Lisboa - O sociólogo angolano Paulo de Carvalho defendeu hoje, em Lisboa, que o facto de o ativista dos direitos humanos Rafael Marques estar vivo é a prova de que Angola é uma democracia.

Fonte: Lusa

"Quando as pessoas -- e alguns políticos, inclusivamente - dizem que em Angola vigora um sistema ditatorial, isso não é verdade", sustentou o professor catedrático da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto, em Luanda, numa conferência proferida, a convite do Centro de Estudos Africanos do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) de Lisboa, subordinada ao tema "Sistema democrático e direitos de cidadania em Angola".


Para sustentar essa sua convicção, Paulo de Carvalho contou um episódio ocorrido há tempos na Fundação Mário Soares, em Lisboa, em que o jornalista e ativista dos direitos humanos criticou o regime angolano, tendo-lhe o académico respondido: "Se em Angola houvesse um sistema ditatorial, tu, meu amigo Rafael Marques, não estarias aqui a falar para nós, estaríamos nós a chorar na tua campa".

"Estava eu a fazer a minha tese de doutoramento quando recebi um convite da Fundação Mário Soares para ir a uma conferência (...) e o que se dizia por lá era que em Angola vigorava um sistema ditatorial -- eram angolanos que estavam a dizê-lo -- e eu, no final, pedi a palavra, Mário Soares não ma queria dar, mas eu insisti e disse: 'Acho que não fica bem nós virmos para aqui aldrabar, dizer que Angola é uma coisa que não é'", relatou.

"No final, recebi uns 'recados' das pessoas que lá estavam, não vou citar os nomes, dizendo 'pronto, é verdade, mas isso não deve ser dito assim, aqui fora', mas eu acho que temos de ser justos, corretos, e se queremos fazer política, como era o caso dessas pessoas [que estavam na conferência], tem de haver um mínimo de honestidade intelectual", frisou.

Segundo o sociólogo, Rafael Marques só tem visibilidade pública precisamente porque lhe foi permitido publicar os seus textos na imprensa angolana, o que prova que existe liberdade de expressão, que não há censura, e isso só reforça a sua tese de que Angola é uma democracia.

"Se Rafael Marques tivesse sido morto, era mais um, era um desconhecido. Mas foi o sistema angolano que, por ser democrático, o tornou conhecido", insistiu.

Rafael Marques, autor do livro "Diamantes de Sangue", publicado apenas em Portugal, pela editora Tinta-da-China, é alvo de um processo movido, em Lisboa, por nove oficiais angolanos visados pelo trabalho de investigação sobre as violações dos direitos humanos nas Lundas, zona diamantífera de Angola.