Luanda - Na senda das comemorações do dia mundial da saúde mental, apresentamos na presente comunicação, as considerações finais do workshop sobre a efeméride, realizado na Universidade Óscar Ribas, a 13 de Outubro, bem como os sinais de alerta que indicam que o individuo necessita de ajuda psicológica.
*Nvunda Tonet
Fonte: Semanário Folha 8
A saúde mental representa o estado de bem-estar do individuo, a capacidade de lidar com o estresse do quotidiano e trabalhar produtivamente. O conceito de saúde mental valora não somente a prevenção das perturbações mentais, como a maneira como individuo lida e gere as suas emoções e a capacidade interna de resolução. Importa lembrar, que a perturbação mental, não escolhe nem raça, condição social, idade, etnia ou religião.
Em outras palavras, qualquer um de nós, rico, pobre, branco, negro, velho, adolescente, católico, protestante, Bantu ou castelhano, pode passar por um desequilibro emocional, ser portador de perturbação mental, atendendo ao três aspectos fundamentais em saúde mental: biológicos, psicológicos e sociais.
Neste sentido, analisa-se a origem genética dos pais, os hábitos etílicos da mãe durante o período de gestação, condições fisiológicas da parturiente (cesariana ou parto normal), relação afectiva (se recebia carinho do pai), exposição ao barulho; a nível psicológico, devemos analisar os caracter de personalidade do individuo (apático, colérico, sanguíneo, passional, fleumático, amorfo), capacidade de lidar sobre pressão; e social, as condições de habitabilidade, ocupação profissional (se está empregado ou desempregado, estuda ou freqüenta curso profissional), pertence a uma seita religiosa, expectativas em relação ao futuro.
Nenhum de nós, como se pode perceber está isento de um desequilibro emocional, dependendo da resposta adaptativa que lidamos com as coisas que nos acontecem.
1. Quando um amigo, vizinho, colega, primo, conhecido apresentar os aspectos abaixo mencionados, significa que necessita de ajuda psicológica:
- Vestir roupas de cores quentes frequentemente (vermelha, amarela); pensar ou falar sobre suicídio ou apresentar planos sobre morte; medos irracionais, fobias (medo de lugares fechados, abertos, frequentar lugares onde estejam pessoas desconhecidas); mudanças bruscas de humor (hoje alegre, amanha triste); sensação de perda da esperança, falta de prazer na vida, estados de confusão ou reclamações constantes; vários dias sem dormir; problemas constantes com as autoridades; Abuso de álcool e outras drogas; Negação de problemas óbvios, resistência a receber ajuda; ciúme excessivo (verificação das chamadas telefônicas da companheira, revista das pastas, proibir de falar com pessoas que não conheça, controlar os passos com frequência, etc); problemas sexuais (ejaculação precoce, impotência sexual, ausência de desejo sexual, vaginismo, disfunção erétil), são as fundamentais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Workshop sobre saúde mental e integração social “conhece-te a ti mesmo” alusivo ao dia Mundial da Saúde Mental (10 Outubro), realizado na Universidade Óscar Ribas, teve como objectivos específicos:
1. Despertar o interesse pela saúde mental, na população em geral e em particular nos profissionais de saúde e estudantes desta área do saber;
2. Estabelecer um diálogo sobre os factores que contribuem para a introjecção psíquica e afectam directamente a concepção do indivíduo;
3. Fazer compreender no âmbito da psicopatologia, o diagnóstico clínico de personalidade e psicopatológico;
4. Identificar factores de risco relacionados com a saúde mental: ideias suicidas, dificuldades de integração social e possíveis estratégias de ajuda para estes casos;
5. Fomentar uma nova dinâmica/compreensão sobre os temas relacionados com a saúde mental e a falta dela;
6. Debate sobre temas de impacto social e a responsabilidade social da população e do profissional de saúde, esclarecimento e consciencialização.
O Workshop foi estruturado sob III PAINÉIS e 4 Comunicações:
PAINEL I – Conceptualização da Saúde Mental: mitos e realidades
1ª Comunicação: Perspectivas sobre a saúde mental – Orador: Psic. Nvunda Tonet
Nesta comunicação fez-se uma abordagem teórico-histórica sobre as diferentes investigações no campo das Ciências Humanas; Distinção entre uma Estrutura de Personalidade Psicótica ou Neurótica; A importância do contexto, sociedade, da família no equilíbrio emocional; Salientou-se a necessidade e importância na identificação e intervenção precoce de casos e situações de comportamento de risco (no âmbito da saúde mental); Advertência para a necessidade de promoção de um modelo preventivo em saúde mental;
Ao terminar, o orador recomendou a construção de hospitais psiquiátricos de Luanda, a implementação de centros de atenção psicossocial e chamou a atenção para atitudes de “negligência” quer de certos profissionais de saúde quer da população em geral; Defende a luta contra a discriminação e toda a forma de exclusão social, pelo que deixa a mensagem: “Cuidar sim, excluir não!”
