Luanda - Os últimos meses de 2013, foram transcendentais do ponto de vista da análise politica em Angola, por três fatores fundamentais e que marcarão de forma crítica e com um certo grau de imprevisibilidade, o Ano de 2014:

Fonte: Club-k.net

Image- A questão do estado de saúde do Presidente da República, José Eduardo dos Santos (JES), que inquestionavelmente apresenta-se debilitado e doente.

- A questão da sua sucessão, um termo apócrifo em democracia, já que esta pressupõe alternância.

- A questão aflorada por dois oficiais generais; O CEMG- adjunto para a Educação Patriótica; o General Egídio de Sousa Santos “Disciplina” ao nível do BP do MPLA e, o 2o Comandante da Policia Nacional; o Comissário Paulo de Almeida aos microfones da Rádio Eclésia, sobre a tentativa de Golpe de Estado em Angola.

As três questões estão correlacionadas e, os últimos acontecimentos no SINSE/SINFO, com o vazamento de informações do “iner circle” estratégico desta estrutura securitária, para a opinião pública, sobre Kassule e Kamulingue, e com a consequente exoneração de Sebastião Martins, acrescido da referência “en passant” da referida temática, pelo Presidente da República, na sua mensagem de Ano Novo, serviram exclusivamente para o controlo dessa estrutura securitária pondo-o em exclusivo, ao serviço da Casa de Segurança da Presidência da República, como haviam feito com o SIE de Fernando Miala, com vista a que a sucessão, que passa na conjuntura atual e de forma inequívoca, por Manuel Vicente (MV), se faça sem grandes constrangimentos e sem demasiados anti-corpos no seio do MPLA.

É que, o estado de saúde do Presidente da República, já não permite, que se equacionem planos A ,B ou C para a sua sucessão. JES ficou por culpa própria, sem espaço de manobra, dado o espaço temporal crítico em que se encontra e, quer queiramos ou não, MV será o seu vislumbrável substituto. O 7º Congresso Ordinário do MPLA a realizar este ano poderá trazer-nos as novidades que se impõem.

Como equacionar a sucessão, face aos demasiados anti-corpos contra Manuel Vicente no seio do MPLA? E, fundamentalmente no seio do seu Bureau Político e, acima de tudo acrescido da perda inexorável e gritante do eleitorado, sabendo o MPLA que não ganhou de forma inequívoca e transparente as eleições gerais em 2012?

Estas são as questões de fundo, que urge analisar e acautelar, porque joga-se a sobrevivência da elite predadora, que acumulou descomunal riqueza e, que quererá manter sob sua liderança os destinos deste país, mesmo tendo em conta as adversidades, face a contestação ainda que “risível” do eleitorado interno do próprio MPLA, assim como do eleitorado extrínseco ao MPLA.

Não faz parte do DNA do MPLA, enquanto partido-Estado, imolar dirigentes seus, a propósito do desaparecimento de dois ativistas cívicos, mesmo tendo em conta, a pressão dos partidos políticos e de grupos cívicos.

O assassinato de Nfulupinga Landu Victor, como líder politico carismático e acima de tudo, como membro do Conselho da República, teria merecido a mesma atitude do partido-Estado e da Presidência da República, o que obviamente não aconteceu.

Então o que terá mudado? Parece-nos ser esta a questão fulcral da análise política actual. Cinicamente, Kassule e Kamulingue foram utilizados pela Casa de Segurança da Presidência da República, como bodes expiatórios ( parece- nos paradoxal mais não é), para a consolidação do poder e de mando, sobre todas as estruturas securitárias e de repressão; Exército, Policia, SIE, faltava o SINSE/SINFO, estrutura cujo mando estratégico e operacional fugia ao controlo da Casa de Segurança, por ter sido criado, a imagem e semelhança do actual presidente da Assembleia Nacional; Fernando da Piedade Dias dos Santos “NANDÓ”, igualmente presidenciável.

