Luanda - O Parlamento Pan-Africano realizou um seminário nesta segunda e terça-feira (22 à 23 de Maio) em Midrand, Joanesburgo, Africa do Sul, sobre a aceleração da implementação da área de livre comércio continental africana.

Fonte: Canal Africa/HoldOnAngola

Para abordar este assunto a partir da capital sul-africana, Pretoria, foi convidado José Gama, analista politico angolano.


Canal África: Que comentário faz desta questão do acordo da zona de comércio livre no continente africano, a ser debatido nos próximos dois dias no Parlamento Pan-Africano?

José Gama: Bem, entendemos que esta é uma iniciativa que deve ser adotada por todos - já está no papel há 2 anos, deveria ter seguido, seja no sentido de criar um bloco económico regional, formado por vários países daqui da África, com o objectivo de reduzir ou eliminar as taxas alfandegárias entre os países membros desta organização. E o objectivo principal é estimular o comércio entre os seus participantes, mas sabemos que há pouca trocas comerciais entre os países africanos, que representa cerca de 16%, e o objectivo que este bloco regional se propôs é que, assim que estiver operacional, aumente as trocas comerciais em 60%, estamos a falar de um bloco destinado a ser o maior do mundo, porque vamos ter um mercado, com cerca de 1,2 mil milhões de habitantes, comparando-o com outros, como o Mercosul, que tem 284 milhões, a União Europeia que tem cerca de 447 milhões e a nossa tem 1,2 mil milhões.


Daí isso é algo que vai incentivar o mesmo comércio no continente e como sabemos, o comércio entre os países africanos é quase nulo porque muitos países membros da União Africana, tem como parceiros externos países de outras regiões e eles se sentem mais confortáveis ​​com isso. Por exemplo, África do Sul, importa o seu petróleo da Arábia Saudita e com a implementação desta zona de comércio livre, pode negociar com Angola para lá obter o seu petróleo bruto.


Assim, entendemos que este é um projeto que deve começar agora e esperamos que 2023 seja realmente o ponto de partida, já que se pretendia começar em 2022.

 

Canal África: Na sua opinião, foram criadas todas as condições para livre comércio continental africano?


José Gama: É um desafio, que no futuro também passará pela implementação de uma moeda única, porque a África ainda tem problemas burocráticos, vão tentar se adaptar aos costumes de vários países africanos, mas acho que isso vai acontecer e também poderemos ter um passaporte comum.

Nós já temos aqui a União Africana, que é uma unidade multilateral e da qual vários países do nosso continente são membros, já temos vários blocos que já operam nesse formato, acho que as condições estão criadas à medida que esse bloco económico vai se abrindo e se constituindo.

 

Canal África: Dada a importância deste acordo, o que estará por de trás da morosidade da sua implementação?


José Gama: De certa forma, a ratificação era esperada por alguns países, era esperada pelo Botsuana, mas acho que já foi feita, e também por países como Madagascar. Isto vai atrasar o processo, porque a ideia é que todos ratifiquem, todos escrevam o documento, e é uma iniciativa da qual já fazem parte 43 países.

Portanto, a demora deveu-se provavelmente a problemas burocráticos por parte dos promotores, mas aguardo com expectactiva a reunião que se vai realizar agora, que se prolongará até Junho do próximo mês, reunindo os deputados da União Africana e alguns de Angola para acelerar o processo.


Canal África: O Parlamento Africano tem agenda para debater a situação de segurança e paz no continente, no âmbito das celebrações do Dia de África que se assinala propriamente no dia 25. Que comentário faz deste assunto?

José Gama: Bem, a União Africana tem como um de seus objectivos a promoção da paz e estabilidade no continente.

Um conflito regional acaba afetando todos os países, principalmente os vizinhos, e o Sudão passou a ser uma preocupação por causa dos refugiados que esse conflito começa a produzir. E quando falamos de refugiados, isso implica orçamentos, ajuda humanitária, que deve ser redobrada.

Todavia, o foco agora é a situação do Sudão, porque existe também uma iniciativa paralela dos Estados Unidos, no sentido de intervir para que a paz se verifique também nesta região.

No entanto, pensamos que a União Africana deve e não pode parar, deve continuar a fazer mais para tentar parar e trazer as partes em conflito para a mesa do acordo porque no final é o povo que sofre e os países vizinhos são afectados, concluiu.