Luanda - Nos últimos anos, Angola tem passado por uma série de transformações políticas e sociais significativas, que ressalta à nossa vista um aspecto que tem permanecido lamentavelmente estático, a pobreza do debate político. Em vez de discussões profundas e construtivas, muitas vezes nos deparamos com discursos superficiais e polarizados que não fazem justiça às complexas questões que o país enfrenta.
Fonte: Club-k.net
O debate político é a espinha dorsal de qualquer democracia saudável e penso que é um facto latente e transversal em países desenvolvidos, pois deve ser um fórum onde os líderes políticos podem apresentar propostas inovadoras para resolver os desafios do país. Infelizmente, em Angola, o debate político frequentemente se reduz a disputas partidárias mesquinhas e trocas de acusações. Além de deixar o público mal informado, também desencoraja a participação cívica - e aqui recai uma nota negativa para os nossos órgãos de comunicação social.
Para mudar essa realidade, é fundamental construir debates políticos mais profundos, inclusivos, plurais e abrangentes aos diversos temas que afetam o nosso país. Os líderes políticos devem ser incentivados a apresentar propostas concretas e soluções inovadoras para problemas prementes, como a pobreza, a corrupção e a desigualdade. Aqui me seguro em autores da ciência política, como Francis Fukuyama, que discute a importância das instituições sólidas para o desenvolvimento, o que poderá ser um passo na direção certa.
O mundo está passar por uma revolução tecnológica, e Angola não deve ficar para trás. A inclusão de temas como inteligência artificial (IA), ecossistemas digitais, criptomoedas e robótica nos debates políticos é crucial para o desenvolvimento do país. A IA por exemplo, tem o potencial de impulsionar a economia, melhorar os serviços públicos e criar oportunidades de emprego. No entanto, é vital que essas discussões se concentrem não apenas nos benefícios, mas também nas implicações éticas e sociais desses temas.
Além disso, Angola deve alinhar o seu debate político com as Metas de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidas pela ONU. A promoção da educação de qualidade, a igualdade de gênero, o acesso à saúde e a sustentabilidade ambiental, devem ser prioridades centrais nas agendas políticas. Ao fazê-lo, o país não só melhora a qualidade de vida de seus cidadãos, mas também se alinha com as tendências globais de desenvolvimento.
Olhando para o futuro, Angola enfrenta uma série de desafios globais que não podem ser ignorados, entre os quais as mudanças climáticas, a segurança cibernética e a integração econômica regional são apenas alguns exemplos. O debate político deve ser o espaço onde essas questões são discutidas e abordadas de maneira séria e informada. Autores como Samuel P. Huntington, com o seu trabalho sobre a ordem política em mudança, pode oferecer insights valiosos sobre como os países podem se adaptar a um mundo em constante evolução. Os nossos políticos devem aproveitar esses insights para moldar suas políticas e se preparar para os desafios do futuro.
Em síntese, a pobreza do debate político em Angola é uma preocupação que não pode ser subestimada. Para construir um futuro mais próspero e inclusivo, o país deve promover debates políticos profundos, incluir temas emergentes não só para fortalecer a nossa democracia, mas também enfrentar com sucesso os desafios globais que se apresentam no século XXI.
É hora de abandonar as farpas promovidas no debate das TPAs e TV Zimbo e transformar o discurso político em uma força motriz para o progresso e a mudança.
Emerson Sousa.
Analista político.