminuem o respeito pelos valores da classe política, nada tinha de improvisado. Havia muita coisa em jogo, como de início referenciámos, a justificar o recurso a esses meios dúbios, mas o que estava ainda mais em jogo do que a supremacia política em relação aos partidos da oposição - por esse lado o MPLA estava mais ou menos à vontade -, era a vitória sobre os números de 1992, pois o resultado que saísse das eleições apresentava-se como um referendo a respeito do Presidente José Eduardo dos Santos. E isso porque a luta parece ser muito mais renhida dentro do próprio MPLA do que contra os partidos da oposição.
À porta está o 5º Congresso Ordinário, e este resultado foi pão abençoado à mesa de JES. Se o MPLA perdesse a maioria de que desfrutava há dezasseis anos no Parlamento, e porque existe hoje uma clara divisão entre os camaradas, silenciada apenas pela necessidade de vitória contra o adversário comum, a UNITA, os dias do reinado de José Eduardo dos Santos poderiam estar contados.
Agora, só falta ver que tipo de legitimidade será outorgada ao resultado final destas eleições, e ainda, esperar que não se concretizem as denúncias que circulam pelos bastidores, de ter havido, pelo menos em preparação, uma monumental fraude organizada.
Fonte: Folha8