Luanda - Existem ainda milhares de toneladas de cereais (arroz, milho e soja) da campanha agrícola 2015-2016, armazenadas nos silos de fazendas que foram geridas pela Gesterra, negligenciadas mesmo tendo em conta a grande procura no mercado. Contudo, até Janeiro do corrente ano, estavam salvaguardadas e em perfeitas condições de venda para consumo humano, mercê da intervenção da nova entidade gestora, a Cofergepo. E só não foram vendidas, por imposição do Ministério da Agricultura, com o beneplácito do Fundo Soberano de Angola, embora na altura já houvessem contratos firmados.
*Jorge Malaquias
Fonte:Club-k.net
CAMPANHA AGRÍCOLA 2015-2016
Na sequência do ‘alerta’ feito recentemente por via do Jornal de Angola na sua edição de 16 de Abril, pelo presidente do Conselho de Administração da Gesterra, Carlos Augusto Dias Paim, a nova entidade gestora das fazendas de Camaiangala (Moxico), Cuimba (Zaire), Sanza Pombo (Uíge), Camacupa (Bié) e Longa (Cuando Cubango), a Cofergepo, empresa de direito angolano, dá conta, que a permanência de cerca de 3.400 toneladas de cereais nos silos dessas unidades, é, da exclusiva responsabilidade da Gesterra. De acordo com o esclarecimento, se esses cereais resultam de colheitas da campanha agrícola 2015-2016, altura em que quer o funcionamento quer a gestão da produção das fazendas era co repartida entre a Gesterra e empresas chinesas, “não faz sentido que se esteja agora a responsabilizar quem está a salvar o que restou das fazendas, gerindo-as de forma parcial, apenas desde 2017, depois de terem sido alvo de abandono e de vandalismo”.
José Suspiro, engenheiro agrónomo que dirige a Cofergepo, garante que os produtos retidos nos silos “não corriam o risco de apodrecer, porque receberam o tratamento apropriado para a sua boa conservação”. No entanto, a falta de clareza do processo de posse, levou ao atraso na decisão quanto á propriedade dos referidos stocks. Contudo, deixa claro, que as quantidades estão longe de representar a totalidade da colheita da campanha agrícola 2015-2016, porque boa parte dela foi retirada e comercializada pela Gesterra, pelo que, compete à sua direção qualquer justificação. Antes de a Cofergepo assumir a gestão das fazendas, foi retirada a quase totalidade do milho de Camacupa e do arroz do Longa, onde restaram apenas 30 toneladas.
Para o representante da Cofergepo, “a forma como o presidente do Conselho de Administração da Gesterra faz o alerta, pode levar ao falso entendimento de que se encontra nos silos toda a produção resultante da campanha agrícola 2015-2016 (que corre o risco de apodrecer) ou, concomitantemente, a interpretação de que comercializamos uma parte, ficamos com as receitas e existe outra, que por nossa negligência, apesar das carências e necessidades do mercado, permanece nos silos, e não é verdade”.
José Suspiro esclarece, que o decreto Presidencial 91/16 que aprova a concessão de projectos de desenvolvimento agrícola, agroindustriais e agropecuários de fazendas do Estado de média e larga dimensão, e autoriza o Fundo Soberano a deter a totalidade do capital social das sociedades concessionárias dos projetos, de forma directa ou por intermédio de sociedades por si detidas, resulta da constatação de que apesar do elevado investimento realizado pelo Estado angolano, estimado em 750 milhões de dólares, esses empreendimentos, por ineficiências várias, não atingiram os objetivos para que foram criados. Foram sobredimensionados, extrapolando a capacidade de produção de cada uma das localidades onde foram instalados, e em poucos anos, conheceram um nível extremamente elevado de degradação por falta de capacidade na sua rentabilização, correndo-se o risco de se transformarem em “elefantes brancos”. Assim, o titular do poder Executivo sentiu-se na obrigação não só de encetar medidas para salvar esse património público, como também de torná-las capazes de contribuírem para a redução da importação de cereais.
José Suspiro dá conta, que “foi nesse contexto, difícil e já sob influência da crise económica e financeira, que ocorreu a intervenção da Cofergepo, definindo estratégias que resultaram na elaboração de um projecto de complementaridade e de maior abrangência, denominado FazAngola, que também converge e alinha com as políticas governamentais de redução das importações, de fomento da produção interna, da diversificação da economia e de apoio directo ás populações das áreas onde estão implantados os projectos”.
