Capítulo III
Campo de concentração do “Tari” & Hitler e Mussolini
Tari é o nome oficial de um dos vários campos de concentração utilizado apôs os acontecimentos do 27 de Maio de 1977 em Angola. Fica situado na Kibala. Não esquecer este campo de concentração que foi utilizado, como o vale da morte lenta, assim como as cadeias de S.paulo, CR em Luanda e outras tantas que estavam espalhadas pelo país inteiro, os seus métodos e os seus crimes é dever de todos aqueles os que não querem que volte a haver em Angola e no mundo coisas idênticas.
Que a verdade se diga: que o campo de concentração do Tari, não foi tão abertamente brutal, e arrogante como nos campos criados pelos então regimes de Hitler e Mussolini, mas temos que ser realistas em dizer que, principalmente quem por essas cadeias e campos passou, em afirmar que a actuação e métodos utilizados foram quase idênticos. É verdade que tais informações, geralmente chegam um tanto tarde ao conhecimento do povo, porque existem sempre pessoas mal intencionadas, que pretendem esconder ou camuflar certas verdades, e muita coisa só se fica “mesmo” sabendo quando os governos são depostos. É assim em toda parte e sempre foi assim e acredito que Angola não fugirá a regra.
A repressão foi utilizada para impor no país e principalmente nas cadeias, um ambiente de terror e medo e como disse a brutalidade utilizada por muitos dos nossos irmãos, como Carlos Jorge e outros nas cadeias em Luanda e não só, assim como Dumilde Chagas Rangel (Namby ), Lopo Loureiro, Mateta e tantos outros no campo de concentração do Tari, ultrapassavam os limites.
São vários os casos de colegas, que morreram prematuramente já depois de libertos, como consequência directa das violências e maus tratos sofridos, nessas cadeias derivadas dos massacres do 27 de Maio. Enquanto outros mesmo depois deste tempo passado continuam, vivendo vários traumas psíquicos. Manos, foram anos de vida sacrificados num campo de morte lenta onde de tudo um pouco nos fizeram. Também tinham irmãs nossas no cativeiro ou seja no vale da morte lenta, como prefiro chamar, e delas falarei mais adiante.
Inclusive na altura quando já tudo parecia estar mas manso -normalidade-, fui atirado para uma cela, das mais duras do Tari, porque a ultima hora em plena parada ou formatura, onde estavam mais de 600 presos, fui acusado de agitador. Uma cela, aonde de dia era como a noite, pois, não entrava o mínimo de raio solar. Passados oito dias, quando de lá saí, quase não via nada porque as vistas apanharam um grande choque com o primeiro contacto solar. De lá sai com um paludismo agudo e esperava por suporte médico que não existia e tão pouco uma simples "rezoquina". Durante aquele período rezava que Deus me desse sorte de continuar vivo e juntamente com todos os outros mwangolês, não parar de revelar os factos verídicos.
Durante décadas tivera guardado importantíssimas revelações. Aproveito neste capitulo expor tais factos que durante vários anos tinha guardado só para mim: Deixa-me lembrar de alguns colegas: (ŽZé agostinho, que foi o primeiro coordenador da JMPLA em Luanda e como grande musico e compositor formou a chamada dupla, “DUO” MISSOSSO, com o conhecido e famoso Filipe Mukengue.
Este amigo infelizmente já não se encontra entre nós e dele também voltarei a falar. Pedro Augusto, conhecido por (Pedrito )no sambizanga onde nasceu e cresceu, junto ao (betâo zaíre ). Este foi o primeiro director dos desportos que Angola, teve logo depois da independência, também já não existe.
O Mateus Morais De Brito Júnior, um dos grandes cronistas e primeiro redactor principal, do antigo jornal (angolense) pessoa de quem o Dr. Agostinho Neto muito admirava, pela forma, tão objectiva, como escrevia suas, crónicas e artigos. Hoje e deputado deputado do MPLA, devo a minha vida e os conhecimentos que tenho a este compatriota. Muito obrigado por tudo meu Kota.
Com ele no campo partilhei metade do tempo que me sobrava para chorar e rir, mesmo quando não havia motivos para sorrir. Brito Júnior chegou a ser Ministro das Obras Publicas e como muito sacrifício completou o seu curso de letras. Ambrósio Lemos actualmente comandante provincial da polícia, Fernando Sousa, Dede, Paulo king Júnior, Joaozinho Cordeiro, D.lopes, J.Gonsalves, Costa Dambi, Nando Saturnino, Rui Costa, Filomena Costa, Melisa Santana que foi esposa do redactor principal do famoso programa radiofónica (Kudibanguela a vida em busca de uma nova nação), viera, Pimpâo, Lubato,Conceicâo, Fuso, S.Cassete, M.Figueiredo, Reginaldo Silva, Dr.Areias, Vasco, Nene, Carrasquinha, Betinho, Nbala, P.Santos, Pacheco, Araldo, Tonto, Bavon, Meno, Kipuko, Joâozinho Carikoko, Velasco, Dominguinhos, Machado, Simiâo,Mister, Mbuko, Lungo Veloso e tantos outros que mencionarei na 4°-parte destas memórias.
Pois “manos”, a DISA tinha criado toda uma rede de cadeias por onde passaram, antes e depois do Tari como os campos no Moxico e outros pontos de quase todo o país. Oregime prisional em todas essas cadeias e campos de concentração, eram de vigilância total, constante, alimentação deficiente e os castigos e torturas já faziam parte do regime regular repressivo. Os contactos com a família eram feitos raramente e no meu caso até me foram impedidas visitas, embora tivesse, parentes até com cargos, de certa influência. Todos os dias cada um esperava sempre por um milagre, ou um mandato de soltura que raramente surgia, ou então a vala comum, onde por vezes quando menos esperavas já eras.
Os tempos foram passando, sem que muita coisa mudasse, apenas as doenças, como o paludismo, mosquitos (…) continuavam dia-a-dia a fustigar o nosso quotidiano, faziam de nossos corpos já quase cadáveres, sua fonte para matarem sua sede com nosso sangue. A forma como fomos tratados, cheguei a pensar que o regime não fazia distinção entre o ser humano e animais, quando chegava a hora para a tortura.
A mais brutal, expressão da violência repressiva apôs os acontecimentos do 27 de Maio de 1977 foi sem dúvidas a abertura de campos de concentração um pouco por quase todo o país. Voltarei a falar de outras coisas, assim como também da nossa actividade política e intelectual no campo apesar da vigilância cerrada e da forca das armas e da fúria de alguns manos que nos tomavam conta e prometo não me esquecer de como nossas manas foram tratadas sem qualquer piedade.
Brevemente estará nas bancadas e neste cantinho aqui, onde já nos habituamos a contar, conversar, discutir, criticar como é natural todos os mambos sem kigila, porque como disse meu grande kamba (Mulemba 1).D.L (Não vale há pena xinguilar).
* Fernando Vumby
Fonte: Club-k