2ª Comunicação: O papel da família no equilíbrio emocional do indivíduo – Orador: Psic. Nuno Pimpão dos Santos
Nesta comunicação o autor apresentou primeiramente uma abordagem histórica sobre o fenómeno do alcoolismo: destacou as contribuições da Psicanálise, das Terapias Familiares e Multifamiliares; ofereceu uma definição mais clara sobre a problemática, que atinge 10% da população:
A Organização Mundial da Saúde (OMS) é do ponto de vista de que o alcoolismo é uma toxicomania, uma farmacodependência a mais difundida e destrutiva de todas.
Aportou ainda sobre o enquadramento do alcoolismo com múltiplas influências e determinismos: biológico, genético, psicológico, familiar, económico e sócio-cultural.
No que se refere, a teoria, o prolector destacou um modelo de tratamento segundo Steinglass (abordagem sistémica/familiar) bem como a incidência sobre os problemas relacionados com o consumo de álcool e a relação familiar.
Noutra vertente, o prolector apresentou aos presentes 3 formas de relacionamento com o cônjuge alcoólico:
- Engajamento (envolve estratégias de assertividade, tomada de decisões, suporte emocional ou oferta de apoio).
- Tolerância (inclui o auto-sacrifício, a aceitação e a inactividade. Resume-se em mimos e inércia).
-Distanciamento (o contacto é minimizado quando possível, observa-se evitação emocional e física).
Ao terminar a comunicação, o prolector que lida diariamente com pacientes psiquiátricos, frisou a importância do apoio afectivo do cônjuge e filhos bem como da família ao alcoólico para que este se sinta capaz de vencer os seus problemas e recuperar a auto-estima.
PAINEL II – Psicopatologia e Integração Social
3ª Comunicação: O diagnóstico psiquiátrico e a perda da realidade – Orador: Dr. Jaime Sampaio
O orador, com larga experiência no campo psiquiátrico, onde exerce a sua pratica com brio, destacou na sua comunicação a importância do diagnóstico e a sua repercussão na vida do paciente. Salientou o perigo que acarreta um diagnóstico/rótulo pode ser “polémico” na vida de alguém. Chamou atenção para a distinção do que é um transtorno mental e o que não é, bem como o valor do “exame mental” – avaliação psicológica. Outrossim, relacionou-se com a necessidade de um diagnóstico baseado em dados concretos sobre a biografia/história pessoal, a importância do envolvimento da família e da comunidade, no cuidado e alerta para comportamentos e situações de risco, uma vez que os pacientes, nomeadamente os suicidas deixam “pistas” e muitas vezes certos acontecimentos poderiam ser evitados.
Em jeito de conclusão, o orador aportou a importância de um trabalho multidisciplinar dos profissionais de saúde mental e a necessidade da atitude empática no contexto clínico.
PAINEL III – Saúde e Intervenção Social
4ª Comunicação: Aspecto psicológico do tratamento psicológico da gripe A – Mestre Yolanda Rebelo Cardoso
Nesta comunicação, por sinal a última do dia, a prolectora fez um esclarecimento sobre as características da patologia; Actualização da informação sobre a gripe A; Dados clínicos referentes a cidade de Luanda; as formas de contágio, os cuidados a ter, o perfil do técnico de saúde, o perfil do paciente; destacou o tipo de abordagem e tratamento farmacológico disponível (Tamiflu e seus efeitos secundários).
Ao terminar a prolectora aportou-se sobre a importância do acompanhamento psicológico aos pacientes com gripe A.
Organização: Departamento de Psicologia – UOR
Comissão científica: Mestre Liliana Pena
Psicólogo Clínico Nvunda Tonet
*Licenciado em Psicologia Clínica. Mestrando em Novas Tecnologias aplicadas em Educação pelo Instituto Universitário de Posgrado (Madrid). Psicólogo Clinico no Hospital Psiquiátrico de Luanda. Docente na Universidade Óscar Ribas
Edição de 24 de Outubro de 2009