Luanda - Esta semana fomos até ao Hotel Alvalade aqui em Luanda, onde já não íamos há bastante tempo, por obra e graça de um convite que nos foi formulado pelo Ministério da Administração do Território (MAT), para conversarmos com o titular do pelouro ao sabor de um pequeno almoço que se prolongou até cerca do meio dia e que por pouco não dava almoço.

Fonte: Opais

Como se sabe, este formato que pode ser considerado uma espécie de “off-the-record” (mas não o é exactamente), onde não há microfones nem câmaras, ainda é pouco usado pelas instituições oficiais para comunicar com com os jornalistas e os agora muito na moda comentaristas/ fazedores de opinião.
Permitam-nos aqui a chaveta para dizer que eles estão a ficar cada vez mais famosos, a tal ponto que as instituições e a própria opinião pública cada vez lhes dão mais importância e espaço, havendo quem já prefira falar apenas com os ditos cujos, evitando mesmo os jornalistas, pelo que deve haver aí algum mérito da sua parte.


Estando o problema do lado da informação jornalística, então a coisa ainda é mais complicada para quem tentar analisar e aplicar a lei da oferta e da procura ao mercado da comunicação em matéria de conteúdos.


O destaque vai certamente para “Elas e o Mundo” da LAC que é a nova coqueluche do nosso panorama mediático.
Elas, num total de três, também estiveram entre os convidados do matabicho da passada terça-feira, que poderia ter sido um pouco mais representativo do pluralismo mediático que ainda vamos tendo, numa altura em que a tendência nesta matéria preocupa os mais cépticos, também conhecidos em certos círculos por “detractores do regime”.


Apesar de não haver microfones nem câmaras- espero que ninguém tenha levado algum dispositivo mais oculto- não foi estabelecido nenhum acordo prévio entre o MAT e os jornalistas presentes e demais convidados, quando ao tratamento que devia ser dado a informação que Bornito de Sousa e a sua equipa queriam partilhar com a malta.


Não tendo havido este acordo não se pode falar propriamente de um “off- the-record”, para além da questão mais técnica que tem a ver com a ausência dos gravadores que, em abono da verdade, nem sempre são os melhores conselheiros para quem quer falar a vontade e dizer exactamente o que pensa, sobretudo quando se está investido de alguma responsabilidade mais política/publica.


Este formato parece-me ser muito mais produtivo e eficaz para quem efectivamente quer partilhar informações/ ideias/opiniões sem ter outros cuidados/receios mais formais (ou mesmo políticos) que acabam sempre por dificultar a profundidade e a densidade que se quer emprestar à comunicação.
Mais do que ser protagonista seja do que for, com este formato a fonte quer mesmo passar a sua mensagem, quer mesmo convencer os destinatários da consistência e coerência dos seus propósitos.


Foi o que entendeu e bem Bornito de Sousa (e a sua equipa) que deste modo para além de ter feito a diferença, conseguiu de forma bastante arejada dizer-nos tudo o que queria e como queria, no quadro de uma animada interacção com os presentes, onde ainda houve tempo para as habituais queixas sobre a discriminação que a média privada continua a ser alvo por parte dos organismos oficiais.


Restará apenas saber se todos os presentes o entenderam da mesma forma, o que já é mais difícil de aferir, pois a cada cabeça caberá a sua sentença na hora de utilizar as informações recolhidas.


Alguém dos presentes disse terça-feira que esta terá sido a primeira vez que um membro do Executivo usou este formato para comunicar.
Não tenho bem a certeza de que seja exactamente assim, mas não tenho muitas dúvidas quanto ao facto de a comunicação não ser o ponto forte deste Executivo, nem pouco mais ou menos.


Isto é bom aqui salientar, apesar de ter anualmente um fabuloso orçamento alocado aos devidos efeitos, que é normalmente gasto em iniciativas/ projectos de duvidoso retorno em termos de recolha de dividendos políticos para o melhoramento da sua imagem.


Sempre defendi e continuo a defender que comunicação tem algo a ver com o usufruto do sexo no melhor e no pior sentido.
Por outras palavras, diria que um filme pornográfico não tem qualquer possibilidade de ganhar um prémio até da academia mais rasca deste planeta, porque não há nada ali que nos faça pensar ou sonhar.


O sexo explícito enche-nos o olho, mas não introduz qualquer mais valia que tenha efeitos prolongados no relacionamento que se pretende estabelecer, para além da satisfação (ou decepção) imediata.


Acho que na comunicação institucional se passa um fenómeno parecido, com a agravante dos destinatários quando são jornalistas serem pessoas desconfiadas por natureza pessoal e profissional.


Penso que iniciativas como este “MATabicho” para além de serem muito mais económicas do ponto de vista da gestão orçamental, se comparadas com as outras, têm um impacto mais positivo e diria mesmo, mais estruturante, no relacionamento da instituição com a opinião pública, por via da opinião publicada.
É um verdadeiro triângulo.


E têm esse impacto, porque as pessoas sentem que não há ali qualquer intenção de vender embalagens ou embrulhos, porque o promotor do evento quer apenas partilhar o que tem para oferecer com o melhor do seu latim, deixando ao critério do cliente tudo o resto, sem mais nenhuma recomendação.

NA-Publicado no semanário “O País/Revista Vida” (28-02-14)