Lisboa – Álvaro Sobrinho, que exerce as funções de presidente não executivo do Banco Espírito Santo Angola (BESA), tornou-se o maior accionista do Banco Valor, uma outra instituição financeira angolana. Assembleia-geral do BESA está para breve. 

Fonte: Negócios

…e deve sair do BESA

Esta entrada no Banco Valor, que opera essencialmente nas áreas do imobiliário, comércio e aviação, deverá traduzir-se na saída da Álvaro  Sobrinho do conselho de administração do BESA.

O maior accionista do Banco Valor era, até à data, Rui Miguêns, antigo vice-governador do Banco Nacional de Angola, com 20% do capital. Da estrutura accionista faz também Frederico Cardoso, secretário do conselho de ministros de Angola, o qual possui uma participação de 14,09%.

A estratégia de Álvaro Sobrinho, segundo fontes contactadas pelo Negócios, é a de criar uma rede comercial neste banco, aproveitando as estruturas da Universal Câmbios, na qual também terá interesses. O Banco Valor tem um activo de 73,2 milhões de dólares e encerrou o exercício de 2012 com um prejuízo de 12,1 milhões de dólares.

A relação entre os dois factos é também sublinhada pela "África Monitor". "A transacção [compra de parte do Banco Valor] coincidiu temporalmente com uma AG do BESA, banco de que Sobrinho ainda é presidente, mas eventualmente poderá vir a deixar de ser". Álvaro Sobrinho, contactado, não respondeu, às questões colocadas pelo jornal Negócios.

ANGOLANOS ESCOLHEM "CHAIRMAN",BES INDICA PRESIDENTE EXECUTIVO

Esta mudanças surgem num momento em que se prepara a assembleia-geral (AG) do BESA, ainda sem data marcada. Esta AG deverá ditar mudanças na equipa de gestão, sendo provável as saídas do presidente executivo, Rui Guerra, e do presidente não executivo, Álvaro Sobrinho.

No âmbito da mudança do sistema de governação do banco, concretizada em 2012, passou a existir um líder executivo e um "chairman". Em paralelo, o BES e os accionistas angolanos do banco chegaram a um entendimento sobre a forma de nomeação dos gestores.

O BES, que tem 51,94% do capital indica o presidente executivo do BESA e a Portmill e a GENI, com posições de 24% e 18,99%, respectivamente, escolhem o presidente não executivo.

A Portmill é identificada como uma empresa com ligações ao general Hélder Vieira Dias ("Kopelipa"), chefe da casa militar de José Eduardo dos Santos. Assim, caberá aos accionistas angolanos decidirem sobre Álvaro Sobrinho, apontando o seu substituto.

Depois Da Guerra, As Tréguas

As alterações no BESA deverão também colocar um ponto final no clima de "guerra surda" a que se vinha assistido, significando uma reaproximação entre o BES e os accionistas angolanos. A deterioração da situação tornou-se notória com a passagem de Álvaro Sobrinho a "chairman" e a escolha de Rui Guerra para presidente executivo do BESA.

Esta mexidas tiveram lugar no âmbito da aprovação de um plano estratégico, que consagrou a criação de um modelo dual de gestão, com um "chairman" e um presidente executivo.

O gestor do BES e Ricardo Salgado foram alvo de críticas, como por exemplo as veiculadas pelo semanário "Agora", considerando que as mudanças então efectuadas resultaram de "ingratidões internas e externas". O mesmo jornal referia ainda, em Dezembro de 2012, que os gestores portugueses do BESA estavam em situação ilegal em Angola, devido ao facto de não terem vistos de trabalho.

Este jornal angolano é detido pela família Madaleno, da qual faz parte Álvaro Sobrinho. Esta família detém em Portugal o semanário "Sol", 15% da Cofina, dona do Negócios, e tem um contrato de gestão do diário "i".

Apesar deste clima frio, publicamente, o "chairman" do BESA sempre elogiou o presidente do BES. "Tenho uma relação de confiança com o doutro Ricardo Salgado. Do ponto de vista profissional ele é líder do BES, do ponto de vista pessoal tenho com ele uma relação do melhor que podia acontecer. Não tenho nada a apontar", afirmou Álvaro Sobrinho numa entrevista concedida ao Negócios em Luanda, em Dezembro de 2012, por ocasião da inauguração da nova sede do BESA na capital angolana.