Na prática, de acordo com a informação prestada por José Suspiro, a transferência da gestão das fazendas da Gesterra para esta nova entidade, ocorreu de forma faseada entre Junho e Julho de 2016 e Setembro de 2017, e ainda não está concluída, com a observância de grandes entraves, resultantes de interesses vários que se sobrepõem aos do Estado. “As duas primeiras fazendas entregues em meados de 2016 foram a de Camacupa (Bié) e do Longa (Cuando Cubango) vocacionadas para a produção de milho e arroz e que não têm grãos armazenados. Nestas duas fazendas, a intervenção da Cofergepo foi iniciada em meados de Dezembro de 2016. A de Sanza Pombo (Uíge) e Camaiangala (Luena) foram entregues apenas no segundo semestre de 2017, a partir de Setembro, há sete meses, portanto. Logo, a culpa da permanência de produtos nos silos deve ser atribuída a quem lá esteve e que por razões que desconhecemos, não conseguiu, em tempo, comercializar a totalidade do que produziu. No entanto, a Cofergepo garantiu até Janeiro de 2018 a boa conservação dos mesmos, tendo gasto para o efeito mais de 5.000.000 de Kwanzas”.
Engenheiro agrónomo de formação, nascido no Uíge e com vasta experiência na gestão de projectos agroindustriais, António Sousa Dias acompanhou o processo de transferência da gestão das cinco fazendas geridas pela Cofergepo. Dirige desde finais de Março a unidade de Sanza Pombo, depois de ter concluído a empreitada de drenagem dos solos no Longa, a recuperação de máquinas, incluindo dos pivots, e o relançamento da produção de arroz. Referiu, que “umas mais que outras, no geral, todas as unidades apresentam problemas gravíssimos. As fazendas até podem ter atingido níveis de consolidação ao longo de dois anos de funcionamento, como disse Carlos Augusto Dias Paim, mas o estado em que foram entregues à nova gestão impediu ou condicionou o imediato arranque da produção agrícola. Não era possível e os factos assim o demonstram”.
Intrigado com o que viu, António Sousa Dias interroga-se: “como foi possível em apenas cinco anos, destruir nas unidades de Sanza Pombo, Longa e Camacupa parques de máquinas modernos e completos, que em princípio deveriam ter um tempo de vida útil de 20 anos? A sucata toda está ali, é visível. Foi a destruição completa de máquinas. No Longa, por exemplo, só encontramos ferro-velho; de 35 tractores apenas três funcionavam mais ou menos, e houve quem, na Gesterra, emitiu autorização para que os chineses retirassem meios e equipamentos que estavam em bom estado, apesar de estar pago ao abrigo do financiamento concedido. O que é que se esperava com a instalação de pivots de rega em terrenos que não foram drenados, em pântanos, mas constam como trabalho executado e pago? O mesmo se passa com os pivots em Camacupa. Há uma área de 400 hectares onde foram instalados pivots sem drenagem, que encontramos completamente destruídos e ao abandono”!
Continuando a descrever o quadro das dificuldades encontradas, António Sousa Dias disse, que “no Longa, tivemos que abrir 30 quilómetros de valas para drenar os solos e o trabalho está quase concluído. A recuperação dos pivots custou-nos vários milhões de dólares e todas essas acções representaram um grande desafio para todos nós, porque mesmo apesar dos problemas, com algum atraso sim, conseguimos relançar a produção agrícola. E os resultados são animadores, embora tenhamos pela frente muito trabalho”.
O sistema de rega da fazenda do Longa dispõe de 15 pivots, que foram profundamente vandalizados e estavam completamente inoperacionais, o que indiciava uma grande impossibilidade de produção logo a seguir à entrega e mesmo nos meses seguintes. Foi necessário um investimento suplementar de centenas largas de milhares de dólares para recuperá-los e torná-los operacionais, decorrendo neste momento a última fase de testes para a sua utilização plena, já para as sementeiras previstas para Setembro/Outubro do corrente ano.
