Luanda - O potencial da África, em termos humano, cultural, territorial, marítimo, hídrico, solar, mineral, agropecuária e tantos outros recursos naturais, é amplamente conhecido por toda gente. A África está situada no centro do planeta terra, entre os oceanos atlântico e índico. Ela ocupa o melhor espaço geográfico do mundo, em torno do qual passam as vias marítimas, e no qual, pode erguer uma rede de aeroportos, de estradas e de ferrovias continentais – de Cairo para a Cidade de Cabo – na África do Sul.
Fonte: Club-k.net
Convinha observar que, os recursos naturais, sobretudo os mineiros estratégicos, são enormes e abundantes. Vejamos que, África possui uma população jovem, que cresce, e capaz de conquistar facilmente as tecnologias mais avançadas, com que ela poderia tornar-se dono de seu próprio destino, com a capacidade de competir-se em pé de igualdade com os outros povos do mundo.
O mais caricato é de que, este potencial humano, que se reveste na juventude africana, está abandonado a sua sorte, sem eira nem beira, a emigrar-se em massa, atravessando o deserto de Sahara, afogando-se todos os dias no mar mediterrâneo, com destino à Europa, em busca de sobrevivência e de melhores condições de vida. Tudo isso está a acontecer em total indiferença dos governos africanos, sem vontade política e sem competência governativa.
Neste âmbito, sem prestasse atenção a este aspecto, África estaria em condições de se colocar no ápice da pirâmide, usando os seus recursos estratégicos como instrumento do poder político e como a alavanca do desenvolvimento económico, científico e tecnológico. Se houvesse a vontade política, em pouco tempo, África teria capacidade de lançar-se no Universo e na tecnologia espacial por via da inteligência artificial, que está dentro de alcance da juventude africana. Mas isso pode só ocorrer se existir o patriotismo, a visão e a vontade politica de investir fortemente na educação e na juventude.
Infelizmente, as elites políticas e intelectuais africanas não têm a visão de longa alcance, a ambição política, o espirito de realização, e o patriotismo, que deve buscar a independência económica e a tecnologia de ponta. Contrariamente, África perdeu-se na mesquinhez, na corrupção, na mediocridade e na subserviência. Lembro-me, uma vez, na época dos fundadores do Pan-Africanismo, na pessoa do Kwame Nkrumah, do Gamal Abdel Nasser e do Patrice Lumumba, África vibrava, era temida, era respeitada, e tinha a «dignidade» e uma «visão realista» do Mundo.
Percebeu-se que, tanto os Ocidentais quanto os Asiáticos, todos eram a farinha do mesmo saco, com ambições imperialistas de dominar, colonizar e saquear as riquezas (abundantes) africanas. É na base disso que surgiu (em 1961) o “Movimento dos Não Alinhados,” com propósito de assumir uma «postura equidistante» entre as Potências Ocidentais e as Potências Asiáticas. Na altura, percebeu-se que, o «imperialismo» não estava somente no Ocidente, mas sim, na Ásia. Este é o contexto real que se viveu na década 60, no calor das lutas pelas independências dos países africanos, asiáticos e latino americanos.
Este fenómeno da presença do imperialismo ocidental e do imperialismo asiático, se olhar atentamente ao Continente Africano, verás que, ele é mais evidente hoje do que na
década 60 quando a China e a Rússia não tinham a presença significativa em África. Pois que, na altura, poucos sabiam das suas características expansionistas nos domínios políticos, militares e económicos. Hoje, assistimos a uma disputa renhida e violenta entre os EUA, União Europeia, Rússia e a China pela 2a Partilha da África, conforme tivera acontecido na Conferência de Berlim entre 1884 e 1885.
A título de exemplo, a Rússia tem vindo a afirmar-se no Sahel através da intervenção militar dos mercenários do Grupo Wagner. Os Golpes de Estados na Zona do Sahel enquadram-se na Estratégia Global do Kremlin. Pois, a ocupação da Zona do Sahel vai permitir avançar em direcçao Sul de Sahara, com a facilidade de tomar conta da África Central e da África Austral onde a Rússia já tem uma forte presença política e militar nos Camarões, na República Centro Africana e na RDC. Este último, por exemplo, faz fronteiras com nove (9) Países Africanos, que ligam o Sul e o Norte de Sahara.
Note-se que, a Rússia reformulou a sua Estratégia, de em vez de partir de Angola (como foi na guerra fria) para a República Democrática Congo, agora está a partir do Sahel em direcçao ao Sul. A tomada da República Democrático do Congo, que é o objectivo estratégico da Rússia, vai culminar com a tomada de toda Região da África Subsariana. Aliás, a Rússia já está implantada na fronteira Norte da RDC, através do Sudão do Sul e da República Centro Africana.
Por outro lado, os «aliados históricos» da Rússia na África Austral estão a fingirem-se como se fossem inocentes. Enquanto na prática, eles estão em sintonia com o Kremlin, e fazem parte desta Estratégia. Apenas os incautos e os ingénuos ficarão adormecidos por essas manobras dilatórias, bem ocultas. Se trata de facto de uma bola de neve que está a enrolar-se do Sahel para o hemisfério Sul da África.
Quanto à China, ela é mais discreta e subtil, avançando silenciosamente nos países africanos por via dos investimentos e dos créditos bancários. A China está empenhada na ocupação dos sectores vitais e estratégicos das economias africanas. Muitos países africanos, dentre os quais, Angola, já estão amarrados com dívidas insustentáveis, sem capacidade de amortizá-las a curto ou médio prazos. O mais grave é de que, o volume das dívidas não deixa de crescer, e deste modo, entra-se na lógica do «circulo vicioso», de buscar mais dívidas para pagar outras dívidas, agravando assim os juros de mora e o volume das despesas com os serviços das dívidas públicas.
