Luanda – Na recente entrevista a televisão portuguesa SIC, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, perdeu uma grande oportunidade para provar aos angolanos e ao mundo as suas convicções democráticas.

Fonte: facebook do autor

Ao ser interrogado sobre as manifestações, que no pais acontecem desde 2011, promovidas por um grupo de jovens, contestando a sua permanência no poder, mais de três décadas depois – um recorde que, alias, parece assumir com bastante orgulho – o Presidente referiu-se de forma pejorativa aos promotores das manifestações como sendo "jovens com certas frustrações", que "não conseguiram" ou "não tiveram sucesso durante a sua vida escolar ou académica".

Teria sido uma oportunidade para o Presidente dar um exemplo de tolerância, e provar que é o primeiro guardião da Constituição e das leis – leis, sublinhe-se, promulgadas todas por ele desde 1979.

Pois é a Constituição que no seu art. 47o reconhece aos cidadãos "a liberdade de reunião e de manifestação pacifica e sem armas, sem necessidade de qualquer autorização".

É este o artigo da Constituição que o Presidente da Republica devia ter evocado para lembrar que os jovens, quando o contestam, estão a exercer um direito constitucional, o que e' típico nos regimes democráticos.

Sem minimizar, aproveitaria também condenar qualquer acto de violência associado as manifestações, e fazer a apologia da sua legitimidade - embora contestada - baseada nos resultados das ultimas eleições gerais, realizadas a 31 de Agosto de 2012. Pois, se foi "eleito democraticamente", suponho que devia reivindicar a legitimidade de cumprir o mandato que lhe foi conferido pela maioria.

Mas, pelo que vimos, o Presidente não tem esse tipo de convicções, e disse exactamente aquilo que lhe vai na alma, contrariando quase todos os seus discursos escritos que falam em "dialogo", "tolerância", "aprofundamento da democracia" e outras tantas expressões do género, usadas só para embelezar.

Os jovens que o contestam, por mais poucos que sejam, e mesmo discordando das suas reivindicações - o que é natural - merecem o respeito e consideração do Presidente da Republica, porque eles também são cidadãos angolanos e batem-se por Angola.

Foi isso que a Presidente Dilma Rousseff, do Brasil, fez na sua primeira reacção publica sobre a onda de manifestações que assolam varias cidades do pais. Dilma, que chegou inclusive a ser apupada, ao lado do presidente da FIFA, reconheceu que as manifestações eram legitimas, e elogiou a forma pacifica e ordeira como decorreram, depois de se ter ultrapassado o primeiro momento de tensão, que resultou em alguma violência policial.

De forma inteligente, e visando aplacar a ira dos manifestantes, Dilma reconheceu as reivindicações, e disse que o seu governo ouviu as vozes "pela MUDANÇA". "As vozes ultrapassam os mecanismos tradicionais das instituições, dos partidos políticos e da própria midia".

Dilma foi mais longe ainda, ao sublinhar que "tem orgulho" dos manifestantes e que as manifestações "comprovam a energia" da democracia brasileira, a "forca da voz da rua" e o "civismo" da população.

O discurso de Dilma Russeff, que circula abundantemente na Internet, mostra claramente a diferença entre uma ditadura e uma democracia.