Os pivots instalados pelos empreiteiros chineses nunca funcionaram nem podiam, porque as áreas em que tinham que circular estavam alagadas e era necessário, primeiro, fazer a drenagem, o que tem ocorrido tendo-se aberto cerca de 30 quilómetros de valas. Os resultados do que os chineses fizeram e o estado em que estavam as fazendas, desmentem categoricamente, que ao contrário do que a direcção da Gesterra em defesa da sua dama alimenta, o processo produtivo das fazendas nunca esteve consolidado. Para a Cofergepo, existe informação substancial, que atesta que tudo não passou de um embuste, porque a produção apresentada com resultados que pareciam animadores, não passou de ‘fachada’ das empresas construtoras contratadas, para ilusão de quem devia fiscalizar o esforço da governação angolana.
Para António Sousa Dias, “Sanza Pombo, recebida em Junho de 2017, é um caso grave, muito pior que o da fazenda do Longa. Aqui, para semear alguma coisa os chineses faziam-no antes das chuvas. Eles preparavam tudo durante o cacimbo, semeavam com máquinas manuais nas partes mais altas, mas todo o trabalho depois do inicio das chuvas era realizado à mão, porque por falta de drenagem das áreas de plantio, as máquinas não conseguiam entrar nos campos. Recebemos a fazenda muito tarde, não conseguimos realizar a sementeira nessa janela e por isso, em Dezembro e Janeiro, no pico das chuvas, ainda andávamos a semear”.
António Sousa Dias, resume da seguinte forma o estado do parque de máquinas recebido em Sanza Pombo: “era uma destruição completa, como no Longa e Camacupa. Em Sanza Pombo, dos tractores maiores, oito Lovol de 180 HP, estava apenas uma a trabalhar; estavam sete tractores com os motores abertos dentro de um armazém, com problemas diversos. Já recuperámos quatro, outros três são sucata. Deveriam fazer entre oito a 10 mil horas, 12/15 anos mas não passaram das 1 000 horas, no geral. De quatro John Deer de 120 HP, em estado novo, estava a trabalhar apenas uma, mas já recuperámos as outras três; de 10 buldózeres de grande dimensão deixadas na fazenda, duas trabalhavam com grandes dificuldades; as três escavadoras Volvo 240 BLC trabalharam até à destruição completa das esteiras, roletos, rodas motrizes, etc.; máquinas novas, mas apenas o motor trabalhava! A recuperação destas três máquinas irá custar cerca de 300 mil dólares! Por outro lado, foram retiradas inúmeras máquinas e equipamentos da fazenda de Sanza Pombo, cujo destino não se conhece”.
Mas, as dificuldades encontradas não se põem apenas ao nível dos equipamentos e da produção agroindustrial. Sanza Pombo, disse também António Sousa Dias, “tem problemas graves de erosão dos solos para além da drenagem, porque os chineses abriram valas ao longo da estrada, para remoção de solos e desvio do curso das águas, e essas valas hoje estão a transformar-se em grandes ravinas que ameaçam a fazenda”. Por outro lado, prosseguiu o director da fazenda, “duas pontes desabaram e desapareceram com as cheias, porque foram mal dimensionadas”.
A herança recebida da Gesterra não se resume apenas a isso. António Sousa Dias referiu, que “tal como na fazenda do Longa, também em Sanza Pombo, a Cofergepo encontrou problemas extras por resolver, como por exemplo, conflitos gerados com a população. Não é difícil perceber que havia camponeses que ocupavam as áreas escolhidas para implantação dos projectos, que foram retirados na base de acordos de indemnização, que a antiga gestão não honrou. Na margem direita do rio Lukodi, onde se localiza a maior área da fazenda e onde ainda permanecem a maior parte das lavras, nenhum agricultor foi indemnizado. Existiam conflitos graves, as vezes como consequência da invasão do gado às lavras da população, que já obrigou por diversas vezes a intervenção de autoridades do Ministério do Interior. Agora, em redor da fazenda, existe harmonia, colaboração, deixou de haver arames cortados nas cercas. Tal como no Longa, na regedoria de Kingombo, em Sanza Pombo, desbravámos uma área de 25 hectares e fizemos lavras e uma horta com os camponeses vizinhos, para consolidar essa relação de sintonia e de confiança”.
António Sousa Dias, assegura que a Cofergepo pretende colaborar e trabalhar para integrar as populações nas acções que desenvolve nas fazendas, para que possam assegurar o seu sustento e na medida do possível, corresponder as expectativas criadas pela gestão anterior. E confirma, que a unidade de Sanza Pombo tem nos seus silos, cerca de duas mil toneladas de arroz por descascar.
