Holanda - Recentemente correram notícias por diversos meios de comunicação angolanos e portugueses de que Abel Chivukuvuku estaria a preparar-se para, dentro dos regulamentos da UNITA, ‘forçar’ um congresso extraordinário. Este membro do partido do Galo Negro usaria o conclave para voltar a candidatar-se à presidência da UNITA, actualmente ocupada por Isaías Samakuva em seu Segundo mandato.

Precisa-se de um ‘Morgan Tsvanguirai’

Aos olhos de uns isso não seria bom para o partido UNITA por poder vir a dar a entender que dentro da UNITA há divisões sérias. Aos olhos de outros este é o momento ideal para que haja mudanças dentro do partido do Galo Negro, de forma a que este partido possa estar melhor preparado para as eleições presidenciais ainda sem data marcada.


Opiniões divergentes e duas alas bem claras dentro de um partido, nomeadamente a de Samakuva e a de Chivukuvuku. A ala de Samakuva parece ser savimbista, ou seja, conservadora, enquanto que a de Chivukuvuku parece ser progressista, ou seja, a ala que quer dar outra cara ao partido. Em países como Angola onde a democracia ainda não se faz sentir na prática, a mínima diferença de opinião no seio de um grupo político pode muita das vezes ser interpretada como divisão ou conflito. Em países democráticos isso seria visto como algo natural, pois um partido deve estar sempre em movimento quando este quer conquistar a confiança do eleitorado, e não há movimento sem debates, críticas, ambições, vontade de arriscar, etc., etc.


Angola precisa de movimento. Angola precisa de oposição política forte, sobretudo nos dias de hoje, em que o MPLA, actual partido no poder, tem a missão desonesta de prejudicar os seus adversários de todas as maneiras possíveis. Para haver movimento e oposição forte é preciso que haja um verdaeiro líder na oposição, capaz de arriscar-se, capaz de falar, com carisma e bastante liderança. Será este líder Isaías Samakuva? Será este líder Abel Chivukuvuku? Como saber isso?


Para saber qual dos dois líderes neste momento e durante as eleições presidenciais estaria em melhores condições para liderar o maior partido da oposição, seria necessário que se conversasse no seio da UNITA de forma madura, realista, aberta e sem quaisquer tipos de tabús. O que se quer para hoje e o futuro? Quer-se uma UNITA que tem coragem de ‘atacar’ Eduardo dos Santos sem medo nem rodeios ou uma UNITA tímida? Quer-se um líder preso no passado ou um líder que pensa para frente? Quer-se um líder de mesmísses, bonitas poesias e prosas (discursos) ou um líder que tenta trazer coisas novas? Quer-se um líder que vive reclamando pela mais do que conhecida falta de liberdade de imprensa ou um líder que vê a internet verdadeiramente como uma alternativa? Quer-se um líder que na falta de cães caça com gatos ou um líder que fica parado e sentado reclamando?


As perguntas no ar poderiam ser muito e muito mais. Contudo não seria nada mau se a UNITA analizasse muito melhor o que pode vir a acontecer políticamente em Angola nos próximos anos. Não seria nada mau se a UNITA soubesse programar um próximo congresso a tempo, ainda que extraordinário, de forma a evitar que o congresso previsto para 2011 coincida com as eleições presidenciais. Se o congresso de 2011 coincide com as eleições presidenciais, não será um mero acaso. Será uma estratégia arquitectada por quem sempre adiou eleições presidenciais em Angola, e com um objectivo bem definido.


Ao actual presidente da UNITA, se é que quer mesmo o bem do seu partido acima de interesses pessoais, cabe criar caminhos que ajudem o seu partido a estimular a criatividade interna. O presidente da UNITA não deve intimidar-se quando alguém dentro do seu partido procura buscar apoio suficiente para um congresso extraordinário, pois isto enquadra-se dentro dos estatutos. Ao presidente da UNITA cabe incentivar a não censura jornalística (rádio Despertar). E muito mais importante que tudo, Isaías Samakuva deveria ser humilde e ter a coragem de perguntar-se a si próprio se ele, após a estrondosa derrota de 2008, ainda é o candidato ideal no seu partido e sobretudo em Angola para enfrentar Jes nos próximos tempos.


Precisa-se de um ‘Morgan Tsvanguirai’. Será que Samakuva encontra-se a este nível e possui o devido carisma para recuperar a dita confiança do povo?


* Pedro Veloso
Fonte: Club-k