Luanda - (…) Em Angola, contudo, havia três movimentos de libertação rivais, cada um lutando por uma posição dominante, à medida que o país se aproximava da data mágica de 11 de Novembro, dia da Independência. A FNLA (frente Nacional de Libertação de Angola) era forte no norte porque o seu líder, Holden Roberto, era oriundo da tribo Bakongo e apoiado pelo seu cunhado, o Presidente Mobutu, do Zaire. No sul, onde a tribo Ovimbundu era amais poderosa, o respectivo movimento de libertação, a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), era dirigida por Jonas Savimbi.  

 

Fonte: Club-k.net

"De 1975 a 1979, o MPLA, revoluciona o nacionalismo"

Como muitos outros líderes africanos, aceitara os apoios oferecidos, independentemente de onde provinham_ no seu caso, vieram durante muito tempo da China e, em menor extensão, de admiradores na Escandinávia, sobretudo na Suécia. O MPLA, marxista, dirigido pelo médico Agostinho Neto, tinha uma menor base tribal e era mais forte na capital (…)  Henry Kissinger (2003:704) Diplomata, ex Secretário de Estado dos EUA em 1975 e Prémio Nobel da Paz in Anos de Renovação, Gradiva, Lisboa

 

Falar do percurso é ter em conta a vereda, caminho ou via seguida até agora, é a História. Para tal, importa lembrar aqueles que criaram, organizaram e reorganizaram a maior instituição social e política da História do povo Angolano. Mas aqui, não vou me ater à cronologia, tempos ou lugares do percurso.
Criar uma organização política que resultou das várias sensibilidades sociais, culturais, económica e até étnica ou racial como é o MPLA, não é uma tarefa simples. O percurso do MPLA, parece-me que começou por ser constituído por intelectuais que pensavam libertar o povo angolano das amarras do colonialismo, da exploração económica, cultural, política e racial. Os grupos políticos estavam cientes das suas clivagens e do poderio militar do colonizador, mas a razão de libertar-se da arrogância, desprezo, ostracismo ou discriminação dos angolanos africanos em “indígenas, assimilados, mestiços ou mulatos, brancos africanos ou europeus, filhos legítimos e ilegítimos ou bastardos” teve como a base a reorganização de elite cultural que por razões ideológicas optou por criar um grémio progressista e não reaccionário.


O MPLA, nasce de grupos políticos sólidos,  que nos anos quarenta e  cinquenta influenciavam intelectuais que comungavam ideais nacionalistas e valores  de esquerda, da igualdade, liberdade, solidariedade e justiça social ( Partido da Luta dos Africanos de Angola-PLUA e o Movimento Para a Independência Nacional de Angola-MINA), fazendo a sua base política.


O MPLA de 1956 até 1961 é um Movimento de luta diplomática, vai ser com a ruptura de 1961, dando origem a luta armada, pois, não havia condições de demover os portugueses da sua tacanhez que o regime do Estado Novo de Salazar impunha, com o famoso luso tropicalismo, dando a ideia que os africanos sentiam-se bem com a presença portuguesa.


De 1961 a 1963, dá-se uma transição que mudará o Movimento para todo sempre, com chegada do Drº António Agostinho Neto o Kilamba, este, vai reorganizar o MPLA, alargando a sua base intelectual na cúpula do poder, para uma pluralidade social e racial (brancos, negros e mestiços, intelectuais, operários e camponeses). Neto, populizou o MPLA, tornou-o mais representativo e pouco elitista, levou-o a formar guerrilheiros, formar quadros na URSS, CUBA, Bulgária, Chekoslováquia, Polónia e elaborou manuais de História, Literatura, Política etc.


De 1963 a 1974, o MPLA, viveu momentos de resistência diversificada, a morte do Lumunba e a chegada de Mobutu no Congo, forçou a saída do MPLA, para o Congo Brazzavile, a luta diplomática face a OUA que reconheceu o GRAE de Holden, intelectuais que acusavam o líder guerrilheiro (Neto) de tirano ou autocrático, por disciplinar os quadros contra o elitismo ou snobismo de alguns que se consideravam privilegiados; pois, para Neto, tais comportamentos eram reaccionários e minavam o nacionalismo por poderem desembocar em tribalismo.


