Lisboa - “Vem da parte de quem?”. Esta foi a segunda de duas perguntas que me fizeram quando, no início de Abril, contactei o gabinete da cônsul-geral de Angola em Lisboa, solicitando uma audiência para apresentar dois projectos culturais.


Fonte: Club-k.net

Táctica do silêncio: Querendo significar indeferimento

 

Ao que respondi: “da minha própria parte”. Isto depois de me indagar a mim própria, se sendo eu de Catete, filha, neta, bisneta, etc. de catetes, precisaria de uma qualquer outra parte para ser angolana com voz nas instituições que têm por missão atender os cidadãos nacionais.


Como os milhões de angolanos não tenho a tal “parte”, não sou “conhecida”, como deixou claro a minha interlocutora na 1ª pergunta que me fez, logo no início do telefonema.


Liguei, identificando-me pelo nome, profissão e nacionalidade (angolana e única) e o que pretendia. Do outro lado da linha, a interlocutora respondeu: “mas eu não a conheço!”. Retorqui: “é normal. Não pode conhecer todos os angolanos residentes em Portugal”.


Imbuída de alguma ingenuidade, ainda acreditei que, apesar dessa troca de palavras pouco afável, me fossem conceder a audiência. Por isso, passados alguns dias, entreguei na Missão Consular um dos projectos, em que convidava o Consulado a juntar-se a outras entidades nacionais e estrangeiras envolvidas no projecto de promoção da Cultura nacional numa Escola Internacional que com alunos de mais de 30 nacionalidades se assemelha a uma mini Nações Unidas.
 

Esperava apresentar pessoalmente, durante a solicitada audiência, o segundo projecto (Matabicho com…), cuja a finalidade é levar a Cultura nacional a crianças e jovens, filhos e netos de angolanos da diáspora que, grosso modo, pouco ou nada conhecem da realidade de Angola.


A resposta foi um rotundo silêncio. Significando que o destino do meu pedido terá sido o caixote do lixo. Não sendo o silêncio resposta em termos administrativo e mesmo diplomático, estaremos perante comportamento arrogante e incompetente, adjectivos que não qualificam o diplomata.


A mesma táctica do silêncio, querendo significar indeferimento, também foi usada, no ano passado, pela Embaixada ao meu pedido de apoio institucional a iniciativa. Por me recusar a transformar a Representação Diplomática do meu País em caixote de lixo de projectos em prol da Cultura nacional, não voltei a contactar a Missão Diplomática, apesar de sugestões nesse sentido de entidades envolvidas no projecto.


Curiosamente, ou não, na mesma altura a Embaixada atendeu célere e favoravelmente a um pedido de estudantes cabo-verdianos que solicitaram patrocínio para comemorarem o dia de África na Escola Náutica de Lisboa, com destaque, obviamente, para a cultura de Cabo Verde.


Futebolização da diplomacia

Essas missões diplomática e consular que são tão lestas a promover competições etílicas, eufemísticamente designadas por caldos ou duvidosos concursos de miss com fins obscuros ou ainda peladinhas, trumunos (futebol) entre “equipas” tão desniveladas que produzem resultados do tipo 13-0 (treze-zero), são as mesmas que se remetem ao silêncio arrogante quando o que está em causa é a diplomacia cultural.


Porquê que põem no lixo um projecto que teve adesão imediata e desburocratizada das embaixadas de Cabo Verde, da Guiné-Bissau e de Moçambique para além do Ministério angolano da Cultura, da Câmara de Comércio e Indústria de Angola (CCIA) e da TAAG?
 

Quando futeboleiros são travestidos de diplomatas, com acção centrada no “glorioso” futebol, por melhor que sejam as suas intenções, dificilmente a diplomacia sai a ganhar, porque o lugar do futebol é o relvado e não o salão nobre da diplomacia.


Numa altura em que, por um lado, a pujante reconstrução do país é referência em todo o Mundo e, por outro, a aposta na angolanização de sectores decisivos da economia nacional é uma das bandeiras do MPLA não se percebe como é que há “diplomatas” que praticam uma política de exclusão de angolanos, dando da diplomacia nacional a imagem de foz onde desaguam os incompetentes.


Ditos diplomatas que apregoam aos quatro ventos que foi o 25 de Abril que nos libertou e não a luta dos povos de Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde e Moçambique que forçou a Revolução dos Cravos, o derrube do regime fascista em Portugal.


Pseudo-diplomatas que reproduzem teorias ditas científicas, segundo as quais  os portugueses “apenas tiveram uma presença em Luanda de 400 anos e que não era colonização”. É caso para perguntar: era turismo?


Será que Ngola Kiluanje, Njinga Mbande, Viriato da Cruz, Agostinho Neto, Mário Pinto de Andrade, Holden Roberto e tantos outros faróis da Resistência e da Luta de Libertação contra a ocupação e dominação coloniais eram malucos?