Luanda - O analista angolano para questões internacionais Osvaldo Mboco considerou nesta terça-feira a visita do secretário de Defesa dos Estados Unidos de uma demonstração clara da importância geopolítica de Angola, numa altura em que África enfrenta vários desafios ligados à segurança.

Fonte: Lusa

Osvaldo Mboco teceu estas considerações, em declarações à agência Lusa, no dia em que chega a Angola o secretário de Defesa dos Estados Unidos da América (EUA), Lloyd Austin, no âmbito de um périplo que está a efetuar no continente africano.

“O facto de ter elegido Angola como um dos países a ser visitado demonstra claramente a importância geopolítica de Angola, no que concerne às questões ligadas aos interesses de defesa americana a nível do sistema internacional, com particular realce no continente africano”, referiu Osvaldo Mboco.

O também docente universitário realçou que a visita decorre numa altura em que o continente africano enfrenta vários desafios ligados à segurança, nomeadamente golpes de Estado, terrorismo, conflitos e outras questões que põem em causa a soberania dos Estados “e também põem em causa os interesses económicos, políticos e, até certo ponto, militar que os americanos têm a nível do continente africano”.

Segundo Osvaldo Mboco, esta visita poderá estreitar cada vez mais as relações entre os dois países no que se refere às questões ligadas à defesa e segurança, lembrando que Angola é um país de matriz pacifista e que ancora toda sua atuação no direito internacional e normativos das várias organizações em que se encontra inserido.

“Angola é um país estável do ponto de vista político e militar, tem um dos exércitos mais organizados e equipados no continente africano, e nos últimos tempos o Presidente João Lourenço é um dos principais articulistas do continente africano nas matérias ligadas à defesa e segurança e gestão e resolução de conflitos”, disse, realçando a participação do chefe de Estado angolano na gestão e resolução de conflitos na região dos Grandes Lagos, na Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

Tudo isto, prosseguiu o também escritor, torna Angola um ponto importante “no mapa daquilo que são os interesses nos EUA“.

De acordo com o analista, é normal que Angola se posicione no sistema internacional e defina as suas alianças circunstanciais e permanentes, salientando que esta visita do secretário de Defesa americano “não quer dizer que põe em causa aquilo que são as relações tradicionais que Angola tem com a Rússia e com a China“.

Osvaldo Mboco admitiu que a aproximação entre o Estado angolano e o americano “claramente é uma demonstração de um certo afastamento ou deslocação da Rússia nas questões ligadas à defesa e segurança”, o que “pode preocupar os interesses russos em Angola”, mas não põe em causa a relação entre os dois países.

“Há espaço para que exista articulação, nos mais variados setores, com os principais atores”, afirmou o especialista, mencionando que o novo contexto do sistema internacional tem estado a colocar à prova o Presidente angolano, “do ponto de vista da sua articulação com as grandes potências”, que tem optado por “uma diplomacia de jogo de cintura“, para “não criar nenhum irritante político, económico e até militar com as grandes potencias mundiais”, nomeadamente a Rússia e a China.

Lloyd Austin iniciou domingo um périplo pelo continente africano, que inclui uma visita a Angola, estando prevista, para quarta-feira, uma intervenção sobre os novos ângulos da política do governo americano para África, com o tema “O Poder da Parceria”.