Luanda - “Os quimbundos são os mais penalizados pelo sistema vigente, sob a ‘batuta’ do MPLA-JES” – Anonimo

Fonte: Club-k.net

“Um olhar no passado!”

Na era da “outra senhora” isto ė, na era colonial , era subjacentemente comum (se me permitem a expressão) “ouvirmos” que o mundo estava dividido em dois grupos ‘antagónicos’ a saber; Norte e Sul, Angola pelo que me pareceu, não podia ser a excepção a regra, porem, tal ‘divisão’ “geograficamental” em angola raiou por vezes as fronteiras do ridículo, mais tarde com o advento da chamada era, da “consciencialização politica” percebemos “explicitamente” que o colono desde os remotos tempos, foi especialista na arte de “dividir para melhor reinar” e foi graças ao exímio manejo e brandir desta arte – explanavam com rigor os ‘pregoeiros’ da novel ciência politica então em voga -, que um punhado de homens com meia dúzia de escopetas de terceira categoria, conseguiram conquistar e subjugar nações, povos inteiros – muitos deles com um invejável sistema e organização de estado - e PAUlatinamente, o inteiro continente africano, uma “Porção” de terra ‘bastas’ vezes superior ao continente europeu.

“CAIU O BAILUNDO!”

Tal política, ou melhor tal malévola arte foi minuciosamente refinada, competente e periodicamente actualizada, para manter psicológica e mentalmente ‘knockauteados’ – subjugados, os povos nas chamadas colónias. Claro, em Angola não foi (insisto) excepção, a ‘regra’ foi aplicado com excelente rigor, assim ‘víamos’ (com estes olhos que a terra um dia vai comer), Umbundos contra quimbundos, Chócues contra Bacongos, Bacongos contra Umbundos, uma miscelânea rigorosamente afinada com um único intuito; manter ‘vivo’ o sistema colonial a desfavor dos autóctones, pois a união dos povos de Angola, representaria uma serie ameaça ao sistema.

A divisão mais “sonora” esta(va) implícita entre o NORTE e o SUL, o primeiro com os Quimbundos no domínio o segundo com os Umbundos a dominar... porem tal divisão, foi mais perceptível no desenvolvimento socioeconómico de angola, o colono prestou “mais atenção” na minha opinião, por razoes depravadas, ao centro-sul do que nas demais regiões (Cabinda produtora de petróleo e as Lundas produtora de diamantes, mantiveram-se miseráveis), para compensar tal aberração, ‘propagou’ o estigma de que; “Os sulanos eram burros, parvos e obedientes a dominação colonial, “bons rapazes”... ao passo que os nortenhos, com os quimbundos a Cabeça eram os mais inteligentes e blá-blá-blá”.

Os sulanos, foram etimologicamente reduzidos a “Bailundos” (há uma razão para isso, que não me convém descrever agora), tudo que fosse ou ‘cheirasse’ a sul, era desprezado e vilipendiado, era comum ouvirmos expressões tais como; “seu bailundo de merda!” Infelizmente tal ainda se ouve amiúde, principalmente (pasme-se) em Luanda, quando Marcolino Moco, foi exonerado da função de primeiro-ministro, ouviu- se bastas vezes o nefasto estribilho; “caiu o Bailundo”, como pode um bailundo mandar o País, disse-me certa vez alguém, algures, Bem!.. Também já ouvi o contrário no sul referente a dirigentes nortenhos. Porem, tenho a nítida impressão que ė mais pacifico vermos ou ouvirmos de um nortenho a dirigir algures no sul do que o contrario.

“CAMUNDONGO Ė BRANCO (Mundele)!”

Porem (aparentemente incompreensível) ao mesmo tempo, os quimbundos eram/são os que apregoavam e orgulhavam-se por “melhor esgrimirem a língua portuguesa” quando se ouvia alguém a “cacarejar” o português, ‘disparavam’ sem dó-nem-piedade; “BAILUNDO!”... Com raríssimas excepções, comportavam-se “tal & qual” o colono e disso faziam alvoroço, por exemplo, exibindo nomes totalmente afiançados pela língua colonial, conheci (1970-1973) uma mamã quitandeira natural da “ilha de Luanda” que se chamava: Marta Figueiroa das Neves Ferreira Pinto, não era raro as vezes que ela própria mal citava o nome, mas exibia com orgulho a sua ‘caderneta’ bilhete de identidade, para fazer pompa vulgo “banga” do nome. Mas, quando ‘ouviam’ alguém chamar-se: Matias Chingoma Chivangulula, riam-se a bandeiras despregadas, (até hoje, ainda se ouve as risadas e olhares de troça), quando se ouve algum nome em língua nacional.