Entretanto, de acordo com dados complementares disponibilizados pela Cofergepo sobre cada uma das cinco fazendas que tem sob sua gestão, na unidade de Camaiangala (Moxico), entregue aos 12 de Setembro de 2017, para a presente campanha foram preparados 1000 hectares, dos quais 300 são de regadio, mas apenas foram semeados 750 hectares de milho e 250 de soja, exatamente como consequência do atraso no inicio dos trabalhos. Mas, os pivots foram tecnicamente mal dimensionados em termos de eficiência de rega (caudal e pressão das bombas, distribuição da água) e a fazenda já tem graves problemas de erosão dos solos, em particular na zona dos pivots, onde nada se fez para prevenir.
A Cofergepo dá conta, que a situação da unidade do Cuimba (Zaire) não é diferente. O projecto de implantação da sua infraestrutura ainda não está concluído, e a entrega foi realizada de forma parcial no final do cacimbo, pelo que, a actividade de recuperação e relançamento teve inicio apenas entre Agosto/Setembro do ano transacto, já muito tarde.
Para esta unidade, o plano inicial para a campanha agrícola foi definido em 1500 hectares de milho e 500 hectares de soja. Mas, devido ao atraso na entrega das instalações e por falta de sementes, apenas se plantaram 1300 hectares de milho e 300 de soja.
Cuimba é considerada uma fazenda excelente em termos de solos, mas foram encontrados problemas sérios em 300 hectares da área preparada, como consequência da aplicação excessiva de herbicidas (fito toxicidade) e por razões técnicas, não se conseguiu utilizar o pulverizador porque estava em mau estado pelo que, para aplicação dos agroquímicos, foi preciso deslocar meios de Camaiangala. Nos silos do Cuimba, a Cofergepo também confirma que existem cerca de 300 toneladas de milho, mas que já foi retirado bastante pela Gesterra, exactamente antes da chegada da Cofergepo.
Essa entidade assegura que o Ministério da Agricultura e a Gesterra foram contactadas por diversas vezes para se retirar os produtos, até porque não tarda, começam as colheitas desta nova fase, a de gestão da Cofergepo, e não há interesse em se fazer misturas, embora quer o arroz, quer o milho, quer a soja existente nos silos tenham merecido o devido tratamento com produtos apropriados, com a intervenção da Prometeus, empresa especializada e das mais conceituadas do mercado. E exemplo de que até esteve disposta a dar a sua contribuição para se encontrar uma saída para este caso, é que, para as duas mil toneladas de arroz por descascar que estão em Sanza Pombo, foi encontrada uma entidade interessada na compra a um preço excelente, acima do preço normal, por via de concurso à carta fechada e por lotes, não havendo hipótese alguma de desvios. A direcção da Gesterra é acusada de ter bloqueado a conclusão desse processo, ao não ter permitido a venda destes produtos.
Para a direcção da Cofergepo, a fazenda agroindustrial do Longa é de entre todas, o exemplo mais bem acabado do sobredimensionamento, da falta de realismo, dos exageros e das discrepâncias dos mentores desse projecto que custou 750 milhões de dólares aos cofres do Estado angolano. A unidade dispõe de uma fábrica que pode processar sete toneladas de arroz por hora, ou 168 toneladas por dia. Para ser eficiente, terá que laborar 24 horas de forma ininterrupta.
No entanto, tendo em conta que a maior parte dos solos da fazenda não são adequados à cultura do arroz, estima-se que a produção máxima poderá atingir apenas 2.500 a 3.000 toneladas, em 500 hectares, considerando uma produtividade média por hectare de 5/6 toneladas, o que será excelente. Para a direcção da Cofergepo, significa dizer, que esta fazenda só tem capacidade para garantir o funcionamento da fábrica durante 15 dias. Ou melhor, não tem como funcionar a tempo inteiro. A saída será investir no estímulo à produção de arroz noutras áreas próximas, o que exigirá maior disponibilidade de recursos financeiros, meios técnicos e humanos para apoiar pequenos produtores. A Cofergepo tem já contactos estabelecidos com as autoridades locais, no sentido de ser desenvolvida a produção de arroz no rio Cuilili – Vale do Masseca, a cerca de 15 quilómetros da fazenda. Faz parte de um plano denominado de “outgrowers”, em que se pretende desenvolver a produção do arroz com pequenos, médios e grandes agricultores, a única forma de preencher a capacidade da fábrica.
