Luanda - Avançar prognósticos, dar palpites, vaticinar, tentar adivinhar; Fazer previsões;Antecipar os acontecimentos e por esta via tentar controlar e gerir o tempo futuro, sempre a nosso favor; É o grande projecto!

Fonte: Morrodamaianga

É, contudo, a missão impossível em todo o seu resplendor, pois de facto não é possível esta gestão mais pessoal do futuro de acordo com os nossos desejos e ambições.

Uma impossibilidade que às vezes também tem como obstáculos factores demasiado artificiais que são nos são colocados desnecessáriamente no caminho, por quem deveria fazer exactamente o contrário, que seria desimpedir a via para deixar o cortejo da vida em sociedade, passar sem outros condicionalismos, para além daqueles que são compreensíveis e aceitáveis.

A nossa compreensão dos fenómenos ainda permite perceber bem onde terminam os verdadeiros e começam os artificiais.

Se assim fosse, se fosse possível acertar no totoloto do tempo futuro, o mundo seria o tal mar de rosas sem espinhos, com que todos sonhamos pelo menos uma vez na vida e com que alguns mais “românticos”, passam os dias a sonhar, pois não encontram outra solução para os seus problemas recorrentes, que não seja fazer este exercício com os olhos bem acordados.

Deste modo tentam manter a esperança ainda mais viva do que aquela que nos ensinaram na escola da vida, que como se sabe é a última a morrer.

E é de facto a última morrer, está provado, porque os seus titulares acabam sempre por morrer primeiro que ela, o que transforma a tal de esperança num bem perene que se vai transmitindo de geração para geração, de família para família, de pais para filhos.

É este culto da esperança que nos vai animando e aldrabando com a verdade, pois também está provado, que sem esperança poderíamos ter que enfrentar um culto ainda pior e que algumas seitas na história da humanidade têm praticado com bastante sucesso, que é o culto do suicídio colectivo.

O grande problema desta esperança que é a última a morrer e que nos mantém à superfície da vida, é que ela, na maior parte das vezes, também já não resolve nem ajuda a resolver nada, tendo apenas alguma utilidade como tábua de salvação e como travão para não procurarmos outras soluções mais eficazes para os nossos problemas sociais.

Como travão, a esperança é um “produto” muito usado no quotidiano dos países, sobretudo por aqueles que fazem promessas com o compromisso e a responsabilidade de não nos estarem a vender ilusões.

Passamos depois o tempo todo a ouvir justificar os incumprimentos e as não realizações com o argumento do tempo que não é suficiente, quando se sabe que em muito menos tempo e com muito menos dinheiro se podem resolver alguns problemas mais prementes que infernizam a vida das pessoas.

Assim embalados pela canção da esperança que é a última a morrer, mesmo sabendo que somos nós que vamos primeiro que ela, cá estamos nós cantando e rindo, ano após ano, festejando os revéillons, disparando fogo de artifício, bebendo espumante barato ou champanhe caro, renovando os votos de feliz ano novo e de boas entradas, mesmo que tenhamos saído a cambalear do ano findo, sem qualquer motivo para celebrar, seja o que for, para além da nossa própria desgraçada existência.

Muito boa gente gosta de fazer esta antecipação dos acontecimentos no inicio de cada ano em relação a mais um ciclo de 365 dias, com que dividimos artificialmente o calendário da vida.

Eu também gosto apesar de todas as reticências aqui manifestadas, pois encaro este exercício com mais um meio que as pessoas têm ao seu alcance para partilhar expectativas e deste modo fazer chegar a mensagem a quem ainda quer saber o que pensamos e como queremos que o país cresça mais e distribua melhor.

Assim se chama entre nós, pelo menos até 2017, a canção da esperança, por sinal, devo reconhecer, uma das palavras de ordem melhor concebidas, por quem nos governa há mais de 38 anos.

Como sabemos o crescimento, sendo ainda manifestamente insuficiente para as necessidades do desenvolvimento humano, vai-se fazendo quase em piloto automático, mas a distribuição é que não está a acompanhar este ritmo, por razões que podem ser desbloqueadas em 2014, caso haja vontade para tal.

O Papa Francisco identificou na sua mensagem de Ano Novo a chave/código para se resolver esta maka da distribuição em Angola e no resto do mundo. Chama-se fraternidade versus egoísmo. Tão simples quanto isso. Fica-se com a primeira, exclui-se o segundo, que em angolês quer dizer trungungu.

Não é a primeira vez que alguém me fala deste binómio, para além de me já ter ouvido a mim próprio falar várias vezes do mesmo. Sendo o Papa uma novidade e a falar pela primeira vez do dito cujo, serve-me perfeitamente para resumir todas as minhas expectativas para este ano.

A fraternidade, disse o Papa, “gera paz social, porque cria um equilíbrio entre liberdade e justiça, entre responsabilidade pessoal e solidariedade, entre bem dos indivíduos e bem comum. Uma comunidade política deve, portanto, agir de forma transparente e responsável para favorecer tudo isto.”