Luanda - Ao contrário do que acontecia há uns dez anos atrás, o país fervilha de acontecimentos, ideias, factos, eventos e... posicionamentos. Não só as pessoas perdem cada vez mais o medo de falar, como promovem factos noticiosos e eventos, submetem-se à crítica dos observadores e, no seu conjunto, protagonizam um bonito espetáculo que às vezes a nossa vida sofrida entre o stress, trânsito, ritmo esquizofrénico e – porque não dizê-lo – as queixas habituais contra o Governo não nos deixam enxergar. Mas é bom pararmos um pouco e reconhecer que esta lufa-lufa é o verdadeiro processo de (re)construção da nossa nacionalidade, isto é, a nossa maneira própria de ser e estar no Mundo (já vai alguém certamente acusar-me(!) da tal “mwangolice dos quatro costados”, mas que fazer se nasci assim?).
 
Se é verdade que uma Nação se constroe confrontando ideias díspares num quadro de respeito e tolerância mútuos, então é caso para dizer que estamos no caminho certo. É só ver as variadas reacções e análises que acontecimentos outrora de somena importância despoletam agora: A elaboração da nova Constituição (eleição do PR directa ou indirecta), a adjudicação do Canal 2 da TPA à empresa de uma das filhas do PR (adjudicação ou não, concurso público ou não), a visita do Papa, o desempenho da selecção nacional de futebol, e mais recentemente a “maka” das casas.
Mais do que um ruído amorfo estas reacções e posicionamentos têm tido uma qualidade de análise digna de nota digam o que disserem os detractores de serviço. Por outro lado, a variedade de posições – algumas delas antagónicas – aumenta ainda mais a riqueza das abordagens porque permite ao observador que o queira, uma maior amplitude sobre a qual basear as próprias conclusões.
 
Para a pluralidade destas abordagens muito têm contribuido os meios de comunicação social. Infelizmente para o nosso espectro comunicacional, mais os privados que os públicos na generalidade; mais em Luanda que nas Proíncas, e mais no litoral que no interior. Sequela do conflito que o país viveu – e é preciso salientar que nesse aspecto os dois beligerantes cometeram os mesmos erros ao que a liberdade de imprensa diz respeito – é um quadro que, à semelhança dos outros terá necessáriamente que esbater-se e diluir-se nesse frenesim de desenvolvimento para o qual claramente o país quer caminhar. De facto situações como a proibição explicita ou velada da circulação dos jornais privados em algumas províncias; as resistências que se notam para a extensão do sinal radiofónico e/ou televisivo pelo país por discordância da linha editorial deste ou daquele órgão; as perseguições a jornalistas por dá cá aquela palha; ou ainda o fechamento das fontes para “uma certa Imprensa”,  já não se compadecem nem com estes tempos novos, nem com os rumos que o País-Nação quer decididamente assumir. A História, a Sociologia e outros ramos das ciências sociais aí estão para provar que aqueles que persistirem neste desvio, certamente acabarão encostados às boxes ou, pior ainda, arrumados numa qualquer empoeirada prateleira...
 
É por isso que os vários e díspares posicionamentos sobre os assuntos mais candentes do país por parte das insignes figuras do nosso “intellectualment” nacional devem continuar. Não só fornecem subsídios insubstituíveis para os historiadores que mais tarde escreverão para as gerações vindourar aquilo que fazemos agora – e, repito, estamos a (re)construir esta Nação! – como mesmo agora representa uma excelente matéria de estudo para os académicos das ciências sociais. Não é por acaso que nas faculdades de Comunicação Social a diferença entre os estudantes que lêm os jornais e seguem os noticiários e os que não o fazem é abismal. Indubitávelmente estes posicionamentos, construídos sobre um universo riquíssimo de formações académicas, profissionais e vivências pessoais é o maior legado que os que os fazem – muitas vezes incompreendidos – deixam para os que receberão o facho da nacionalidade quando o seu tempo chegar.
 
Por isso, vale a pena dizer a eles – todos eles, incluindo os que às vezes cedem à tentação de se considerarem donos absolutos da verdade – e parafraseando o Professor Justino Pinto de Andrade “prossigamos então o nosso debate de homens livres”. Saravá a todos, pois!

Fonte: Semanario Angolense