o conflito era de valores que depois deu origem a clivagens da Revolta Activa e do Leste, tendo culminado com a transição para a Independência de Angola como consequência dos Acordos de Alvor. Pareceu-me que aqueles conflitos que Neto procurou disciplinar, ficaram latentes no período de transição, pois, Neto, optou por negociar a paz com outros movimentos como a FNLA e UNITA, bem como foi à Portugal, para negociar a Independência com o triunvirato nacional (MPLA; FNLA e UNITA) e posterior criação do Governo de transição com representantes do MPLA Lopo do Nascimento, FNLA John Pinocki e UNITA José Ndele. Neste período o MPLA temia a ocupação Sul Africana e Zairense a Norte e Sul respectivamente por influência das alianças da FNLA e UNITA respectivamente.


De 1975 a 1979, o MPLA, revoluciona o nacionalismo ao fundar uma República Socialista com base na igualdade racial, étnica, género e social criando uma cidadania angolana com a proclamação da Independência no dia 11 de Novembro de 1975, quando havia entrada de estrangeiros junto de Luanda na famosa Batalha de Kifangondo. O MPLA, venceu e ficou reconhecido a sua capacidade de organização e mobilização dos  seus quadros e da sua liderança ou Agostinho Neto. O pós independência começou a ser sacudido por correntes ideológicas que procuravam defender ideais que ainda não eram oportunos para a altura por tender para a fragilizar a liderança de Neto e fraccionar os quadros, grupos de intelectuais que procuravam questionar algumas práticas mas que em algumas situações podiam ser vistas como radicais, reaccionários ou racistas. Foi neste período que surge o conflito de grupos chamados de fraccionistas e que a história registou como sendo uma tentativa de derrube de grupo liderado por Neto, por Nitistas ou dirigitos por Nito Alves e José Van-Dúnen, que eram quadros dirigentes do MPLA, período que até hoje, marcou a viragem de reflexão sobre como reivindicar direitos dentro do Partido atendendo os deveres de respeito pela liderança e Unidade Nacional como valor supremo que tem guiado o MPLA-Um Só Povo, Uma Só Nação.


Em 1977, o MPLA, torna-se em Partido Marxista e Leninista, clarificando a sua vocação que naquela altura era importante para as alianças resultantes da Guerra Fria. em 10 de Setembro de 1979, morre o Líder visionário, Revolucionário e Fundador da Nação Angolana, o País, parou, chorou e quase sucumbiria nas querelas de legitimidade da liderança. O MPLA, escolheu, o Jovem José Eduardo dos Santos, Engenheiro de Petróleos, formado em Baku no período da Guerrilha e formação de quadros, o período que considero das incertezas das especulações sobre a possível luta pela independência de 1963 a 1974, avanços e recuos, perda de quadros, foi ai que mais uma vez, o MPLA, sob a liderança do Camarada José Eduardo dos Santos, reiniciou a luta diplomática, retomou a continuidade da Luta na Namíbia, Zimbabwé e África do Sul. Neste período, o apoio Reagan, aumentou, a guerra civil e o terrorismo contra o património intensificou-se no auge da Guerra Fria e que é concluído com a queda do murro de Berlim em 1985.


De 1985 a 1990, o MPLA, procurou defender a sua posição face a libertação da Namíbia e do fim Apartheid na África do Sul, reiniciando negociações em Gbadolite (RDC) e Nova York, culminando com a saída dos Cubanos e a proclamação da Independência da Namíbia.


O MPLA, de 1990 a 1992, fez reformas políticas a nível dos seus estatutos, reenquadrou-se politica, económica e socialmente e reformou o Estado, como consequência dos Acordos de Bicesse, dando origem a abertura da democracia pluralista ou multipartidária que culminaram com as eleições de 29 e 30 de Setembro de 1992 e consequente reinício da guerra civil, por rejeição    dos resultados eleitorais que deu uma maioria ao MPLA e ao seu líder na primeira volta, contra a UNITA e seu líder.


De 1992 a 2002, o País, entrou numa fase de conflito sem precedente quanto a utilização de material bélico, destruição de infra-estruturas, morte de pessoas etc. é assim que com os Acordos de Luzaka-Zambia, o MPLA que governava e tinha apoio internacional, negociou a paz, aceitando criar um Governo de Unidade e Reconciliação Nacional, quando tinha mais de 54% dos votos, assim cedeu, em nome da Unidade e Reconciliação Nacional. Este Governo teve Ministros indicados pela UNITA, PRS, PLD e PRD a par da maioria do MPLA.


