Os bons discursos podem até gerar aplausos, mas eles precisam de um processo de fusão com a realidade, ou melhor de um encaixe entre teoria e a prática. É nesse encaixe que reside o milagre do convencimento. Vou tentar teorizar a fundo, imitando os clássicos do Marxismo, da mesma forma que precisamos de um partido revolucionário para se fazer uma revolução, é preciso um partido de mudanças para se produzir mudanças em uma sociedade.
O pior erro na nossa democracia, e erro cometido pelos partidos de oposição, em geral, quase todos eles: é quererem convencer às grandes massas de Angolanos sofridos de que o MPLA está caduco e transformou-se num partido de gente reacionária. O fato de que alguns militantes do MPLA sejam corruptos, ou de que no seio desse partido político existem corruptos, isso não torna o mesmo partido um partido reacionário e imprestável. É preciso reconhecer que o MPLA, apesar de suas falhas e erros, ainda é prestável e está muito além de ser um partido reacionário. E que a corrupção é um problema social e que se transformou num fenômeno cultural e endêmico. Que a corrupção é o maior problema social que enfrentamos no pós-guerra. E é aqui onde deve entrar a ação da oposição, incluindo o FpD. Com certeza muito dos militantes do MPLA veriam com simpatia e grau de aceitabilidade não só as propostas boas e eficientes para se combater a corrupção, mas acima de tudo tornar-se-iam parceiros nessa luta contra a corrupção, se essas propostas viessem acompanhadas de bons exemplos. E porque não dizer: o próprio povo.
É preciso não nos esquecermos que nossas convicções, quando elas são certas e justas, nos levam a tomar atitudes que podem servir de exemplos para uma sociedade como a nossa. Uma sociedade cansada de todas as mazelas, mas que continua acreditando no partido no poder, porque tem, ainda, no mesmo o único partido capaz de resolver os problemas existentes. Cansada dos boatos, das faltas de provas, dos discursos e das faltas de exemplos que tanto se precisa nesse país.
Vemos, em parte, que a maioria dos militantes do FpD são jovens dinâmicos, aparentemente, com muita certeza naquilo que dizem. Se for assim os bons exemplos não deviam faltar, além disso, o FpD pode não fazer parte do poder, mas seus dirigentes conhecem bem como funciona a máquina estatal angolana. E é na sua cúpula onde saem geralmente as maiores acusações e suspeitas contra o partido no poder. Esse povo aqui em baixo estaria muito grato se do mesmo partido, o FpD, surgissem as iniciativas de provar o que há de baixo do tapete e da mesa onde o nosso sistema apóia-se.
Não estou ironizando nem jogando os militantes do FpD numa jaula com leões, onde pudessem ser devorados com qualquer tentativa de molestarem o anfitrião. Mas é que nessa luta pelo poder –insisto em dizer- falta o exemplo a ser dado. É verdade que atrás desse exemplo sempre existem o risco e o sacrifício, que no fundo, pensando bem, não chega a ser o sacrifício que David precisou para enfrentar Golias. Exageros de que o regime é assado, frito e cozido.
A imagem que se tem do FpD é de um partido de lamentadores que vêem na estratégia do partido no poder a causa para os seus próprios fracassos ou, ainda, sua visível incompetência. O FpD exagera em suas acusações, precisamente não convincente, quase sempre a beira do ridículo, por exemplo, quando caracteriza a atitude do partido no poder, o MPLA, do novo neo-fascismo angolano; o FpD força ter uma ideologia que na verdade não tem. Faz uma análise das coisas esquecendo-se da verdadeira realidade do país em que vivemos; está mais para o ocidentalismo democrático gerador de crises e conflitos mundiais do que para uma sociedade onde a solidariedade entre todas as forças políticas faz-se necessário. O FpD falha, ou seus dirigentes, quando acredita ou faz acreditar as pessoas que quem deve ser combatido é o MPLA e não a corrupção.
O FpD irrita-se não pelo fato de o MPLA estar no poder, mas pelo grau de legitimidade que esse partido tem, pela força com que o mesmo partido está inserido na sociedade angolana. Destruir isso em curto prazo é quase impossível.
Por outro lado, e mais importante, ao FpD, e diga-se a toda oposição falta a liderança da mudança que saiba espelhar-se na alma desse povo. Por isso, enquanto essa liderança e os exemplos não surgirem só de oratória acadêmica será difícil convencer a gregos e troianos.
Nelo de Carvalho,
Fonte: WWW.a-patria.net