Luanda - O basquete deu ao adolescente angolano Camboma um sentimento de crença, foco e, mais importante, o sonho de um futuro no esporte. Como parte do “Playing Fields”, uma nova série original do Olympics.com, ele compartilha sua jornada de superação e porque está animado com o caminho à frente.
6 min

*Chloe Merrell
Fonte: Olympics

Para Manuel Camboma, 16 anos, nada se compara ao basquete.

O som inconfundível que os tênis fazem quando rangem no piso da quadra. A forma como a bola bate na quadra quando é jogada no chão e aquele balanço satisfatório da rede quando uma cesta é marcada.

Conversando com o Olympics.com como parte do ‘Playing Fields’, uma nova série original, disponível gratuitamente no Olympics.com, o adolescente angolano diz todas as coisas do esporte que ama e que mudou rapidamente sua vida.

Mas há uma coisa que ele diz que se destaca mais do que tudo: “O vínculo. O amor”.


Encontrando começos difíceis

Crescendo em um país que ama o futebol, Camboma afirma que se comprometer com seu sonho no basquete não foi uma escolha óbvia. “O sonho da maioria das crianças angolanas é tornar-se um grande jogador de futebol”, explica.

Enquanto seus colegas imaginavam se tornar o próximo artilheiro, Camboma, aos 13 anos, fazia sua própria descoberta.

Na época já muito maior do que qualquer um em sua idade, e provocado por isso, ele encontrou seu lar na quadra dura praticando basquete. E mesmo quando o mundo começou a parecer que jogava contra ele, nunca parou de praticar.

“Foi difícil porque não tinha ninguém para me motivar no começo”, diz Camboma, olhando para trás.

Primeiro, havia o ginásio da escola.

“As condições eram terríveis. Uma tabela era maior que a outra. Um aro estava torto, o outro um pouco melhor. O terreno era irregular: um lado era menor, o outro escorregadio”.

Então havia sua família. Vivendo em extrema pobreza, eles desaprovavam suas ambições, acreditando que o basquete não poderia lhe oferecer nada substancial. “Não tive o apoio dos meus pais e esse é o tipo de coisa que precisamos para ter um dia melhor”, reflete.

Porém, em vez de se deixar intimidar pelos desafios lançados, Camboma diz que as dificuldades iniciais que encontrou apenas o deixaram com mais fome de sucesso.


Uma grande descoberta no basquete

Quando chegar ‘o mais longe possível” começou a parecer improvável, Camboma continuou comprometido com seu sonho no basquete, impulsionado pela ideia de um futuro onde pudesse jogar livremente e com o melhor de suas habilidades

Então, em um dia inesperado, quando praticava em uma quadra ao ar livre com seu irmão, a resiliência de Camboma foi recompensada.

Do lado de fora, observando os dois garotos jogarem, estava Casseca Santana, gerente do Petro Luanda, que ficou impressionado com o talento bruto a sua frente. Ele decidiu abordar a dupla:

“Depois do treino, ele veio até nós e disse: ‘Pelo que vi jogar, tem um grande potencial’”, conta o angolano relembrando suas palavras. “Então nós fizemos um acordo. Começaríamos a treinar todos os dias para explorar o que havia dentro de mim: o meu potencial oculto”.

Pensando naquele momento, mesmo agora Camboma ainda sente um propósito imenso. Até então, diz ele, ninguém o havia notado ou imaginado do que um dia poderia ser capaz.

“O que despertou em mim foi o quão especial eu me senti naquele momento. Ninguém jamais tentou me tornar um grande jogador. Ninguém havia tentado isso. O técnico Casseca foi o único que acreditou em mim”.


Agora integrante do clube de basquete Petro Atlético de Luanda, uma das equipes de maior sucesso em Angola, Camboma avança a passos largos rumo aos seus objetivos futuros.

Com apenas 16 anos, ele já tem mais de dois metros de altura e está rapidamente se tornando um dos melhores jogadores do país, disputando torneios bem acima de sua faixa etária. As pessoas ao seu redor percebem seu potencial, e ele também:

“Quero chegar ao mais alto nível no basquete: ganhar todos os prêmios possíveis que o basquete tem a oferecer”, diz Camboma com um sorriso ao ser questionado sobre o que espera conquistar um dia.

Poucos negariam que tal prêmio no basquete seria uma medalha de ouro Olímpica e, para Camboma, este desejo está no topo de sua lista.

“Será uma honra representar Angola na maior competição esportiva em termos de basquete, que são os Jogos Olímpicos”, afirma o adolescente, falando com segurança.

Seria uma grande felicidade, uma honra representar o país em uma das melhores competições que tem países de todos os continentes”.

Admirador do três vezes campeão Olímpico Kevin Durant por seu estilo “único” na principal liga de basquete dos Estados Unidos, a NBA, também é um destino que Camboma tem em mente.

Apesar de já ter tido outros angolanos na NBA, o jovem ambicioso já tem em vista os recordes da liga. E, assim como nos Jogos Olímpicos, chegar aos Estados Unidos não é uma questão de se, mas de quando:

“O que mais me impressiona na NBA é a capacidade física dos jogadores. Eles são muito atléticos por lá. Têm um ótimo controle de bola. São grandes artilheiros, grandes passadores. A estrutura também é diferente, admiro muito”.

“Quando eu entrar na liga [NBA], será uma sensação inexplicável porque é uma honra estar na maior liga de basquete do mundo. Estou trabalhando duro todos os dias para alcançar meu objetivo; será uma honra”.


Apesar de todas as esperanças que vêm com a promessa que Camboma já mostra, o jovem angolano nunca perde de vista porque o basquete significa tanto para ele.

O “vínculo” que ele ama fica claro quando fala sobre as qualidades de vida que o basquete já lhe ensinou:

“O basquete me ensina algo novo todos os dias. Isso nos permite conhecer muitas pessoas e nos tornar amigos”.

“O que aprendi com o basquete e que posso aplicar em outras áreas da minha vida é ser amigo dos outros; amar o próximo”.

“Um bom jogador de basquete deve ter as seguintes habilidades: ser inteligente, saber ser um jogador de equipe, ser um bom defensor, um bom jogador ofensivo e um bom companheiro de equipe – dentro e fora da quadra”.

Se a trajetória esportiva de Camboma até hoje foi uma história de crença e superação, então, como um verdadeiro jogador de basquete, ele sabe que mesmo nos momentos em que se sentir sozinho e contra o mundo, é conectando-se com os outros e mantendo-se comprometido com o time que terá sucesso em seu futuro.