Luanda - A complexidade da cena política em Angola, marcada por uma notável pluralidade ideológica, exige uma análise aprofundada para compreender o impacto desta diversidade nos seus principais partidos políticos. A UNITA e o MPLA destacam-se neste contexto, cada um enfrentando desafios e oportunidades distintos na sua evolução ideológica e na sua relação com o eleitorado, particularmente o mais jovem.

Fonte: Club-k.net

A UNITA tem-se destacado por uma prática de pluralidade democrática interna, evidenciada pela realização regular de eleições internas com múltiplas candidaturas. Este processo não apenas fortalece a legitimidade da sua liderança mas também serve como um testemunho do seu compromisso com princípios democráticos.

 

Além disso, a convivência de diversas correntes ideológicas dentro do partido - liberais, sociais-democratas, progressistas, conservadores e cristãos-democratas - contribui para um debate interno mais rico e um posicionamento público diversificado, que dialoga eficazmente com variados segmentos da sociedade angolana.

 

O MPLA, por outro lado, enfrenta desafios significativos na definição da sua identidade ideológica e na conquista do eleitorado jovem. A sua tradição como partido de centro-esquerda ou de orientação socialista progressista parece não ser suficiente para atrair militantes mais jovens, que buscam propostas mais inovadoras e alinhadas com os desafios contemporâneos.

 

A dificuldade do MPLA em se apresentar como uma opção política apetecível para os millennials evidencia a necessidade de uma renovação ideológica e programática que responda às aspirações e preocupações dessa faixa etária, cada vez mais distante dos paradigmas tradicionais.

 

A convergência de ideologias políticas de forma democrática, apresenta múltiplas vantagens para os partidos (os de massas essencialmente). Primeiramente, fomenta um ambiente de debate aberto e construtivo, essencial para o desenvolvimento de políticas públicas inclusivas e eficazes. Além disso, a pluralidade ideológica dentro de um partido promove a resiliência e a adaptabilidade, permitindo uma melhor resposta às mudanças sociais e económicas. Essa dinâmica também contribui para a legitimidade e a transparência, fortalecendo a confiança do eleitorado nas instituições democráticas.

 

Ambos os partidos, mas especialmente o MPLA, enfrentam a necessidade imperativa de investir nas suas bases e de reformular o seu discurso político para abordar as ideias e os desafios contemporâneos de forma mais eficaz. E este investimento, passa não só pela formação política e cívica das suas juventudes, mas também pela abertura a novas ideias e pela adaptação das suas plataformas políticas às realidades do século XXI. Questões como o desemprego, a educação, o acesso à saúde, as mudanças climáticas, inteligência artificial, a transparência governamental e a digitalização da economia são cruciais para o eleitorado jovem e devem ser prioritárias nas agendas políticas.

 

O caminho para a renovação política em Angola passa, incontestavelmente, por uma maior abertura à pluralidade ideológica e pela adaptação dos partidos às exigências de um eleitorado cada vez mais informado e exigente. Enquanto a UNITA parece estar num caminho promissor (embora tenha menos meios financeiros) ao abraçar a diversidade interna e preparar lideranças alinhadas com visões progressistas, o MPLA enfrenta o desafio de se reinventar, não só para manter a sua relevância mas também para se tornar novamente atraente aos olhos dos jovens angolanos.

 

Esse investimento que a UNITA procura fazer, não só assegura uma renovação constante do seu quadro de dirigentes como também prepara líderes com uma "pureza ideológica" diferenciada, capazes de articular visões progressistas com as necessidades e aspirações da população. Mas essa estratégia poderá ser particularmente eficaz em sobrepor-se às lideranças do MPLA a médio e longo prazo, oferecendo alternativas políticas mais alinhadas com os anseios de mudança e desenvolvimento do país.

 

Num olhar singelo pelas gerações intermédias e mais novas destes dois partidos, conseguimos denotar que os Quadros do MPLA são maioritariamente outsider’s e/ou coptados da sociedade civil (Universidades, sector privado ou até de outros partidos e iniciativas políticas) - demonstrado uma dificuldade do próprio partido em renovar as suas direções com Quadros formados nas suas bases. No caso da UNITA, ainda conseguimos ver muitos jovens que além de pertencerem as suas bases de recrutamento político, facilmente observamos jovens com ligação ideológica, política e até mesmo familiar com o partido.

 

A capacidade de ambos os partidos de se adaptarem e responderem às dinâmicas sociais em constante mudança e às aspirações de um Angola mais democrático, inclusivo e próspero definirá o futuro político do país. Para se manter relevante, especialmente junto às novas gerações, é imperativo que ambos os partidos continuem a evoluir, reflectindo as dinâmicas sociais em constante mudança e as aspirações de um Angola mais democrático e plural.

Emerson Sousa.
Escritor e Analista político.