Luanda - O subdesenvolvimento de África pode ser atribuído a vários fatores, mas uma questão crucial é a falta de pensamento nas nossas operações. Para abordar isto, devemos priorizar incutir nos nossos filhos a capacidade de pensar matematicamente e estrategicamente. Isto envolve desenvolver a capacidade abstrata de compreender como os componentes de qualquer fenómeno estão interligados e de antecipar os efeitos quando um lado de uma equação é alterado.
Fonte: Club-k.net
A recente alteração da política de vistos na Namíbia serve como um excelente exemplo das consequências da tomada de decisões não estratégicas. A Namíbia, outrora louvada pela sua próspera indústria do turismo, implementou um requisito de visto para turistas ocidentais. Esta decisão foi alegadamente uma resposta a países como o Reino Unido que introduziram vistos para namibianos, devido a casos em que indivíduos exploraram o passaporte da Namíbia para procurar asilo político em países ocidentais antes de regressarem.
Embora os países ocidentais tenham respondido com os seus próprios requisitos de visto, uma abordagem mais prudente para a Namíbia teria sido abordar a questão específica do uso indevido do sistema de vistos, em vez de impor restrições gerais aos turistas ocidentais. Esta decisão, embora potencialmente satisfatória do ponto de vista político, pode ter um impacto significativamente negativo na indústria do turismo da Namíbia. Os líderes da indústria foram rápidos a expressar as suas preocupações, destacando os efeitos nefastos no seu setor.
Este cenário exemplifica a tomada de decisões que não tem em consideração as consequências. Salienta a necessidade de um pensamento mais estratégico na elaboração de políticas, equilibrando as motivações políticas com as realidades económicas e os interesses nacionais a longo prazo.
Situações semelhantes ocorreram noutros locais de África, ilustrando ainda mais a importância do pensamento estratégico. Em Kinshasa, na República Democrática do Congo, um mal-entendido levou à prisão de funcionários quenianos e à subsequente cessação dos voos da Kenya Airways. Esta decisão precipitada teve consequências de longo alcance: redução das opções de voo, diminuição da ocupação hoteleira e inconveniência geral. A situação só foi resolvida quando as autoridades superiores, reconhecendo as implicações mais vastas, intervieram para reverter a decisão.
Outro exemplo ocorreu entre o Quénia e a Tanzânia em Janeiro deste ano. A Tanzânia proibiu os voos da Kenya Airways, alegando tratamento injusto das companhias aéreas tanzanianas no Quénia. O impacto imediato foi uma queda na ocupação hoteleira na Tanzânia, uma vez que muitos turistas chegavam normalmente através da Kenya Airways. O caos resultante obrigou a Tanzânia a reverter rapidamente a sua decisão, revelando-a como um movimento emocional e politicamente motivado, e não como uma estratégia bem pensada.
Estes exemplos contrastam fortemente com a abordagem adoptada por países como Cabo Verde ou Maurícias. Nestes países, os visitantes são recebidos com satisfação à chegada, apesar dos controlos necessários. Estes países compreendem o valor económico que os turistas trazem e estruturaram as suas políticas em conformidade.
A Namíbia, com as suas diversas atracções, incluindo a vida selvagem, os desertos e as zonas costeiras, tem sido particularmente apelativa para os reformados europeus que procuram escapar ao inverno. Estes turistas contribuem significativamente para a economia local através de gastos directos, receitas fiscais, criação de emprego e complementando outros sectores económicos como a mineração. Ao impor novos requisitos de visto, a Namíbia corre o risco de perder estes benefícios.
Embora alguns possam argumentar que as nações devem ser movidas por princípios e não apenas pelo lucro, e que a Namíbia está a afirmar a sua autonomia, as consequências a longo prazo podem ser graves. A redução do turismo conduz frequentemente à perda de empregos, ao aumento da pobreza e à potencial degradação da coesão social.
Em conclusão, ao tomar tais decisões, é crucial considerar todos os impactos potenciais. Embora a afirmação da autonomia nacional possa ser satisfatória a curto prazo, os efeitos práticos na economia e nos meios de subsistência dos cidadãos devem ser cuidadosamente ponderados. A elaboração de políticas emocionais ou reaccionárias conduz frequentemente a consequências negativas não intencionais que podem superar quaisquer ganhos políticos a curto prazo.
Para que África progrida, temos de adoptar o pensamento estratégico a todos os níveis de tomada de decisão. Isto implica uma análise abrangente dos resultados potenciais, a consideração dos impactos a longo prazo e a vontade de dar prioridade ao desenvolvimento sustentável em detrimento dos ganhos políticos a curto prazo. Só através desta abordagem poderemos esperar libertar todo o potencial do nosso continente e garantir um futuro próspero para todos os seus cidadãos.