Nessas circunstâncias, por natureza, a China impõe as regras do jogo, que torna os Estados Africanos em «Reféns» do Beijing. Como sabemos, onde estiver os Chineses, pilham tudo, até levam plantas, arreia, cementes e tudo que estiver ao seu alcance; agem com arrogância e prepotência; não precisam da autorização de ninguém; colocam-se acima dos Estados anfitrião; e não respeitam a soberania dos países acolhedores. Esta realidade inequívoca é do conhecimento geral. Como sabemos, há muita máfia, pratica- se o trabalho infantil, a escravatura branca e o contrabando.
Portanto, é uma ilusão e ridículo pensar que as potências asiáticas são a «tábua de salvação» da África. Dizia-me um Jurista, muito amigo meu, de que: “o leão não come as suas crias.” Fim de citação. Ora bem, nesta lógica, se um leão, que não come as suas crias, se por acaso, comer os seus próprios filhotes, o que poderá acontecer com as crias de outrem? Com este aforismo estou a referir-me à situação concreta da guerra mortífera da Ucrânia, movida pela Rússia contra o povo irmão, da mesma raça e dos mesmos grupos étnicos Eslavos. Então, se há esta “barbárie,” sem piedade, por parte da Rússia, como que este país será “benevolente” aos africanos negros, de etnias e de raças distintas dos Eslavos brancos? Isso cabe na cabeça de alguém de bom senso?
É preciso que a nossa juventude abre os olhos, desperte a vossa consciência e use as vossas faculdades da alma, para não cair numa cilada da utopia política, capaz de conduzir a África a uma nova colonização, que não será menos severa que a escravatura europeia. Deve-se meter a mão na consciência, de que, África deve assumir o seu próprio destino, aplicando o seu intelecto e o seu know-how, apoiando-se no seu próprio povo, para que se liberte do atraso, da pobreza e do subdesenvolvimento.
A África é vista como uma densa floresta, onde reina a lei da selva, em que, o mais forte ganha, e arranca com força o melhor pedaço da riqueza. Todos os imperialistas – Ocidentais e Asiáticos – têm os seus olhos postos em África, com os mesmos objectivos, de pilhar as riquezas, oprimir e dominar os africanos. Infelizmente, neste jogo de âmbito neocolonial, utilizarão sempre, como cavalos de troia, os regimes africanos corruptos, brutos e autoritários.
Eu tenho muitas reticências de que, os Golpes de Estados, bem como os Golpes Constitucionais, sejam as soluções mágicas para a África. Pois, a África já viveu uma época turbulenta de Golpes de Estados, manipulados pelas potências ocidentais. Hoje, estamos na mesma lógica, dos Golpes de Estados e dos Golpes Constitucionais manipulados pelas potências asiáticas, com fim de inviabilizar a ordem democrática nos países africanos.
Note-se que, os dois fenómenos, que acabo de referir acima, têm a mesma natureza e os mesmos ideais. Porque eles pugnam pelo poder discricionário, de carácter unipessoal, alcançado fora dos parâmetros da soberania popular, da constitucionalidade e da democraticidade. Acima de tudo, os Golpes de Estados e os Golpes Constitucionais não promovem o bem-estar social, o desenvolvimento sustentável, a estabilidade sociopolítica e a consolidação das instituições democráticas.
Pelo contrário, esses dois fenómenos visam unicamente a conquista e a manutenção do poder unipessoal, de um indivíduo, todo-poderoso. Ele não precisa da vontade do povo, porque o seu poder não passa pelo povo, não se destina ao povo, e não é decidido por povo.
Gostaria de salientar que, o imperialismo tem as mesmas características, tal como o fascismo da direita e o fascismo da esquerda, ambos têm os mesmos princípios e os mesmos objectivos. Por isso, a História Antiga da África ensina-nos que, ela foi invadida, dominada, escravizada e colonizada por europeus, por árabes e por asiáticos. Leiam bem a História, os factos estão lá, ninguém pode ocultá-los.
Por isso, ninguém vai fazer o favor aos africanos, se os próprios africanos não forem íntegros; não saber defender-se; se não pensar em si mesmos; e se não conquistar a independência económica e tecnológica. Ou seja, sem o domínio da tecnologia avançada, África não será capaz de industrializar e modernizar as suas economias. Sem isso, ela não será respeitada; não será capaz de ser livre e igual; não poderá libertar-se da dependência económica; nem será capaz de explorar as suas riquezas em prol dos seus povos.
A verdade é de que, o know-how e a tecnologia avançada nunca são entregues de graça, cair do Céu como Maná. Elas são uma conquista, que passa por meandros subtis e complexos. A China e a Rússia navegam no mercado internacional como submarinos em busca de tecnologias de pontas dos países ocidentais. Não é com discursos bonitos, progressistas ou revolucionários perante as potências asiáticas que nos permitirá ter acesso aos seus «circuitos» mais complexos da tecnologia de ponta e do know-how.
Estejais seguros de que, nas circunstâncias actuais da África, os seus minerais estratégicos continuarão a seguirem para os países industrializados da Ásia, da Europa, da América e do Médio Oriente.
Por isso, o dilema da África consiste no facto de que, enquanto as elites políticas e intelectuais africanas não forem ousadas, honestas, visionárias, democratas e realistas, sem ter a vontade política de capacitar o seu povo, nos domínios económicos, tecnológicos e know-how, não será possível alcançar o SONHO AFRICANO, de ser livre, igual, feliz, prospero, digno e respeitado, com capacidade de tomar livremente as decisões importantes em prol dos povos africanos. Despertai África!
Luanda, 03 de Agosto de 2023.