Há meses atras, fui testemunha (padrinho) de uma criança, quando o funcionário da conservatória propôs que a mesma tivesse o apelido do pai; “Chileyeika” a mãe insurgiu-se; “vão-lhe gozar na escola!”...

Não faz muito tempo, conheci alguém em Luanda com o seguinte criptónimo; “Mona mundele” (filho de branco)...

OS MOVIMENTOS DE LIBERTAÇĀO

A Luta armada, dos movimentos de libertação nacional (MPLA, FNLA, UNITA) nenhuma deu inicio, na região centro-sul, porem não quer isso dizer, que os povos do centro sul, não protagonizaram proeminentes revoltas e afrontas contra o regime colonial, apenasmente as condições geográficas do centro-sul, não favoreciam a

 

tal acção, os Bacongos e os Quimbundos, “tirando vantagem” das suas condições geográficas e não só, inevitavelmente deram o “tiro de partida” da luta armada de libertação colonial, no desenvolver da mesma, outros povos juntaram-se ao objectivo.

Inquestionavelmente se pode dizer, que o norte de Angola e o Leste, pelo seu (atrevimento) apoio a luta de libertação nacional, foram severamente “castigadas” pela administração colonial, pois ‘colocaram’ para o efeito o epicentro do desenvolvimento socioeconómico no centro-sul em detrimento das demais regiões.

A cidade de ex-Salazar e a província de Kwanza-norte, a velha campeã da produção de café, Cabinda a antiga sede do petróleo, Malange e as Lundas, “exibiam” já na era colonial, uma pobreza de doer o coração – Comparado (naltura) com as cidades e províncias de Benguela, Huambo, Bié e Huila.

Que “vestes” ostentam hoje as cidades: N’Dalatando (ex-Salazar), Malange, Saurimo, Dundo, M’Banza-congo, Uíge e outras fora do eixo centro-sul? Miséria redobrada e contundentemente dolorosa, não ‘exequível’ com a contribuição generosa que cada uma delas “desembolsou” para a libertação do INTEIRO País e desembolsa materialmente para o Orçamento Geral do Estado, a ultima vez que estive no meu torrão natal (Malange), depois de 30 anos de ausência física, não consegui permanecer mais de 30horas, não mudou praticamente nada, sai chateado com o que vi... QUE FLAGRANTE INJUSTIÇA!

Certo amigo, com quem um dia troquei expressões sobre este ‘estranho’ fenómeno em Angola, disse-me qualquer-coisa, como; “Os quimbundos têm mania de que são espertos... eles não detêm o poder! O mais-velho Makuta N’kondo tem razão, quando diz que são os filhos dos “provenientes” que detêm o poder real, por isso...”

Tal como na era colonial, o Quimbundo tem a SENSACAO de que “manda em Angola” quando “à-socapa” ė desprezado, o sulano ainda ė vilipendiado mas ainda ė “o que vive melhor!”... certo amigo, coronel das FAA (natural da Ganda) depois de muito tempo prestar serviço no sul, nomeadamente Huambo e Huila, quando transferido para M’Banza Congo (Zaire), não acreditou na miséria/abandono que lhe rodeia.

CONCLUSAO

Depois de mais de 30 anos de independência, ė sobejamente visível a “não diferença” entre o sistema vigente e o sistema colonial, ambos empregam a mesma tácita; “Dividir para melhor reinar”.

 

Hoje, o MPLA-JES olha com mais atenção o “centro-sul”, não por razões humanitárias, porque se assim fosse olharia na igual proporção para outras regiões do país, mas, olha para o centro-sul por razões puramente política, pois sabe que ė o bastião da UNITA a verdadeira ameaça a continuação ou permanência no poder... resumindo, esta mais preocupado em “manter vivo o sistema” tal como a administração colonial.

O MPLA-JES, denota uma preocupação mesquinha para com a formação da Nação, os seus dirigentes não são vistos a expressarem-se na língua nacional, nas raríssimas vezes que o fazem em publico, fazem-no com um sorriso zombeteiro e escarninho no canto dos lábios, como se fosse “uma maçada”, por isso as línguas nacionais não vigorarem no sistema de ensino, pois sabem que tal iria “knockautear” a réstia do tribalismo que ainda ‘teima’ em permanecer por mérito dos actuais dirigentes...

Certo amigo Sul-africano, ficou abismado quando em Angola constatou que a TV publica reserva apenas uns “tantos minutos” para as línguas nacionais e o tempo de “Leão” para o Português.

ABAIXO O TRIBALISMO OU... VIVA O TRIBALISMO!

Isomar Pedro Gomes