O MPLA que por via da sua liderança conduzia a governação reorganizou-se e conseguiu alianças estratégicas com o s EUA, Israel e Rússia, no sentido de garantir uma luta diplomática em mostrar perante o mundo as consequências da guerra, fê-lo sabiamente e estrategicamente, culminando em 2001, o ultimato do Presidente José Eduardo dos Santos, sobre a rendição, captura ou morte em combate do líder da UNITA. Com a expressão fazer a guerra para fazer a paz, JES líder conciliador do MPLA, conseguiu aos 22 de Fevereiro de 2002, manifestar o espírito de perseverança, trabalho e disciplina que deve orientar os quadros do MPLA e qualquer circunstância. Foi o fim da guerra, com os Acordos do Lwena, aos 4 de Abril de 2002.


De 2002 à actualidade, constatamos um País que fez as suas reformas políticas sobre a liderança do MPLA, guiado por um Presidente coadjuvado por quadros disciplinados, estudiosos e obedientes ao desiderato da paz, desenvolvimento e democracia, ultrapassando todos obstáculos que foi encontrando, tolerados os adversários razoáveis, ignorar os irrazoáveis e respeitar os compromissos com aqueles que respeitam a palavra dada, são incluídos, protegidos e promovidos para todos escalões do Partido ou do Estado.


O MPLA, soube, desde muito cedo que a vereda seria espinhosa, os adversários temíveis, mas o sonho de garantir uma Angola respeitada por todos e para todos deve ser defendido por todos militantes, amigos e simpatizantes. O MPLA, mostrou ao mundo e à África, que ser Angolano é um desafio que não pode ser suportado com uma visão racista, tribalista ou regionalista, mas como a procura de todas vias e alianças vantajosas para que ai onde exista uma comunidade haja caminho, estrada, escola, posto médico, luz, água, universidade e hospitais dirigidos por angolanos e quando não existir, fazer alianças ou parcerias de vantagens mútuas para aprendermos e apreendermos com outros.


Em todo seu percurso o MPLA procurou sempre um valor supremo: «lutar por valores que garantam a confiança entre angolanos, sem diferenças raciais ou étnicas, religiosas ou culturais.» As diferenças enriquecem quando nos respeitamos, mas nos empobrecem quando nos dilaceram, como ambundu, bakongo, ovimbundu, kwanhama, nhaneka-nkumbi, Khoi, San, Mucubal, branco negro ou mestiço seja cultural ou biológico. Não deve ser a riqueza ou pobreza que dignificam os homens mas os valores da humanidade, solidariedade, consideração, promoção do respeito e conhecimento para compreensão dos outros. Não devemos confundir o combate á pobreza com a inveja de pobres contra ricos ou vice-versa, todos são necessários para uma Angola plural. Importa promover a nobreza dos homens e não o ódio, mentira, inveja, calúnia…


Sobre o passado, presente e futuro de todos nós, devemos caminhar com optimismo, mas nunca esquecer o passado, devemos dize-lo e ensiná-lo, para que as gerações futuras nunca cometam os erros ultrapassáveis seja por ganância ou ignorância. Mas nunca mentir despudoradamente para justificar o injustificáveis. O Continente e a Região é cobiçado pelos antigos colonizadores, por isso, a divisão de África de Berlim do passado, agora é vista como útil se for servil ou dócil aos interesses ocidentais, para exploração de recursos e nunca haver reciprocidade, mantendo dívidas para dependências, procurando dividir o homem africano e torná-lo servil e besta perante os outros quando surgem conflitos, fragilizando a capacidade negocial perante os ocidentais. Haverá sempre servilismos disponíveis para ficarem com sobras. Por isso, devemos dizer a verdade, reconhecer falhas e erros como sendo humano numa revolução e corrigir-se o excesso. A mentira histórica é perigosa, gera ressentimento, mas a vitimização é uma negação da igualdade…


O MPLA resulta da vontade de um povo heróico e generoso numa luta contínua para atingir-se o bem-estar económico, social e cultural para todos angolanos. Por isso, a Luta Continua e Vitória é Certa, para Um Só Povo, Uma Só Nação.