Benguela - Mais de 5 toneladas de farinha de trigo importada pelo executivo angolano, através do consórcio angolano Armanke, no quadro do seu programa que visa a estabilização do preço do pão apodreceram em dois armazéns, localizados no município da Catumbela.
*Zé Manuel
Fonte: Folha-8
As causas sobre os motivos que levaram a deterioração de tanta farinha de trigo estão a ser apuradas pela Polícia Económica em conjunto com o INADEC e supervisão do Ministério Público, já levaram a selagem dos referidos armazéns e a destruição do produto no aterro sanitário da comuna do Dombe Grande.
Segundo o director provincial da Polícia Económica de Benguela, superintendente – chefe, Pembele Zanzo a farinha de trigo chegou a Benguela em Fevereiro deste ano e passado algum tempo, começou a apresentar indícios de deterioração, facto confirmado através de análises laboratoriais.
Assim, os reais motivos que levaram ao desaire de mais um projecto económico do executivo, desta feita, virado para o combate da alta do preço da farinha de trigo, com influência no custo do pão, cai por terra, devido a negligência ou irresponsabilidade, de alguém.
No seio da classe empresarial ligada a indústria de panificação na cidade do Lobito e de Benguela, existe a unanimidade de a deterioração das mais de 5 toneladas de farinha de trigo “se ter devido a ganância dos mentores do projecto”.
Uma fonte de F8, considerou que a entrega da gestão comercial do projecto, ao consórcio Armanke, cujos accionistas, são membros influentes do partido no poder, logo sem experiência em planificação, estão na origem do desaire.
Como exemplo apontaram ainda, o facto dos “bosses” da Armanke, radicados em Luanda, terem subcontratado as Organizações Miguel Neto, da Huíla para gerir a empreitada da farinha a partir da Catumbela. “Mas nós em Benguela temos empresários experientes no ramo da importação e comercialização do referido produto, ao contrário do nosso colega do Lubango, que está ligado a área da restauração”, afirmou a nossa fonte.
Por outro lado, não deixou de enfatizar, o facto dos libaneses terem o monópolio da farinha de trigo, no mercado angolano, por conseguirem adquiri-lá a preços mais baixos no mercado internacional, logo não lhes deixando qualquer possibilidade de concorrência interna.
Mas, ainda assim, com o preço inicial fixado em cerca de três mil kuanzas, foram obrigados, os empresários, a baixar o preço do saco de 50 kg até cerca de novecentos kuanzas e que mesmo assim as vendas mantiveram-se lentas até ao ponto da sua deterioração.
A qualidade da farinha argentina, também foi questionada pelos principais agentes comerciais, por, na sua óptica não superar a marca da farinha importada pelos libaneses que é o suporte dos industriais de panificação na província de Benguela.
O acondicionamento da farinha de trigo sem os mínimos requisitos de segurança como, arejamento e falta de espaço para uma conveniente estiva e as altas temperaturas que se verificam, neste momento em Benguela está igualmente a ser apontada como a principal causa da sua decomposição.
O consórcio angolano Armanke foi quem organizou em Fevereiro do corrente ano a sessão técnica sobre a demonstração da qualidade da farinha e as técnicas usadas na indústria da panificação, ao lado da empresa argentina Lagomarsino. Na altura, poucos sabiam, que por detrás desta engenharia, havia já o carimbo de alocar o projecto ao consórcio de Luanda, em detrimento dos operadores locais, completamente cilindrados por questões políticas.
FARINHA NO LIXO
Fosse a responsabilidade da deteriorização destas toneladas de farinha de trigo, de um membro da sociedade civil ou da oposição e já teria, o facto aberto os principais noticiários e a PGR e a polícia já estariam no encalço do prevericador, mas como o responsável é do partido no poder, a culpa vai morrer solteira e o povo que se dane, até porque o dinheiro até parece mesmo dos senhores do poder.
Assim, vimos o aterro sanitário do Dombe Grande ser invadido por dezenas de camiões, para lá depositarem, para destruição, as toneladas de farinha de trigo deterioradas. Os populares das cercanias, face a fome, não quiseram saber do seu estado e foram se amontoando, para tentar encher uma caneca ou panela. “Eles brincam com a comida, nós lutamos com a fome e a fome é cega, mano, pois nós vamos morrer mesmo de qualquer forma, pois não temos comida, nem boa nem estragada”, disse ao F8, em Umbundu, um popular.
Com rios de dinheiros já gastos e atirados para o lixo, os empresários do ramo de panificação esperam, agora, que as autoridades de direito consigam responsabilizar o consórcio Armanke responsável por estas perdas avultadas, adquiridas com dinheiro do estado angolano.
*Em Benguela