Lisboa - O Chefe de estado angolano homenageou, no passado dia 4 de Abril, em Luanda, o reformado agente  da secreta   António Carlos Jorge «Cajó» com a Ordem do Mérito Militar, 2.º Grau. O Assunto tem merecido indignação uma vez que o homenageado é um antigo oficial da DISA citado em vários livros e testemunhos como um dos celebres executores dos massacres do 27 de maio de 1977.

Fonte: Club-k.net

De acordo com registros, António Carlos Jorge, contava 28 anos de idade quando aconteceu o evento de “27 de maio de 1977”, em que duas facções do MPLA, se digladiaram, em Angola. Em quase todos os livros ou publicações disponíveis, o seu nome aparece em relatos menos bom associando a sua imagem a actos de execução. A falecida investigadora Dalila Cabrita, autora do livro Purga em Angola, descreveu lhe como integrante do grupo que interrogou e executou Nito Alves, ao lado do antigo ministro da Defesa, Iko Carreira.

 

Nas condenações desta semana, João Lourenço condecorou os que executaram como também as suas vitimas vitimas. Condecorou António Carlos Jorge e também o malogrado major Alves Baptista “Nito Alves”.

 

O Jornalista e jurista William Tonet que foi uma das vitimas do “27 de Maio” manifesta-se indignado com a condecoração a António Carlos Jorge, que por sinal foi um dos homens que foi seu algoz.

 

Tonet recorda: «Nunca esquecerei aquele inesquecível e triste dia em que o meu algoz, António Carlos Jorge “Cajó” (na foto), num sadismo indescritível, irrompe o local onde os presos estavam a ser espancados e a esvair-se em sangue, dando-me um forte golpe, com um ferro, na parte traseira da cabeça e, no final, manda-me limpar o salão da tortura (cerca de 30 m2), coberto de sangue, com a língua. Este era o masoquismo do DISA Cajó, pupilo de um não menos insensível chefe; Agostinho Neto, que sem razões, por obsessão ao poder, espancava e assassinava cidadãos inocentes, como faz qualquer GENOCIDA» Este assassino foi agora condecorado por João Lourenço com a «Ordem do Mérito Militar, 2.º Grau».


PARTICIPAÇÃO NA EXECUÇÃO DE NITO ALVES

No livro, Purga em Angola, a historiadora Dalila faz a reconstituição da execução de Nito Alves que contou com a presença de Carlos Jorge “Cajó”.

 

“A indicação para o seu fuzilamento [Nito Alves] terá sido do presidente da República, embora na Fortaleza, onde estava, a ordem tenha sido dada por Iko Carreira, Henrique Santos (Onambwé) e Carlos Jorge. Nito não quis que lhe tapassem os olhos, pois queria ver os que o iam matar. O corpo foi varado por umas três dezenas de balas. E um dos chefes ainda lhe foi dar o tiro de misericórdia. O seu corpo foi atirado ao mar, com um peso”, lê-se na publicação.

 

“Carlos Jorge, Pitoco e Eduardo Veloso chicoteia-no [a Costa Martins], batem-lhe com um pau com espigão de ferro, massacram-lhe as costas com correias de uma ventoinha de camião. Ao chicote chamavam Marx e, ao espigão, Lenine. Uma das vezes puseram-no numa sala, junto a uma máquina de choques eléctricos. Ainda cheirava a carne queimada”, conforme descreve Dalila na sua obra.

 

José Reis, um outro sobrevivente, deu a DW, há alguns anos o seu testemunho envolvendo o sujeito da historia: “Divagava eu pela noite, o quanto me era permitido, quando a redação foi bruscamente interrompida. O comando foi invadido por um dos mais temidos carrascos, Carlos Jorge, seguido de uma outra não menos sinistra personagem, figura escanzelada e algo corcovada, de cognome “Cansado”.

 

“Ficamos no “corredor da morte”. Aí, sob o tenebroso olhar de Carlos Jorge, fui ameaçado de morte por um agente pidesco da DISA chamado Inácio. Éramos 44 e sobramos 22”, conta José Fuso, sobrevivente, a DW.

 

“No dia seguinte (de 27 de Maio de 1977), as 19.00h, o responsável do cemitério da Mulemba (cemitério 14) esta a jantar com a família quando aparece um telefonema estranho”.

 

“O seu chefe de repartição Ordena-lhe que volte ao cemitério e aguarde. O cacimbo ensopa-lhe a roupa quando, de madrugada, param no portão dez carrinhas celulares. Carlos Jorge e Nelson Pinheiro (Pitoco), elementos da DISA, chefiam a expedição que estaciona junto a uma vala comum de 200 metros. Mal os prisioneiros se apeiam, soam rajadas das Kalachinov.”

 

“Alguns ainda têm tempo de gritar: Salvem-me que eu não fiz nada. Pitoco, chefe do pelotão de fuzilamento, atende rápido ao apelo das vítimas: Esse é perigoso, fica para mim. Um dos coveiros aplana a terra da vala com um tractor. Ainda se ouvem gemidos. O chefe do cemitério está aterrorizado e Pitoco avisa-o: Em Angola não pode haver uma contra-revolução, por isso, se falares, vais fazer companhia a estes”, lê-se no livro “Holocausto em Angola”, de Américo Cardoso Botelho, um engenheiro de profissão falecido em 2010, e que viveu três anos nas prisões da DISA, em Angola.