Para a Cofergepo, a instalação da fazenda do Longa naquela localidade, constitui um grande erro estratégico e técnico. Não se entende porque se instalou uma enorme indústria em terrenos pantanosos, a maior parte de muito fraca qualidade.
Na realidade, segundo a direcção da fazenda do Longa, o cultivo do arroz apesar de toda a componente de equipamentos instalados, foi realizado de forma artesanal nas zonas mais elevadas, e o plantio ocorria mais cedo. Mesmo com o alto investimento em meios e equipamentos e na instalação de um sistema de rega moderno, a sementeira era feita à mão, nessas pequenas zonas elevadas. Essa informação disponível, confirma que os chineses podiam até fazer entre 300 ou 400 hectares de arroz, mas ainda assim, eram insuficientes para assegurar o funcionamento regular da fábrica. Nunca ultrapassaram as três toneladas por hectare, eventualmente, cerca de 1.000 toneladas por ano e também nunca produziram soja.
A maior parte da preparação dos solos nas áreas mais reduzidas era feita com pequenos tractores motocultivadores, usados para pequenas “lavras”. Estão ainda lá os esqueletos. No meio da sucata existente no Longa, estão 13 semeadores de arroz completamente novos, com três metros de largura, nunca usados pelos chineses, por tão fraca qualidade evidente.
Para além dos 200 hectares de arroz de regadio que foi possível semear, existem também mais 50 hectares de soja em regime experimental, fora do regadio, perfazendo já a utilização de 250 hectares dos 1.050 que podem ser cultivados, do total de cerca de 6.500 hectares que constituem propriedade da fazenda. Contudo, para a direcção da Cofergepo, é preciso que fique claro que a solução dos problemas que afectam a fazenda do Longa, resultantes da destruição a que foi submetida, levará entre três a quatro anos.
Finalmente, a fazenda de Camacupa, no Bié, depois de 2 anos de paralisação e recuperada do vandalismo à que também foi submetida, arrancou com o seu novo ciclo produtivo. Apesar de se ter chegado tarde e também de se ter encontrado o sistema de rega vandalizado, já se efectuou a recuperação de grande parte das máquinas e espera-se, neste primeiro ensaio, uma colheita de cerca de sete mil toneladas de milho, que já teve inicio, para além de soja. Aqui, o projecto de drenagem de toda a área dos pivots também deverá ser implementado pela Cofergepo, única forma de se poder cultivar os 400 hectares de regadio.
Camacupa tem disponíveis 9.929 hectares de área total, dos quais 3 mil já limpos foram ‘herdados’ da gestão chinesa/Gesterra. Neste primeiro ensaio, segundo informação prestada pela Cofergepo, apenas 2 mil hectares foram semeados, sendo que 1.500 destinados ao cultivo de milho e 500 para a soja. Ainda assim, os resultados deste primeiro ano de intervenção apontam para um aumento dos níveis de produção por hectare de até cinco vezes, se comparados com os dados da gestão anterior, esperando-se ainda a melhoria desse desempenho nas próximas épocas agrícolas.
Para José Suspiro, director da Cofergepo, mais do que as dificuldades encontradas e que obrigam a um redobrar de esforços e a realização de despesas que não estavam programadas, que no conjunto das cinco fazendas já rondam os 24 milhões de dólares, o mais difícil tem sido ultrapassar os obstáculos criados pela indefinição dos últimos meses, que já pôs em causa investimentos fundamentais e anulou a possibilidade de produzir durante o período do cacimbo, estando neste momento também já bastante comprometida a época das chuvas em Setembro. Tal situação não beneficia o País, retirando-lhe capacidade de resposta aos desafios da produção agrícola interna, beneficiando objectivos escusos que nada têm a ver com os objetivos do actual Executivo. E recorda, que não fosse a decisão tomada pelo então Chefe do Executivo, hoje seria mais difícil a recuperação, face o estado de abandono e delapidação de meios e equipamentos, que ainda é visível, contrastando com o ambiente saudável de empreendimentos privados, mesmo num contexto de crise.