Luanda - O diretor financeiro do grupo angolano Carrinho considerou hoje uma “falsa questão” o tema do monopólio, que várias vezes políticos da oposição e membros da sociedade civil associam a esta empresa.

Fonte: Lusa

Em declarações à agência Lusa, Samuel Candungo reagiu às críticas feitas hoje pelo empresário angolano Fernando Teles, sobre a existência de uma concorrência desleal e importação desenfreada de produtos, que este disse estar a prejudicar os produtores nacionais. Fernando Teles, que falava durante a sessão de apresentação do Estudo Banca em Análise 2022, da Deloitte Angola, chegou a citar várias vezes a Carrinho, para exemplificar a situação.

“O estrangulamento está na concorrência desleal, criou-se aqui em Angola Carrinho e não só, que toda a gente sabe que tem o monopólio e os outros agricultores não conseguem funcionar. Temos que nos ajudar uns aos outros.

A diversificação da economia está-se a falar todos os dias, nós estamos disponíveis para falar com as pessoas, para mostrarmos o que estamos a fazer”, disse Fernando Teles. Em resposta, Samuel Candungo disse que a empresa não pode deixar de fazer o seu negócio com medo do monopólio. "Isso não é meu problema. O monopólio nunca é problema de uma entidade micro, nós temos uma visão de negócio e concebemos o nosso negócio olhando para os nossos propósitos”, referiu.

Segundo Samuel Candungo, a Carrinho está na indústria, desenvolve um programa específico de fomento para originar as suas matérias-primas, e, “se os outros fazem ou não fazem isso, não é problema” da empresa.

O responsável negou que a Reserva Estratégica Alimentar (REA) tenha importado milho, como alegou o empresário Fernando Teles, e “a documentação pode comprovar”. “Adquiriu aos empresários nacionais, continua a adquirir, a Carrinho como industrial, transformadora da farinha de milho, da fuba, esse ano, por causa desse programa, não vai importar nem mais bago de milho.

Está a importar o trigo, o arroz, outros produtos, mas não o milho. Portanto, a informação prestada não é correta”, disse. Relativamente à compra deste produto, Samuel Candundo disse que a REA tinha que ter um subsídio, mas que não está disponível.

“A Carrinho não pode tirar do seu fluxo de caixa para ir ao encontro. Isso é uma responsabilidade do Governo, a reserva é um problema do Governo, não é da Carrinho”, frisou. De acordo com o diretor financeiro da Carrinho, o quilograma de milho está a ser comprado a 130 kwanzas (0,17 euros) aos produtores individuais e aos de grande escala ao valor de 180 kwanzas (0,24 euros) e “a diferença tem que ser coberta pelo Estado”.

“Para nós alinharmos com aquilo que é a tonelagem nos mercados internacionais. Mas isso a empresa não pode fazer sozinha (...), por isso o Estado entrou com a intenção de estimular a produção nacional. Agora, nem sempre, tendo em conta as disponibilidades financeiras do próprio Estado, esse dinheiro está disponível. Todos sabemos que isto não é de uma empresa, nós só operacionalizamos a reserva, nós não disponibilizamos os recursos para a reserva, a reserva é tutelada pelo Entreposto Aduaneiro de Angola e pelo Ministério da Indústria e Comércio”, destacou.

Samuel Candundo alegou também problemas de infraestruturas, nomeadamente estradas, avançando que a empresa tem por escoar nesta altura mais de 50 mil toneladas de milho. O diretor financeiro disse que há produção nacional, mas ainda insuficiente para atender às necessidades do país, havendo suficiência de milho para as necessidades de transformação da Carrinho, mas “para o país ainda é um grande desafio”.

“Nós não temos capacidade no arroz, no trigo. Este não é um processo que vá resolver-se num horizonte de dois, três anos, é um processo a longo prazo com ações, políticas, bem coordenadas, no sentido de apoiar a produção nacional”, observou. “Todas essas indicações de que a Carrinho é favorecida, não é verdade.

A Carrinho tem uma visão que vem a implementar há alguns anos, as pessoas pensam que é desde 2019, não é verdade”, disse Samuel Candungo, rejeitando ligações ao Presidente angolano, João Lourenço, e atribuindo maior visibilidade da empresa nos últimos anos a uma "visão de 2012 que a Carrinho está a implementar”. “A Deloitte acompanha a Carrinho desde 2004.

A Carrinho não é uma empresa que nasceu em 2019, a Carrinho vai fazer agora 30 anos. Faltou visibilidade da empresa. A Carrinho em 2004 faturou 40 milhões de dólares, tem cozinhas de catering, servindo empresas como a Odebrecht, Camargo Correia e outras, desde 2004”, afirmou.