Eis a questão de fundo, daí que que se justifique, a não exoneração do adjunto de Sebastião Martins. Se por um lado, a estratégia Kussule Kamulingue, dos serviços secretos e da elite que dirige efetivamente o

O país, capitaneada pela Casa de Segurança, visava não só a exoneração do seu titular, mais acima de tudo, intimidar toda a estrutura operacional do SINSE/SINFO, para que, eventuais presidenciáveis e, candidatos a sucessão ,não tivessem igualmente porto seguro num órgão repressivo.

Toda e qualquer outra interpretação, sobre este aspecto, apesar de legítima é mera quimera. Não nos esqueçamos, que a analogia à Agostinho Neto, aquando da sua morte parece-nos pertinente, porque só essa elite predadora, sabe exatamente qual a situação de saúde JES, podendo definir os “timing” políticos.

O único senão dessa estratégia, chama-se Oposição e, fundamentalmente o partido UNITA, que ao levar a questão de Kassule e Kamulingue para a “rua” com a manifestação, retirou parcialmente e não só, a iniciativa politica dos serviços secretos , trazendo o debate politico para à Rua.

Dai a Teoria do Golpe de Estado, à exemplo de Maio de 1977, apimentada de forma igualmente não inocente, pelas informações dos serviços secretos cubanos, segundo a qual, estariam em Cuba, mais de 70-80% de cadetes a fazerem curso de mando de Estado Maior, pertencentes ao grupo étnico- linguístico; Ovimbundo.

As peças do puzzle, que faltavam para a fundamentação do Golpe de Estado, por parte da UNITA, parecem estar a ser encaixadas de forma subtil e deliberada, porque a argumentação de golpe sem uma componente aparentemente militar é um “flap” e cai por terra. Quais seriam as peças do puzzle?

- A Casa de Segurança, tem vindo a insuflar desde há um tempo a esta parte, o actual Chefe do EMG, General Geraldo Sachipendo Nunda, com assessores diretos, provenientes das ex-FALA, nomeadamente; os Generais; Kamorteiro na Logistica, Wuambo no EMG e Vilinga na Academia Militar.

- A informação dos Serviços Secretos cubanos sobre os cadetes de maioria Ovimbundo atualmente em Cuba.

Tendo sido assumido, um domínio avassalador sobre os contestatários internos dentro do MPLA à sucessão de JES por MV, com o assalto ao SINSE/SINFO, resta a essa elite, controlar a Oposição, nomeadamente a UNITA, para que o debate político não vá a Rua, que provou ser, o melhor palco político e o antídoto igualmente avassalador, a essa elite predadora que sequestrou o MPLA e, que objetivamente não tem base eleitoral sustentável.

Como controlar a UNITA para lá dos limites aceitáveis, que essa minoria predadora definiu?

Não tendo resultado, os actos de provocação, de intimidação, de humilhação, de chantagem e de corrupção! A teoria do Golpe de Estado afigura-se a mais acertada e, como encetar um Golpe de Estado sem a componente militar visível, estando a UNITA completamente desarmada? Urge urdir um plano, a semelhança de Maio de 1977, e os elementos atrás referidos justificariam o aparentemente injustificável, para o inicio da decapitação.

Há entretanto um senão, nessa estratégia, suicida? Por parte dos estrategos do Presidente, a de que não estamos em Maio de 1977, a Guerra Fria acabou, o Mundo tornou-se multipolar, a imagem de desgaste da ditadura, quer interna como externamente é inexorável.

A base da fundamentação do Golpe de Estado e, sua aceitação por parte do eleitorado emepelista e não só, é insustentável e a não existência de um inimigo interno armado, retira a carga emocional unanimista, para a sua aceitação.

Paradoxalmente, os adversários internos dos estrategos do Presidente no seio do MPLA, necessitam da Oposição como pão para a boca, para a sua própria sobrevivência politica.

E esta só sobreviverá politicamente, se levar o debate político para a rua ( entenda-se manifestações), este é o único local, onde essa elite predadora, não se sente como peixe na água, daí o medo e o alarido do Golpe, porque nitidamente, têm a noção exata que perderam em toda sua latitude a sua base eleitoral, se é que alguma vez as tiveram. Se a Oposição não perceber isto, é porque não percebe de politica, deixem-se escravizar, mas não iludam o POVO.

*Politólogo.